Lembranças e um pé de manga

Eu, que vaguei por tantos lugares e conheci tantas almas, hoje estou só.

Olho pra dentro de mim e me vejo oca.

Visito algumas lembranças e me inundo de saudades.

Ao me olhar no espelho, quase não me reconheço. Meus olhos fundos e minhas rugas denunciam o passar do tempo.

Minha única visão é a proporcionada pela janela do quarto. Vejo o pé de manga, tão velho feito eu, e lembro de quando eu subia nele com meus irmãos, enquanto minha mãe chamava na varanda.

Todos se foram, menos o pé de manga.

A casa também é a mesma, mas tantas reformas acabaram apagando minha infância.

Não saio do quarto.

Carolina cuida de mim e cuida com muito gosto.

Carolina é minha única família, mesmo não tendo o mesmo sangue que eu.

Minha descendência parou em mim.

Sinto um cansaço terrível sobre meus ombros e falo no sentido literal.

Meu corpo, já cansado, aguarda o fim enquanto olho pela janela.

A vida se desfaz entre meus dedos.

As mangas caem do pé.

Suspiro.

Amanda K Abreu
Enviado por Amanda K Abreu em 23/12/2021
Reeditado em 23/12/2021
Código do texto: T7413648
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