A MINHA CONFISSÃO DE NATAL

PERDÃO, SENHOR!

Estou a escrever no fim de um dia de Natal. O que escrevo é o que sinto. É uma confissão.

Confesso a minha cobardia, a minha contemporização, a minha falta de coragem para romper de vez com o natal pagão.

Há muito que venho reflectindo sobre este assunto e tentando distanciar-me daquilo que, nesta época do ano, julgo ser repugnante aos olhos de Deus. Até já fiz algumas tentativas e tomei iniciativas, mas não consegui ser coerentemente perseverante.

Que os não-cristãos façam do Natal e no Natal o que gostam e/ou lhes convém, compreende-se. Mas que eu continue a pactuar com tradições e importações ideológicas e mercantis dum natal alheado de Jesus, isso é cobardia. Disso me arrependo e peço perdão.

Sei que entristeço o Espírito de Deus quando participo e até colaboro com esse natal anticristão.

Por exemplo: dei prendas de natal aos meus netos que, por causa duma dessas prendas, brigaram imenso. Houve tristeza, choro, revolta, desgosto. Sinto que as prendas da noite de natal geram, frequentemente, sentimentos de injustiça, inveja, conflitos. Mas, sobretudo, desvirtuam o sentido do Natal cristão, ao colocarem-nos a nós no centro da festa, em vez de nele ser colocado Jesus.

Nós, crianças e adultos, que já recebemos prendas no nosso aniversário e tivemos a nossa festa de anos, deveríamos pensar que o dia 25 de Dezembro é a data em que se festeja o nascimento de Jesus, ou seja, o «dia do seu aniversário». Logo, parece-me lógico que esta seja a ocasião própria para darmos prendas a Jesus, que é o aniversariante, e festejarmos o Seu nascimento à semelhança do que aconteceu no primeiro Natal, em Belém da Judeia.

É certo que Ele já não está fisicamente connosco mas, mesmo assim, podemos presenteá-lo na pessoa daqueles que sofrem (e muitos são), desfavorecidos, passando fome e frio por não terem com que comprar alimentos e roupa (muito menos brinquedos para os mais novos!). Jesus disse que aquilo que nós fizermos a estes, é como se o fizéssemos a Ele.

Por que não deixamos de trocar prendas entre nós, para começarmos a gastar esse dinheiro em ajuda aos que sofrem? Não só ajuda material mas também manifestações de amor e de solidariedade.

O dinheiro que se gasta em banquetes (consoadas, etc.) com mais ou menos ostentação e esbanjamento, bem podia servir para ajudar a minorar a fome e o desconforto de alguém perto ou longe de nós.

Esse, sim, seria um Natal pedagógico para as nossas crianças que aprenderiam a dar a Jesus uma prenda de anos, desse modo tão simples. Aprenderiam que «mais bem-aventurada coisa é dar do que receber». Um Natal pedagógico, afinal, para todos nós, por ser altruísta, por estimular o desprendimento, a generosidade e a sensibilidade. Semear, assim, essas atitudes que deveriam ter sequência ao longo do ano, no Natal de cada dia.

Porque todos os dias há pobres, há pessoas sem abrigo, há meninos da rua, há desempregados na miséria, há reformados que a muito custo sobrevivem, há enfermos, há sofredores de toda a espécie. Há pessoas sem pão e há pessoas sem paz, sem esperança, sem fé.

Jesus nasceu num estábulo, num humilde curral. Foi um Natal muito simples e materialmente pobre.

Hoje quer-se grandeza e fausto, faz-se despesismo inútil, busca-se o supérfluo, montam-se encenações mais ou menos «folclóricas» (tipo «santos populares») e tudo isto se arrasta ao longo de todo o mês de Dezembro, se é que não começa antes. É claro que nada disso é alheio ao mercantilismo comercial da nossa sociedade de consumo.

Depois não é de estranhar que surja o ansiedade, os conflitos, o aumento de trânsito e de acidentes.

E que dizer dos sorrisos forçados, hipócritas mas convenientes nesses dias, para salvar as aparências? E a disparidade entre o que se diz/faz e o que se sente... Quando há quem sinta tanta solidão, tanta saudade, tanta nostalgia! Quando há quem deseje que o natal passe depressa, já que ele é um tormento, uma época de acentuada tristeza e dor.

Para haver Natal cristão devia fazer-se o contrário do que é costume: com humildade, muita humildade, devia homenagear-se Jesus, passando mais tempo com Ele em adoração. Devia ir-se ao Seu encontro, como os pastores e mais tarde os magos que Lhe levaram o melhor que tinham. Assim nós, actualmente, levaríamos o melhor de nós próprios, em Seu nome, aos mais carenciados.

Muitas das igrejas já se afastaram tanto do Natal cristão que passaram a antecipar os seus programas natalícios (em muito semelhantes às festas seculares). Para quê? Para depois, na véspera e dia de Natal, estarem livres para seguirem as tradições pagãs.

Ainda há igrejas que nem no dia Natal celebram um culto de gratidão a Jesus pela Sua vinda ao mundo!

Mas a confissão é minha. Sinto-me culpado e triste. Peço perdão por mais uma vez me ter conformado com este mundo(usando a expressão do apóstolo Paulo) em vez de ser transformado e renovado no meu interior (Romanos 12,2).

Gostaria de poder voltar atrás, para ir convidar quem quisesse aliar-se com um só objectivo: o de viver o Natal de acordo com o seu significado e conteúdo originais.

Leiria, Portugal

Orlando Caetano
Enviado por Orlando Caetano em 27/03/2011
Código do texto: T2873023