A TERRA NÃO ESTÁ SÓ - capítulo 06 - CONHECENDO OS VISITANTES

Contrariando toda a literatura conhecida e os filmes do gênero, aquela nave não exibia luzes piscando, painéis estranhos, tubulações, gases, com aparência de gelo seco, corredores estreitos, com desenhos geométricos ou símbolos, seres estranhos transitando, armas, roupas metalizadas e brilhantes ou telas e comunicadores, espalhados por tudo. Nada disso.

Embora não nos fosse informado o tamanho total daquele objeto voador, posso estimar em algo próximo a alguns quilômetros de diâmetro. Por esse motivo nos assustamos, ao vê-lo do solo, antes de entrarmos, pois tomava todo o céu, até onde podíamos enxergar.

Por onde caminhávamos, ali dentro, víamos crianças sorridentes (eram semelhantes à comandante) mas também alguns, digamos, adultos, que ela nos explicou serem originários de outros planetas, membros da Aliança e colaboradores. Mesmo os grandes não apresentavam diferenças muito signficativas, em relação a nós. Pudemos perceber olhos, extremamente, claros, ausência de cabelos, dedos mais compridos e peles de coloração diferenciada.

Kalewa parecia ler nossos pensamentos, e esclareceu que, de todas as espécies que ali operavam, foram escolhidas as mais parecidas aos humanos, para ter contato bem próximo e minimizar reações emotivas acentuadas entre nossos pares. Disse que, no entanto, havia associados oriundos de mundos muito distintos do que podíamos imaginar, cuja aparência e interação com nosso ambiente, na Terra e naves de humanóides como a em que estávamos, exigiam cuidados. Havia seres aquáticos, de profundidades abissais, outros de mundos muito quentes, com temperaturas infernais, alguns que lembravam aves, outros répteis, e ainda mais contrastantes conosco seriam os amorfos, sem aspecto definido, e os vaporiformes, também chamados “fogos luminosos”, que, segundo ela, lembravam o fogo fátuo, raramente visto.

Segundo nossa “guia”, centenas de espécies podiam ser contadas, só entre membros da Aliança, mas em nossa galáxia havia milhares de outras, em vários degraus de evolução.

Corredores amplos, arejados, iluminados por linhas contínuas de feixes coloridos, azuis, rosa, verdes, sempre claros, nos levavam a jardins, praças (ou algo parecido), e por todo lado havia gente deles comendo ou descansando. Perguntamos sobre dormitórios e refeitórios, e ela explicou que se alguém quisesse privacidade, poderia desfrutá-la a qualquer momento, mas pouquíssimos apreciavam ficar a sós, preferindo partilhar a companhia dos outros a todo momento e em todas as circunstâncias. Como tinham acesso ao íntimo, uns dos outros, pela força mental que possuíam, nenhum segredo poderia haver e nada seria ocultado aos demais.

Perguntamos se viviam em harmonia, e fomos informados de que ainda ocorriam raros desentendimentos ou desacertos, mas nada que lembrasse nosso caos pessoal e social. Pelo que nos fez entender, violência, disputa, ambição e outros desvios de caráter, já estavam, há muito, extintos, em seus mundos (sua espécie vivia em cinco planetas, além dos nômades).

Nômades? Ela sorriu, ante nosso assombro, e disse que muita gente nascia e formava sua existência dentro de naves muito maiores que a dela, algumas até do tamanho de planetas como a Terra ou quase, e esses, dificilmente se acostumavam a estabelecer atividade em um orbe qualquer, preferindo prosseguir, continuamente, em trânsito.

Fomos levados à área central de comando, onde, ao contrário do que supúnhamos, não havia nada que lembrasse os comandos de monitoramento a que estávamos acostumados. Só vimos dezenas de elementos, de algumas espécies, alguns sentados outros em pé, olhando o vazio ou através dos grandes painéis envidraçados, que exibiam nosso planeta (a nave havia subido até grande altitude) e outros veículos aéreos, diferentes daquele.

Simplificando a explanação, ela pontificou que todo o controle obedecia a uma simbiose entre a aeronave e os operadores parametrizados. Alguns utilizavam ainda sentidos físicos, e observavam acontecimentos, atuando na nave, enquanto outros, mais introspectivos, sentiam o todo, dentro e fora, como se fosse uma coisa só, harmonizando os procedimentos, de acordo com as necessidades e as diretrizes dispostas, tanto pela comandante, quanto pela Aliança.

- Há limites de acesso e de conhecimento, que devemos obedecer?

- Seu limite será sua capacidade de absorção e compreensão, além do metabolismo. Há lugares, nesta nave, onde não suportariam estar, assim como há o que podem não entender.

Tamanha era a evolução, tecnológica e mental, de nossos anfitriões, que não impunham qualquer restrição às nossas indagações ou andanças. Nada havia de ameaçador ou perigoso em nosso primitivismo. Éramos rústicos, agressivos e tolos irmãos, que eles queriam ajudar.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 31/01/2016
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