Bela Adormecida

Foi para night se divertir. Lá pelas tantas, foi tomada pelo sono profundo. No mesmo mês foi ao ginecologista e o diagnóstico do Papa Nicolau constatou que a bailarina tinha sido vítima do Bela e divertida Madrugada Cinderela.

Sua mãe havia lhe alertado que conto de fadas são relatos, retalhos da realidade. Passados 9 meses, com o troféu enganchado na cintura, deu razão a mãe. Antes tarde que nunca.

Como não é de aço, põe o troféu no canto da cama da vovó e vai reviver o passado; porém, de olhos abertos. Aprendera que cochilou, o cachimbo cai. Aí o fumante/espreitador agacha, apanha-o na mão, espia, cheira e se aprovado pelo controle de qualidade, enche-o com a mais pura erva do diabo, toca fogo e bafora na boa. Afinal, cachimbo pouco fumado de Bela Adormecida não tem dono; muito menos preferência por esse ou aquele fumante.

Diapasão do Ciclo Vital

Passei toda a noite estirando os ossos feito cão, na espreguiçadeira; novelando os dedos polegares, contando estrelas e apreciando a comunicação do vento com as folhagens, quando repentinamente conclui que iria viver um dia à menos.

Quantos dias iguais ao de ontem, ou de outra maneira, ainda me restariam? Mordendo os lábios, sei que não morri; também não vivo a vida que preconizam a meu respeito. As maravilhas da vida não desconhecem a grandeza das águas do mar.

A cotovia vocalizou um pio estranho. Era a morte do santo Padre. Tomei banho e troquei de roupa, pois iria ao velório. Sempre respeitei as autoridades da cidade, então, é dever meu obrigatório, solidarizar com nossos irmãos católicos. Que Deus receba a alma desse Santo Homem no aprisco do céu. Só faltou fazer milagre.

Miséria pouca é tolice. Como havia recebido o pagamento da aposentadoria, passei na venda do Sô Benvindo e comprei umas guloseimas, salgados e refrigerantes para passarmos a noite; que provavelmente, seria fria, pois estamos em pleno inverno, com o marrom/vermelho da seca pastando os campos e as campinas das pradarias. O inverno é contrário a primavera; e enquanto o primeiro sinaliza a perda; o segundo, recicla, afina, revitaliza a perda.

Migração

Em cada bater de asas, ouço as notas da liberdade voando. Em cada linha que traço no céu, desnudo um horizonte. Em cada fruta amadurecida pelo sol, é alimento que farta-me. Em cada galho de árvore, um repouso para passar a noite. Em cada sombreado, uma debicada para o merecido descanso. Em cada lufada de vento, uma retomada econômica de energia.

Em cada regato de água cristalina e límpida, um banho refrescante em nome do revigoramento. E em cada pássaro canoro cantando livremente, encontro seus versos. Para compôr a letra da música "Vida de pássaro, é vida simples e humilde", basta sensibilidade nos olhos e empatia no coração.

Após muitos dias de viagem, encontro um habitat ideal para passar o inverno e renovar a prole.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 24/09/2018
Reeditado em 05/10/2018
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