Natal dos pobres

SÃO FRANCISCO E O NATAL

Para entender o cerne da espiritualidade franciscana em seu sentido mais profundo no que diz respeito à celebração do Natal faz-se necessário voltar o olhar para Greccio.

Foi nesta pequena aldeia da Itália que são Francisco “popularizou” a celebração do Natal. Essa popularização se refere ao novo sentido que ele deu a essa celebração, pois que, foi por meio dele que essa celebração ganhou expressividade por causa da encenação e representação do presépio utilizando seres vivos. Somente o bebê era inanimado.

Disso tudo, já é possível entrever algo que se delineia no horizonte da espiritualidade de Francisco. Esse algo é a sua sensibilidade em querer reviver e relembrar esse acontecimento, para que, ao fazê-lo, re-vesse o nascimento de Cristo.

Partindo da sensibilidade de Francisco ao celebrar o Natal é possível desenvolver o itinerário percorrido por ele para realizar algo tão significativo não só para os franciscanos, seus filhos mais próximos, mas também para toda a Igreja. Assim temos o re-viver, o re-ver e re-nascer.

Ao ver de novo a cena se desenrolando diante de seus olhos ele, revive; e, ao reviver, nasce junto com Cristo. Aqui estamos atingindo o significado simples e ao mesmo tempo complexo da espiritualidade franciscana e natalina.

São Francisco fica embasbacado ao meditar sobre a Encarnação do Filho de Deus. Na Encarnação ele percebe o quanto Deus é humilde porque Deus se fez um de nós. Deus se tornou carne de nossa carne, ossos e nossos ossos. O que significa que Ele armou a sua tenda em nosso meio. Ele é o Emanuel: o Deus-conosco. Sendo assim, Francisco pode se relacionar com Deus do modo como ele está acostumado, ou seja, de um modo muito humano e próprio que é o de acariciar, beijar, abraçar e todas as demais formas de expressar toda a carga emotiva que está dentro do coração transbordante de amor. Ora, Deus é uma criança. E, toda criança sempre retribui o gesto de afabilidade que lhe é prestado. Disso se depreende a compreensão franciscana segundo a qual Deus é extremamente sensível a qualquer demonstração de carinho que a sua criatura lhe tributa. Portanto, qualquer gesto nosso que tenha a intenção de Deus será recebido por Ele como um gesto de amor.

Então o núcleo central dessa festa é enxergar um alguém do outro lado. E, esse alguém é como uma criança que precisa ser amada e cuidada. É precisamente aqui que está a reviravolta no pensamento de são Francisco.

São Francisco viveu como uma criança porque acreditava profundamente que tinha um Pai nos céus. Ele não sabia o que continha o seu amanhã, mas sabia que seu amanhã estaria repleto de amor tal como o seu hoje, pois que, assim como hoje, amanhã o amor de Deus por ele era garantido. Daí a sua imensa alegria de viver porque viver significa ser amado por Deus de modo inimaginável. Porém, o mais fantástico na espiritualidade franciscana não é o fato do Deus-criança, mas o Deus-criança que está sujeita ao amparo dos homens.

Fazendo um paralelo com o livro do Gênesis que traz o relato da criação no qual Deus cria o homem a sua imagem e semelhança e dá a esse homem a possibilidade de cuidar da criação e o relato do nascimento de Cristo é possível notar a total inversão das coisas, pois que, agora, o homem não mais cuidará daquilo que Deus criou, mas do próprio Deus. É justamente nesse ponto que está toda a estupefação de Francisco diante da humildade de Deus.

Ao celebrar o nascimento de Cristo junto ao povo simples (camponeses, aldeães, artesões, mendigos etc.) de Greccio, São Francisco viu que eles eram como crianças, ou seja, alguém para amar e para cuidar e nisso ele viu que Deus mais uma vez se revelou nos pequenos e para os pequenos do Reino.

Então, celebrar o Natal ao modo de Francisco é perceber que há um alguém do outro lado que precisa ser cuidado, querido, admirado, acariciado, louvado, tocado, beijado, enfim, amado de modo sensivelmente profundo.

Dranem
Enviado por Dranem em 03/12/2008
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