Nunca mais esquecerei.

A folha de papel estava logo à frente, alva, completamente branca a espera do fadado destino, quando entra a consoante acompanhada de uma vogal e eis que, do nada,

TU

surges para macular a folha virgem.

Natural até aqui, pois era de se esperar alguma coisa, qualquer coisa: um rabisco, um borrão de tinta, uma dobra... enfim, qualquer coisa mesmo. Mas foste TU que apareceste e não outro qualquer. Por que não VÓS? Por que não se escreveu uma data?

Aconselho-te apenas, que não fiques orgulhoso por ter sido TU e não EU.

Durante vários minutos, EU presenciei, TU ficaste ali, no topo, sozinho, enigmático, totalmente abandonado na imensidão do espaço vazio à tua volta até que o verbo haver, transitivo indireto e impessoal, e que não tinha nada a ver, surgiu das trevas para ti fazer companhia.

Detalhe: não se apresentou assim de cara lavada, não; o 'haver', para ti homenagear entrou nesta estória respeitando as regras, flexionado em pessoa, número, tempo, modo e voz. É chique ou não é, este verbo?

Veja: TU HÁS

Agora, sim, TU já não estás mais sozinho.

Porém, acompanhado assim de quem de ti tudo insinua e em vários sentidos, mas nada diz, misterioso continuas, tanto para mim quanto para o leitor que por ora nos faz companhia.

Hei, mal terminei meu raciocínio e já te vejo na companhia de mais alguém, quem?

Ah! Uma preposição! E esta parece indicar perigosa relação de destino.

Veja: TU HÁS DE

Pausa

ELE, que até aqui se manteve calado, decidiu falar, e, diante de NÓS, disse, dirigindo-se a ti: - Nobre Pronome, a coisa ta ficando preta. Parece que vem difamação por aí.

Bastou.

Tremes, ou é impressão minha? Perguntei para ti.

E quem não tremeria diante do presságio dELE?! ELE, sempre ELE.

Convencido de que TU padecias, EU decidi ajudar.

Para que não sofras, amigo, sugiro aqui uma coisa: Não penses no que ELE disse, no pior. Isso é o que causa a infelicidade de toda a gente, “o medo do nada”, pois nada aconteceu até aqui. Estou mentindo? A nossa mente a fazer juízo prematuro, sempre, é que mente para a gente.

Ouça, se é que podes, quem está manipulando assim as letras, separando, juntando, formando palavras e frases, ao seu bel prazer e diante de TODOS, é pessoa de boa índole que ti conhece bem e quer te ver melhor.

Sendo pessoa honrada, é certo que não vai agir contrário ao seu caráter digno e fazer injustiças. Relaxa!

Nem terminei de falar e lá estavas TU, visivelmente emocionado, agora acompanhado não só do verbo 'haver' e da preposição 'de', mas também, do altivo verbo intransitivo 'vencer' prostrado a teus pés.

Veja: TU HÁS DE VENCER.

Nunca mais esquecerei.

Obs: Reedição.

Dilucas
Enviado por Dilucas em 17/10/2022
Reeditado em 17/10/2022
Código do texto: T7629708
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