Este cara no caldeirão
Uma noite.
A lenha acesa. O estrelado céu e quentes nuvens mágicas rebolando ao missal de ventos ou redemoinhos tropeiros. E um mago a salpicar os seus temperos, numa oculta e irrevelada magia de palavras entoadas. Um vazio no silêncio daquela cena nunca antes campestre, mas na floresta de sempre. O mago fala para seu servo anão ao lado:
- Eu tenho certeza e eis em minhas mãos este bocado, colocarei o indócil feitiço, por meu amor e por meus mestres do passado...
Anão interrompe:
- Ei, mestre e senhor, não deixes este pó esquisito cair em mim!
- Cale-se, amiguinho! Estou a ter visões pálidas da amada, que fosse antes donzela ou sei o quê nessas fumarolas que saem do caldeirão...
- Mestre fala difícil...contudo vós perdeste algumas pitadas deste seu pó...e eu já estou cá entendiado com isso...
- Ah -disse o mago entorpecido - você ignora que tambem eu amo alguém do castelo? Um gentil senhor como eu é dado a rapapés de modo idem, não?
Ponderando um pouco o travesso anão replica:
- Sim, entendo. E sabe o mestre se ela é ao menos casada ou inútil?
- Bem... - o mago se distrai com a conversinha ligeira - eu diria que ela jamais virá a mim, mesmo que usemos a poção de chamamento, sei lá...
Os dois se entreolham e cruzam os dedos. A magia tem fé cúmplice entre iguais ordinários, é o que dizem. Mas o anão, olhando pra cima com tédio no olhar prossegue:
- Assim ela nem te quer, fazer o quê? E o mestre sabe o que faz com esta poçãozinha de agora, se ao menos a dama que deseja lhe falasse a sós entre amas e lacaios?
- Nesse caso confiarei no destino entre nós, e nosso amor é confuso. dado que o Rei não só é pai dela como dono de minhas hipotecas! Se puder fugirei com ela para o reino dos magos insinuantes...
- He, he, he! O mestre tem senso de humor...
- Na verdade um sentimento de culpa e igualmente querer fugir apropriadamente de lá, claro!
A ventania corta as vozes do dois. E por instantes aquela cena pára e eu fico a olhar na bola de cristal e prevejo a desgraça lenta de um feiticeiro e seu servo. O momento me espanta e a visão clara mostra-me que na realidade o mago se antecipou e já está a fazer magia de retrocesso pra atrasar a cavalaria do rei. Tudo dependerá da natureza em curso e este mago cumprirá sua boa fé, pois seu amor imenso destrona sua aptidão inata para enganar aristocratas maiores. Quem saberá seu fim?