A TERRA NÃO ESTÁ SÓ - capítulo 05 - O PRIMEIRO CONTATO

Não sei ao certo como descrever o espaço em que estávamos encerrados, eu e Jardel, dentro daquele veículo, mas posso arriscar dizer que parecia um fundo infinito, para todos os lados, bem como em cima e embaixo. Pisávamos, com segurança, em algo firme, que não havia como enxergar, e a luz intensa tomava todo o ambiente, mas não incomodava a vista.

Sentíamos perfume agreste, suave, e ondulações na luminosidade, parecendo indicar a presença de algum gás, que também não nos incomodou. Não nos movíamos, aguardando o próximo movimento de nossos anfitriões, dos quais nada sabíamos. E não tivemos de esperar muito, pois uma menina, morena, olhos grandes e castanhos, cabelo curto e aparentando ter seus doze anos de idade, surgiu do nada à nossa frente e nos cumprimentou.

- Sejam bem vindos à nossa nave de pesquisas orbitais.

- Você é tripulante ou pertence à família de alguém que aqui trabalha?

- Sei que minha aparência sugere um infante de sua espécie, mas sou a comandante desta unidade. Meu povo tem pequena estatura e vive muitos anos mais que vocês, mantendo a imagem que os habitantes deste planeta apresentam na segunda fase da existência física.

Ela usava, creio, um tipo de biovestimenta. Parecia não estar vestida, mas seu corpo brilhava e não apresentava detalhes. Além disso, a cor corpórea variava do azul ao verde, em contraste com o róseo de sua face. Seus cabelos ondulavam e brilhavam, como os dos índios.

- Eu pedi que meus auxiliares os convidassem a vir até nós, para que pudéssemos dizer detalhes de nossos encontros com os dirigentes governamentais dos países deste mundo, e o que a Aliança pretende, na teoria e prática, implementar, com a anuência e ajuda de algumas pessoas, criteriosamente escolhidas, como vocês dois.

- Fomos escolhidos? Com base em que critério? Para fazer, exatamente, o quê?

- Buscamos elementos que não sejam apegados à rotina social, aos bens materiais, não tenham vícios, possuam visão e princípios universalistas e tratem seus iguais sem considerar nacionalidade, território, etnia, religião, gênero, capacidade financeira ou outros quesitos.

- Mas vocês não preferem lidar com cientistas e outros estudiosos?

- Também! Porém, o nível de conhecimento não é fator fundamental, e sim humildade, mente aberta, receptividade a novos conceitos, sem a presilha egóica de ditames acadêmicos, que não avançam além do tímido horizonte de seu alcance tecnológico e experimental.

Kalewa! Esse era o nome da menina, que, a bem dizer, não era menina, e pelo que soubemos depois, já carregava mais de trezentos de nossos anos nas costas. Nos contou tudo sobre o que se passou antes, durante e depois do Tibet, mencionou as tentativas genocidas de grupos terroristas, frustradas por sua equipe, a hesitação de muitos dirigentes dos maiores e mais poderosos países em agir, abertamente, em prol da igualdade entre as nações, mais um total desarme, além das intrigas, crescentes e perigosas, nos meios militares.

Enquanto ela falava, as luzes foram diminuindo, e nos vimos numa ampla sala, vazia e envidraçada, que permitia o avistamento da região que se espraiava abaixo da máquina aérea, a não mais do que um quilômetro em altitude, se muito. Do chão da nave elevaram-se módulos almofadados, de material desconhecido, formando assentos anatômicos e muito confortáveis.

Ela permanecia em pé, e com sua voz suave explicava que se aceitássemos trabalhar em conjunto com os operadores da Aliança, seríamos treinados, teríamos acesso significativo a determinados conhecimentos, ainda ignorados pela nossa humanidade e contataríamos parte dos membros das diversas equipes alienígenas, atuando próximas ou junto ao nosso orbe.

Ainda a ouvíamos, quando sentimos outra presença próxima, e ao nos virarmos, demos com nosso amigo André Gard, parado, sorrindo com ar de galhofa.

- Cheguei pouco antes de vocês e já estou ciente do que lhes está sendo apresentado.

- É tanta informação nova, tanto compromisso a assumir, que estamos aparvalhados.

- Sinto o mesmo, mas estar nesta aeronave faz meu sangue ferver nas veias.

André pesquisava os OVNI’s há muito, e agora tinha a satisfação de ver seus sonhos mais utópicos se realizando. A comandante Kalewa entendeu nossa ansiedade e nos convidou a conhecer sua nave, que ela denominava “volitor incumbente”, algo como um flutuador voltado a operações dentro das atmosferas orbitais. Enquanto nos guiava pelos recintos internos, dizia que vários povos que compunham a Aliança, alicerçavam sua tecnologia, principalmente em torno de três fenômenos: plasma, magnetismo e fractais de hidrogênio. Ouvíamos, fascinados.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 29/01/2016
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