Eu e Lice: Uma escada, pequena escada (capítulo 06)

(Lice) Não tinha dormido bem a noite. Sei lá, não estava acostumada com a casa de minha vó. A cama dela era bem melhor do que aquela do hospital, mas eu estava com medo de alguma coisa que eu não sabia direito o que era.

No outro dia, minha vó me acordou um pouco mais tarde do que os médicos me acordavam no hospital. Tinha feito bolo de fubá para o café. Senti o cheiro da cama.

Da última vez que comi bolo de fubá tinha sido aqui também. Aqui, naquele dia. De verdade, eu sinto muita saudade de meu pai. Eu pensei nisso de noite.

Dormir com minha vó sem que meu pai Victor me contasse uma história era estranho. Dormir numa casa sem meu pai Álvaro e meu pai Victor também era muito esquisito. Será onde meu pai está agora? Eu estou falando de meu pai Victor.

Sabe quando dói assim, e você quer falar, mas.

- Lice, cuidado meu amor. Você está sujando toda sua roupa.

- Hm. Desculpa vó.

(Eu) Analice, Analice! Quem te disse para viajar assim, menina?!

Ora. Eu sei bem quem disse: ela mesma.

De certo modo, viajar é um modo ideal para se fugir de algo, e era o que Lice fazia. No próprio hospital, esta já era uma atividade boa, que a menina gostava de fazer. Na verdade, era sua diversão predileta.

A quase alemãzinha pequeno anjo comeu dois pedaços de bolo. Pouco depois de almoço, uma vontade incomum apareceu. Uma aventura, algo bom (ou não?).

(Lice) Peguei a bengalinha e andei. No começo, fui me apoiando nas paredes. Se eu caísse, minha vó ia ouvir, não queria que ela soubesse.

Depois de andar só um pouco, senti que já estava na terra. Continuei andando sem parar e calada.

De repente, depois de eu ter andado uns minutos sem cair, eu cai. Tinha uma coisa estranha na frente que a bengala não me mostrou. Eco! Era uma coisa mole, sei lá.

- Ei menina! - alguém falou.

- Quem é?

- O que aconteceu aí? Você caiu? - não respondi - Vem. Eu vou te ajudar.

Alguém me pegou pelo braço. Pensei em gritar, mas não. Senti que não era alguém mal.

- Você é a Analice, neta da Dona Rosa, certo?

- Sim, eu sou. Quem é você?

- Eu me chamo Tito. Seu Tito. Sou vaqueiro daqui.

- E o que era aquilo lá de fora?

- Era tinta. Eu pinto ás vezes.

- Pinta o quê?

- Vem cá. Deixe eu te segurar.

(Eu) Lice confiou. Este tal de Tito, um senhor magro, que aparentava uns sessenta anos, com marca do sol escaldante por toda pele, conduziu a menina até uma sala. Eles desceram por uma escada. Pequena escada.

Com um carinho meigo,

(Lice) Ele pegou minha mão e passou por uma coisa meio estranha. Áspera, talvez.

- Sabe o que é isso? - não respondi de imediato - Aperte. - era macio, meio mole.

- Um sofá? - ele riu.

- Não, menininha, um quadro.

- Um quadro de pintura?

- Sim! Aqui é onde em me refugio das vacas de noite. É ruim ficar com elas o dia todo e ainda ser babá a noite. - Sorri. Não ver o quadro era ruim.

- O que tem neste quadro?

- Passe a mão e tente descobrir. - passei umas vezes.

- Não sei. Não faço ideia. - ele riu de novo.

- É uma mulher com uma rosa na mão. Uma velhinha.

- Porque uma velhinha?

- Eu queria ter uma namorada velhinha. - Ele riu de novo.

(Eu) Lice papeou por um bom tempo. Seu Tito mostrou outros quadros a ela. Ele era sim um bom pintor. Era também um homem diferente, ou um velhinho diferente como ele costumava dizer.

(Lice) Eu comi outro bolo lá. Depois disso, minha vó apareceu. Na verdade, ela gritou.

- Seu Tito, a Lice tá aí?

- Tá sim, Dona Rosa.

Ela entrou na casa meio que chutando a porta. Parecia que tinha corrido para alguma coisa. Ela respirava rápido.

- Graças a Deus, minha nossa senhora. Como você sai assim menina?

- Não briga com ela. Ela só estava andando e caiu nas tintas lá de fora. Sujou pouco, já limpei ela.

- Obrigado Seu Tito. Essa menina tem que aprender a não fugir mais da vó. Eu quase morri do coração, Lice!

- Desculpa. - senti um abraço e três beijos.

- Vamos! Já está escurecendo. Agradeça Seu Tito.

(Eu) O velho beijou a menina, e elas se foram.