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1.

Num canto, rodeado dos párias. Terei de esperar até cair. As horas passam, a ambulância leva-me à solidão do lar.

 

2.

Lá fora, a vida que tão depressa se torna efémera. Cá dentro ligo a câmara e as lágrimas caem descompassadas.

 

3.

Num espaço exíguo recordo um abraço. Ao abrir a porta perco-me na chuva diluviana. Elas ficaram lá dentro, devidamente distanciadas.

 

4.

Combinamos protestar, precisávamos quebrar o gelo, acabar com as ilusões. Mas o mundo rompeu-nos as lágrimas e tivemos que seguir.

 

5.

Numa prisão, os gritos não serviam de nada. Mudamos a frequência do destino, elaborando um plano para romper o silêncio.

 

6.

O fim do mundo aproxima-se. Em breves instantes a vida nem memória será. A destruição reporá tudo no seu lugar.

 

7.

Ninguém confessou os seus pecados. Uma mentira destroçou a dignidade. Aquela vez de excessos ficou gravada. Uma doença fulminante levou-o.

 

8.

Já não havia motivos. A certeza da morte era um mero arrastar de dias. Numa complexa reviravolta Deus enviou-lhe amor.

 

9.

A notícia que era preciso pagar direitos de autor pelo amor, fê-lo encolher os ombros. À saída da igreja tocaram-se.

 

10.

Corri tão rápido que caí. Mais rápido me levantei. Que sentido para uma fuga tão precipitada se o amor caísse.

Manuel Marques
Enviado por Manuel Marques em 27/12/2021
Reeditado em 20/01/2022
Código do texto: T7416251
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