Epidemia

“Pessoas são flores. Semanas, anos.”

A primeira flor plantada era grande e viçosa. Tinha um perfume todo especial, pureza e doçura. Era amarela e, com o tempo, foi ficando mais linda; como alguém que amadurece. A segunda tinha pétalas macias e delicadas. Seu aroma era ainda mais forte e marcante que o da primeira e sua beleza crescia dia após dia. A primeira flor, margarida; a segunda, rosa vermelha. Um cravo era a terceira e última flor daquele pequeno canteiro. Aquela flor exótica também fora presenteado com a cor escarlate; um vermelho ainda mais intenso que o da rosa. Tudo ia bem, até que a margarida começou a desbotar. O dono do canteiro entristeceu-se ao vê-la perdendo a graça. Ela ia perdendo a alegria, enquanto pequenos pontos pretos tomavam conta de suas pétalas, que, por sua vez, iam secando e secando... Por mais que o dono do canteiro quisesse salvá-la, nada podia fazer, pois a natureza é voluntariosa, assim como o livre arbítrio dos humanos. Foi muito frustrante ver aquela linda flor abraçando um marrom-morte. E mais ainda quando a rosa passou a apresentar as mesmas mudanças, como um humano infectado por doença ou amargura. Para o dono do canteiro, aquilo era inconcebível, afinal, ele as plantara ali para que vivessem muito. Então, quando o cravo também “começou a chorar”, o dono do canteiro percebeu que aquilo era como uma epidemia. Parecia que algo na terra fazia com que as plantas morressem. Na verdade, ainda que bem cuidadas, aquelas flores tinham sentimentos complexos e estavam ali presas às suas próprias solidões. Elas (cada uma a seu tempo) olharam para seus relógios e enfrentaram as horas mais duras de desilusão. Nenhuma conseguiu atravessá-las e por isso pereceram no meio do caminho. Em poucas semanas todas as flores estavam mortas e quando o cravo deu seu último suspiro de esperança, começou a chover.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 07/02/2019
Reeditado em 15/04/2019
Código do texto: T6569603
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