Violentada

Anda pelo quarto torcendo as mãos uma na outra sem saber o que fazer, por morar na parte do país onde os costumes tribais e familiares são bem presente, parecendo que o tempo parou. Moro na cidade de Mardim, cidade, onde todo mundo se conhecem, por isso estou do jeito que estou. Vou casar amanhã com um homem que é amigo da minha família que vi crescer junto aos meus irmãos. Não o amo, não sinto nada por ele. Estava de casamento marcado com Ali, o homem que amo. Mas ele foi covarde, fugiu, foi embora me deixando para trás quando contei a ele que Armet, violentou-me, tudo que ele fez foi olhar para mim com nojo, dizendo-me

- Esen, você não presta, não vale nada.

Foi embora sem olhar para trás, fiquei só com minha dor e tristeza.

Armet, enviou dois dos seus tios para falar com o meu pai dizendo que ele casaria comigo, a dor, a vergonha que havia abatido sobre a nossa casa iria ser reparado, afinal não abandonaria a família que sempre o acolheu. Depois do que eu havia feito, porque o costume da minha terra é que se uma mulher fosse violentada a culpa é dela, em muitos casos ela é obrigada a casar com o estuprador para não ser morta. Esse é seu caso.

Pensei em tirar minha vida, mas iria deixar meus pais ainda mais desolados por não limparem o nome da família que ficaria manchada para sempre devida a filha desonrada. Sofri tal violência sem ter feito nada para isso. Sempre me comportei muito bem com as visitas, saia até sem ser visita para não chamar atenção de nenhum deles. Por conhecer os costumes do meu lar. Não entendo com esse Armet colocou os olhos sobre mim. Tudo que sei é que certo dia estava no pátio interno da casa fazendo minhas tarefas diárias quando senti mãos me agarrando, puxando-me para o estábulo dos camelos, senti a mão dele tampado a minha boca para eu não gritar. Rasgando minhas roupas, tirando meu véu do rosto, dizendo,

- Quero ver seu rosto quando ti penetrar, porque você não irá casar com Ali e sim comigo, porque sou homem certo para você e você é a mulher certa para mim. A amo desde que você era pequena, sempre estive a sua espera, mas seus pais acharam que a aliança entre sua família e da do Ali seria o ideal, mas o ideal sou eu. Hoje a tarde, mando familiares falar com seus pais.

E assim aconteceu, quando ele acabou de fazer o que queria comigo foi embora sem olhar para trás sem ver o estrago que havia feito. Não sei como entrei em casa sem ninguém me ver, fui para o meu quarto, tomei banho, me esfreguei até quase arrancar minha pele para ficar limpa. Quanto mais fazia isso, mais me sentia suja, imunda porque era assim que todos iriam achar que eu era. Nenhum deles iria sentir a minha dor o tanto que estava sofrendo.

Como ele disse a tarde apareceu pessoas em casa para tratar do casamento, era como se ele estivesse fazendo um favor em casar comigo depois de tudo. Sei que a movimentação foi grande, no momento que meu noivo chegou com sua família e o compromisso de casamento foi desfeito devido o meu pecado, pela minha culpa. Fiquei o tempo todo calada de cabeça baixa, sem levantar os olhos em nenhum momento, porque o que iria fazer se ninguém acreditava em mim, meu julgamento havia acontecido, para eles, era culpa. Porém, quando todos dormiram, levantei pé por pé, fui até onde meu irmão guardava seu punhal, o pequei, sabia que ele estava bem amolado, guardando grudado em mim, ele iria comigo até a casa onde eu iria viver.

Ao amanhecer as mulheres da família vieram me preparar para o casamento, casei em casa, somente com minha família presente e a família do Ahmet. Em nenhum momento levantei a cabeça ou olhei em alguém presente. Após o casamento meus pais ofereceu um almoço para meu marido e a família dele em agradecimento por casar comigo depois que o seduzi, minha vontade era de gritar toda minha raiva, mas aguentei firme. Ao chegar na minha nova casa, ficar sozinha com o meu algoz, leva-me até o quarto dizendo

- Esse será o nosso quarto.

Foi quando tomei coragem, dei um puxão em meu braço me afastando, pequei o punhal em minha mão dizendo a ele

- Ahmet, não deveria ter feito o que fez comigo. Nunca mais irá encostar um dedo em mim, ninguém decide o meu destino, quem decide sou eu

Não dei tempo para ele ter qualquer tipo de reação, enterrei o punhal em meu próprio peito, morrendo na frente dele. Deixando-o sem ação porque na cabeça dele, iria ficar feliz em me casar com ele. Tudo saiu diferente do que havia idealizado para eles. Pensou deveria ter perguntado a ela antes. Havia como fazer isso através dos empregados da casa, bastava dar dinheiro a um deles. Foi a última vez que Ahmet colocou a mão em meu corpo olhando para ela porque seu destino ela traçou depois da violência sofrida.

Lucimar Alves

Lucimar Alves
Enviado por Lucimar Alves em 21/11/2023
Reeditado em 27/11/2023
Código do texto: T7937014
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