Deixou de falar com a família e passou a se ocupar com a casa o dia inteiro.
Não falava mais, não saiu mais à rua.
Um dia ouviu – quando ainda ouvia – que a filha tinha casado, portanto saiu de casa.
Não reparou o dia em que o filho foi morar no exterior.
No dia em que o marido saiu de casa com a nova esposa, já não enxergava e não levantava mais de uma cadeira encostada na parede.
Foi esquecida pelos amigos e vizinhos, que julgaram que tinha se mudado com a família.
Quando o jovem casal comprou a casa, não reparou no esqueleto colado a uma cadeira e vestido com o mesmo tecido da cadeira e do revestimento da parede.
A alma ainda vagava pela casa, limpando, lavando e cozinhando, alienada de si.
 
Jeanne Geyer
Enviado por Jeanne Geyer em 24/09/2020
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