O Fim... e Além.

S O L I D Ã O

Aquela foi a primeira e única vez em que me senti completamente sozinha no mundo.

Me lembro bem. Foi em um sonho.

É engraçado perceber que nos sonhos os sentimentos parecem mais fortes e significativos. Como se você os vivenciasse com todos as suas fibras e sua capacidade mental. Como se nada mais existisse, nem consciência ou razão. Apenas aquele sentimento, puro, lancinante.

Não havia mais ninguém no mundo inteiro, só eu. SÓ.

A sensação de solidão absoluta não era tão ruim. Na verdade, não era nem um pouco ruim.

O que senti era quase indescritível: uma euforia um pouco melancólica, uma liberdade imensa.

Era como se todos tivessem ido embora e deixado o mundo só para mim. O mundo me pertencia... era todo meu. SÓ meu.

Eu podia andar livremente, cantar livremente, chorar livremente.

Estar sozinha não era tão ruim quanto imaginava, afinal.

Mas como tudo no universo, aquele momento passou, e a euforia melancólica se transformou em desespero quando o chão começou a se desfazer sob meus pés, e tudo escureceu.

Com um medo aterrador, vi os últimos pedacinhos de solo se desfazendo em um abismo tão escuro quanto um buraco negro.

E assim, em um piscar de olhos, aquela escuridão deu lugar a um jardim exuberante de rosas pintadas com sangue.

Lá estava eu, diante de um juiz de pele putrefata que insistia em examinar meu coração.

Keila Fernandes
Enviado por Keila Fernandes em 02/01/2019
Código do texto: T6541252
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