LICOR CASEIRO

Safira resolveu casar com Damiano. Em princípio, seus pais se mostraram contrários. O noivo enfrentava diversos processos criminais. Mas, como Damiano foi absolvido de algumas acusações, e acima de tudo estava o coração da filha, tiveram de aceitar o propósito.

Por sua vez, Rezingão, mano de Safira, preservou a contrariedade de maneira ostensiva. Ele ignorava a presença de Damiano que, em contrapartida, não se descuidava da impecável recíproca.

Ao passar do tempo, em respeito aos apelos de Safira, Rezingão e Damiano, a muito custo, evoluíram para o cumprimento formal.

Há pouco, para surpresa de todos, o débil relacionamento cedeu à definitiva harmonização dos espíritos.

No aniversário de Safira, quarta- feira passada, Damiano valeu-se do evento para conquistar a simpatia do cunhado. Ao término da festividade, ele proferiu discurso emotivo em favor da pacificação. Além disso, presenteou a Rezingão com um licor que fora preparado de maneira especial.

A convincente oratória afastou ressentimentos. Rezingão aceitou o brinde e se rendeu ao abraço esfuziante do cunhado.

Ao testemunhar o gesto, todos acreditaram na superação das diferenças. Entretanto, a suposta conciliação, já no dia seguinte, foi cerceada de modo brusco. Rezingão, sujeito até então disposto, adepto da boa pinga, veio a falecer subitamente.