Qual a marca do cigarro?

Estava sentado na beirada da calçada. Tinha seu olhar fixo em uma embalagem de cigarro amassada. O Sol ardia, só lhe viam a aba do boné, e seus pés no chinelo havaianas.

Ele olha ao sul da rua; vê Pai Tomás a três quarteirões; olha ao norte da rua, MalconX está a dois quarteirões de distância.

Retorna ao centro de seus pensamentos, ergue a cabeça, observa a casa da frente. Um homem, alto, fita-o através das grades do portão; esta ao lado de sua mãe, que ageita os ôculos.

Disfarça, volta a olhar a embalagem de cigarro. Ouve um estralo, como a um estouro; vem da rua de baixo; maritacas voam gritando no céu.

Ao sul da rua, vem agora um americano em cima de seu cavalo, ele é branco, seu cavanhaque preto. Grita palavras de ordem: " ... but you can not fool everione all the time".

Vira-se ao norte. É o professor. Em frente ao Mercado. Traz de baixo do braço um livro russo e dois livros de Fernando Sabino, " O Homem nu" e " O Grande Mentecapto". Uma criança de camiseta vermelha e bicicleta solta dois silvios alto ao passar do seu lado.

O Sol bate meio-dia queimando o asfalto, o ônibus para no ponto e parte rapidamente. A voz do padre, o som de uma TV, cheiro de café torrado, uma senhora que reza o Pai Nosso... seus pés estão encardidos e suados, levanta-se entra para dentro de sua casa.

Ao fechar o portão ainda se ouvia o mega falante de um auto, tocando um forró e anunciando, " alô, alô minha amiga meu amigo, está passando agora na porta de sua casa, o carro da batata, direto da Bahia...".