Uma Mente de Criança — Capítulo 2 – Parte 2

O menino se ajoelhou sobre o gramado. Seu corpinho ficou todo cheio de fiapinhos de grama. Chacoalhou-se para se limpar. O gramado era muito macio e, por isso, não havia se machucado.

Ao se levantar pode ver com mais detalhes a casa da qual acabara de sair. Era uma casa toda de madeira. Tinha um segundo andar com várias janelas de vidro. As cortinas também estavam fechadas impedindo a visão de seu interior. Não era muito grande e, após dar alguns passos para trás teve a ideia de quão solitária a casa parecia em meio àquele imenso descampado esverdeado.

Só então o menino percebeu que não havia um caminho que levava até casa, nem mesmo uma trilha aberta por pegadas no gracioso gramado. Talvez há muito tempo ninguém ia até ela ou saía dela.

Mas pensar nisso não importava agora. Não importava, pois ele estava só e num lugar desconhecido. Lembrou-se, então, o que a fada havia lhe falado sobre seguir em linha reta, se assim ele fizesse, poderia matar a fome.

É verdade, a fome.

Ele se lembrou dela e ela pareceu muito mais vívida. A barriga roncou e mais uma vez o pequeno colocou a mão sobre ela.

Olhou para a porta de entrada da casa, também para os degraus que o derrubaram, depois deu as costas a casa. Em passos marcados, como se seguisse as instruções de um mapa, andou em linha reta.

Andou, andou. Se virou e conferiu se a trajetória estava correta. Voltou a andar. Andou, andou. Virou-se novamente e a casa já estava distante, era um ponto diminuto ao longe. Mas o pequenino não estava mais em linha reta com ela, a casa estava um pouco mais à sua esquerda.

Se não seguisse em linha reta, não encontraria a comida! Esse foi seu raciocínio.

Decidiu voltar e recomeçar o trajeto novamente. Andou, andou em direção a casa, então parou. A casa havia se mexido? Ou foi apenas impressão? É, ela havia se movido ainda mais para a esquerda e bem na frente dos olhos do menino.

Então uma sombra surgiu no alto da casa, parecia um homem que andava sobre o telhado. O menino o viu segurar uma corda e a puxar com esforço. Um grande pano desgastado soergueu do telhado da casa. Em seguida, uma rajada de vento inflou o tecido feito a vela de um barco. A casa se moveu velozmente sobre o verde gramado e, como se navegasse pela planície, se distanciou até desaparecer ao longe.

Talvez esse momento tenha marcado os olhinhos do menino com uma terceira forma de sentimento para a palavra desolação. O menino, parado debaixo do sol, decidiu apenas seguir na direção do ponto de tonalidade verde-escuro que vira ao longe enquanto ainda estava na varanda da casa.

Rafael Marchesin
Enviado por Rafael Marchesin em 27/06/2014
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