Um resignificar
O lobo do meu cérebro, que ainda pensava com clareza, me atinou pra ficar alerta: era aquele, o momento! Não havia por ali mais nada além do descanso de uma enorme saudade... Acometeu-me uma dor gostosa no peito, quando senti-me no arco daquele abraço. Cerrei os cílios, segurei a respiração. Entre mim e eu mesma não havia mais nenhuma guerra interior. Aliás, perdera a batalha contra a minha lucidez...
E lá estava eu nas profundezas daquele olhar - escurecido - mais de prazer do que de preocupação com o mundo que o cerca... Naquele instante, toda a erupção dos meus desejos - os mais profundos - veio me abrasando as veias. Sentia que aquele momento era único. Talvez magia, pelas contagens de luas e estações que se alternavam em esperanças... ah! Meus lábios ressecaram-se mediante tamanha intensidade! Quando neles passei a língua, numa excitante e ao mesmo tempo inocente atitude, senti aquele olhar febril sobre eles. Ouvi um crepitar de fogo na lareira. Entretanto, ali não havia nenhuma...
Prontifiquei-me, num misto de ânsia e impudor: um beijo, enfim, o primeiro, o tão esperado átimo do meu passaporte para a plenitude...
... se não despertasse assustada, no sofá da sala, às altas horas da madrugada, e, nas mãos, uma folha de papel suado, com uma poesia: falava de ilusão.