O ventinho amigo

Quando eu era adolescente pelas ruas de Alagoinhas, em vez de caçar Pókemon, eu caçava aquele ventinho amigo que arribava a saia das meninas em frente ao convento das freiras. Um dia, uma garota que o vento pegou de mãos ocupadas com o material escolar, me disse irritada depois de se recompor:

- Besta! Viu a tela, mas não viu o filme!

- Ah! Mas o resto fica mais fácil de imaginar - respondi.

- Seu tarado!

- Tarado é o vento. Eu sou só testemunha.

- E por que não fechou os olhos como todo menino educado?

- Porque em vez de tarado, você ia me chamar de vi...

- Pare!

- Tou parado.

- Seja gentil, segure meus livros!

Segurei e em seguida sangrei pelo nariz.

- Você me bateu!

- Você apanhou porque mereceu.

- Mamãe!

- Desse tamanho e ainda chama por mamãe!

- Não. A minha mãe era que dizia isso, de apanhar por merecer.

E entre réplicas e tréplicas, namoramos um semestre inteiro. Eram tempos de se engarrafar sonhos sem precisar de McDonald feliz.