Hoje, ela cabe em uma fotografia

Hoje, ela cabe em uma fotografia. Ficou pequena depois de tamanha grandeza. Coube no porta-retratos alguém que não cabia em si. Na imagem, o sorriso de sempre. Escasso. Escondido como se a expressão de alegria lhe fosse dolorosa. Um desvio do fotógrafo e mais uma vez sua figura não seria capturada pela lente. Não a teria flagrado num instante de alegria ainda que nem fosse totalmente verdadeiro. Mas o que de fato era genuíno na sua existência? Sua autenticidade era secreta, sua felicidade, comedida, seu desejo, contido. Não tinha a expansão de uma vida inteira. Controle, autocontrole, noção de adequação que se traduzia em meias palavras, meios sentidos, meio estranho. Ela e a fotografia. Ela na fotografia. Uma fotografia dela. O que restou.

(narrativa criada a partir de um miniconto de Luana Simonini) em https://medium.com/@luanasimonini