Furacão Edith

A chuva caía pesada na noite de Belize City, sexta-feira, 10 de setembro de 1971. Havíamos tido um alerta de furacão 24 h antes, mas ao atingir o Golfo de Honduras, o Edith havia baixado da Categoria 5 para 1, com rajadas de até 130 km/h. Era assustador, mas nem de longe a devastação que estávamos esperando depois da catástrofe que se abatera no dia anterior sobre Cape Gracias, na Nicarágua.

- O serviço de meteorologia declarou que houve cerca de 100 mortos na região de Cape Gracias - informei por telefone à George Flores, que deixara a cidade com a família na quinta-feira, rumo à relativa segurança de Miami.

- Se isso se confirmar, fiz bem em sair da cidade - retrucou ele.

- Mas aqui, apesar da chuva forte, as coisas parecem estar sob controle. O Edith enfraqueceu, provavelmente vai chegar ao México como uma tempestade tropical.

- Só lamento ter perdido as comemorações do Dia da Batalha de São Jorge Caye, e justamente quando iríamos aproveitar o fim de semana prolongado - comentou George.

- Não perdeu grande coisa - assegurei. - Com a chuva, a maior parte dos eventos ao ar livre foi cancelada.

- Então, vou aproveitar que já estou em Miami e só volto no domingo...

- Aproveite a estadia. Alguém tem que proteger Belize dos guatemaltecos... você sabe - provoquei.

George riu.

- Se a Guatemala nos atacar com esse tempo, melhor chamarem o Lord Rhaburn Combo e fazer um baile.

- Um baile é onde eu devia estar agora - retruquei. - Mas com essa chuva, não vou pôr o nariz para fora de casa.

- Alguém tem que nos proteger dos guatemaltecos - ironizou George. - Bom resto de feriado, Luis.

- Até a volta, George. Recomendações à Cedella e às crianças.

Desliguei o telefone e fui até a estante, onde guardava os meus vinis. E enquanto lá fora, na noite negra, a tempestade castigava os telhados de Belize City, os primeiros acordes do bolero "Entrega Total" soaram em minha sala.

Parecia uma justa homenagem à Edith, por nos ter poupado do pior.

- [12-07-2018]