A TERRA NÃO ESTÁ SÓ - capítulo 08 - UM COMEÇO PROBLEMÁTICO

Não sei como aconteceu, mas após a preleção de Kalewa, naquele átrio imenso, creio que adormeci, por alguma sua providência, e acordei em casa, no sofá, ao raiar do dia.

Imediatamente, liguei para André, que atendeu bocejando e repetindo o espanto que me acometeu. Deduzi que Jardel tivera o mesmo destino e combinamos, ao fone, que deveríamos aguardar quietos, até que alguém nos contatasse. Mas isso demorou um bocado.

Após onze longos dias de silêncio rotineiro atordoante, percebi um veículo no céu, mas não estava distante. Parecia próximo demais, no entanto, era diminuto, como um brinquedo, um drone, só que esférico, silencioso e rotacionante. Enquanto observava aquele objeto flutuante, fui abordado por dois brutamontes fardados, que chegaram, repentinamente, à minha porta. Perguntaram se eu era o doutor Orel Dias (Vejam só! Doutor!), e ao confirmar, já me pegaram pelo braço, carregando-me para um furgão estacionado ali perto. Devo ter sido sedado, porque não me lembro do interior do automóvel, e só fui dar por mim num recinto mal iluminado, com cama, mesa, cadeiras e uma porta, dando para um lavabo.

Sentei-me, tentando ajustar o raciocínio, no mesmo instante em que recebi a visita de três homens, com uniforme cinza escuro. O mais velho, cabelos brancos, cumprimentou meio sem vontade, e disse que foi encarregado de me escoltar até uma base militar.

- Qual base? Com que objetivo? Por que deste modo? Quem é você? Onde estou?

- Nada lhe direi. Coopere para que não precisemos machucá-lo.

Nem bem terminou sua rude advertência, os outros dois me puxaram, “delicadamente”, amarraram meus pulsos e me enfiaram um saco grosso na cabeça. Fui empurrado, chutado e deitado no que parecia uma caçamba de caminhão, sacolejando por tempo indeterminado. Um cheiro de maresia predominava no lugar onde paramos e me fizeram caminhar ao longo de trilha pedregosa. Entrei em ambiente refrigerado, desci por um elevador, e quando tiraram meu “capuz”, identifiquei uma ala prisional, como a que existe em vários presídios, com trinta celas pequenas, trancafiadas com pesada porta de metal. Fui encerrado numa delas.

O silêncio era total, e a escuridão também. Não tenho idéia de quanto tempo passei em profunda contemplação, olhando o nada e pensando em como fui me meter numa encrenca tão feia como aquela. Repentinamente, um ponto luminoso surgiu à minha frente. Exibia luz verde muita fraquinha, que nada iluminava em volta, mas ao detectá-lo senti, sem entender porque, paz tão intensa, que quase me deitei. Em minha mente se formou uma mensagem:

- Nada tema! Em breve estará livre de seus captores. Dentro de alguns minutos, terá como observar certos aspectos de nosso modo de agir. Estamos no controle da situação.

A escuridão e o silêncio voltaram, assim que a luz se apagou. Passado pouco tempo, um ser, cujo rosto se assemelhava a um réptil, mas vestia macacão e andava como homem, abriu a cela e sinalizou para que o acompanhasse. Mais à frente, outros seres como aquele e meus dois amigos, em situação análoga à minha. Não nos falamos, porque ao simples aceno de cabeça, a título de cumprimento, recebemos descargas elétricas, choques fortíssimos.

Nos sentaram em um banco de madeira, e outro ser menor, semelhante aos que dizem ser greys, com cabeção e mal encarado, começou a manipular intrumentos, que identificamos como de tortura. Quando se dirigiu aos répteis, falou num idioma estranho e sibilante, que, no mesmo instante, nós três compreendíamos, perfeitamente. Soubemos que preendiam esvaziar nossas mentes e nos escravizar, mas num ímpeto de coragem, que nem sei de onde tirei, lhes respondi, no mesmo idioma, que seus dias de violência estavam no fim.

Após o espanto inicial, muniram-se de armas e se insurgiram contra nós, mas logo foram imobilizados por algo que não víamos. Um alarme soou, militares chegaram, mas nós três já estávamos sumindo. Sentíamos como se fôssemos feitos de plasma, ou algo parecido, e fomos puxados para cima, vendo passar os níveis da base, o subsolo, a cabana, que disfarçava a entrada e grandes armas camufladas, no meio do arvoredo, além de um silo e o mar.

Fomos parar na nave de Kalewa, novamente. A comandante já nos esperava, sorridente e amistosa. Esclareceu que só deixou a coisa toda seguir até aquele ponto, para que víssemos seres que trabalham com forças armadas e percebêssemos que já recebêramos capacitação parcial, que nos dava condições de interagir com alienígenas. Ao menos alguns deles.

Perguntei se nosso governo concordara com nossos nomes, e ela, sorrindo, disse que nossos captores trabalhavam para setores do governo. Pelo jeito, não nos estimavam muito.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 07/02/2016
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