A Qualificação das Mulheres
Elva Barker dobrou a página do jornal vespertino que estava lendo e o passou à sobrinha, Cecelia, que costurava em frente à ela.
- Veja que interessante - comentou, colocando os óculos de leitura na mesinha ao lado.
- Ato de Qualificação das Mulheres, tia? - Indagou a jovem, intrigada, interrompendo o bordado que estava fazendo.
- É uma decorrência natural do Ato de Representação Popular, do qual lhe falei, lembra-se? - Disse Elva. - A possibilidade das mulheres terem, finalmente, acesso ao voto.
- Ah, sim... - replicou Cecelia, correndo o dedo pela matéria do vespertino. - Aqui diz que... mulheres acima de 21 anos... poderão ser eleitas e votar para a Câmara dos Comuns. Isso realmente é interessante, tia!
- E diziam que o movimento sufragista nada conseguiria com suas manifestações - ponderou Elva, mãos entrelaçadas no colo.
- De fato... mas não há uma pequena discrepância nesta lei? Como poderemos ser eleitas a partir dos 21, se só podemos votar aos 30?
- Decerto que há um problema aí, o qual poderia ser contornado com o voto dos homens... ou das mulheres maiores de 30. Mas também revela uma preocupação dos legisladores neste ano de 1918 - avaliou Elva.
- Qual, tia? - Indagou Cecelia.
- Se os homens ainda não permitem que mulheres de menos de 30 anos votem, é porque somos maioria.
E diante da expressão de compreensão da sobrinha, acrescentou, com uma piscadela:
- Eles temem a nossa força.
- [03-12-2019]