Acordou em seu particular bordel,  sonho eterno de consumo.
Boca cheirando a borracha e sexo. Talvez se achasse muito esperto e muito macho. Mas apenas um coitado, um pobre de tudo, especialmente de sentimentos.

Do outro lado, Alice, refeita da sua decepção, tentava escrever uma carta de desamor.

Pra que isso, Alice?

Tentou começar, mas na verdade não saía nem uma letrinha cursiva, imaginada entre tantos desaforos. Pensou: ele não vale uma palavra, um selo, um dedo do seu tempo, Alice!
 
Começou a rir. Ah, se soubesse que a dor seria apenas a do momento de arrancar o espinho! O desencanto fez todo o trabalho por ela.  Não sentia mais nada à respeito. Apenas um delicioso alívio.

Rasgou o papel como quem espatifa um patife. Imaginou o monstro horroroso de hálito e hábitos deprimentes do qual se livrou.

Enfim, carta ao lixo, coração leve e feliz. Agora sim, amando como sempre quis.




 
TACIANA VALENÇA
Enviado por TACIANA VALENÇA em 04/01/2021
Código do texto: T7152074
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