A TERRA NÃO ESTÁ SÓ - capítulo 09 - DE VOLTA À NAVE

A comandante nos deixou descansar por algumas horas, para que nos refizéssemos do estresse referente à captura, e em seguida nos pos a par dos últimos acontecimentos.

Soubemos que nosso governo alegou que éramos despreparados, desinteressados e nada confiáveis, para assumir uma representação como os alienígenas propunham. Diante da insistência destes para que fôssemos os escolhidos, disseram que tentariam nos convencer, mas não garantiam nossa aceitação. Nada sabiam sobre nosso prévio contato.

Foram os militares mais conservadores que decidiram nos seqüestrar. A partir daí, toda a conversação protocolar foi suspensa, as duas doutoras que completariam o time, também foram guindadas para a nave e estavam sendo informadas sobre os acontecimentos. Todos os familiares, de todos os cinco, foram protegidos, de várias formas, para evitar aborrecimentos.

Kalewa disse estar na hora de sabermos mais, para decidirmos os próximos passos.

Naquele instante chegaram as companheiras de aventura e se apresentaram. Eram, ambas, cientistas, versadas em áreas distintas da engenharia genética, já conhecidas no meio acadêmico, por pesquisas avançadas e, formalmente, apresentadas. Sabíamos algo a respeito.

Assim que nos acomodamos na ampla sala envidraçada, nossa anfitriã iniciou o relato.

- A Aliança sabia que o tempo de isolamento da Terra estava chegando ao fim, por conta do avanço tecnológico dos últimos anos, e pelo início, ainda tímido, das campanhas em prol da paz, preservação, igualdade de condições e direitos entre todos. São sinais evidentes de precário, mas promissor amadurecimento da humanidade. Como, no entanto, temos evitado intervir, diretamente, nas empreitas duvidosas ou hostis, de alguns governos, grupos privados e organizações ideológicas, temos um cenário global complicado a enfrentar, onde vicejam centenas de bases militares, com laboratórios avançados, desenvolvidos em conjunto com determinados comandos extraterrestres, não alinhados com nossos princípios.

- Mas, ao que parece, vocês têm tecnologia muito superior. Qual o problema?

- Tais bases foram edificadas em meio a grandes núcleos de subsistência humana, e nos serviços básicos desses lugares trabalham dezenas de milhares de inocentes, ignorando o que se passa em setores ocultos dali mesmo. Há, inclusive, bases construídas em áreas bem profundas do subterrâneo planetário. Creio que ignoram, mas há grande diversidade de seres que habitam o interior de seu orbe, alguns originários de fora e outros nativos; alguns habitam núcleos organizados e pacíficos, enquanto outros se espalham por cavernas e fendas, agindo como feras. Há razoável quantidade de seres com conhecimento avançado, que não apreciam os humanos, ajudando os grupos da superfície, em suas pesquisas obscuras.

- Pelo que entendi, apesar de alguns mal intencionados que ajudam, essas bases estão em áreas bem povoadas, tanto na superfície, quanto no subterrâneo, e ainda têm empregados que ignoram o perigo que ali está presente. E isso atrapalha qualquer intervenção direta.

- Exatamente. Temos de desmantelar tais iniciativas, exilar seus idealizadores e alguns cooperadores, esvaziar os focos de sustentação de tais projetos, situados em organizações e governos, sem agir diretamente, sem ferir a soberania de alguma nação, sem causar conflito de qualquer espécie e sem deixar transparecer, claramente, nossa presença imediata.

- E, obviamente, é por isso que precisam de nós. Querem que façamos o que não têm como fazer com seus próprios meios. Mas não entendo como crêem que tenhamos condição de agir em algo tão grande, se somos pessoas simples, que trabalham mais com a mente que com a força corpórea, Nunca tivemos preparação física ou treinamento militar.

- Temos como capacitá-los adequadamente. Não há nenhuma dúvida sobre isso.

- E agiremos sós? Apenas nós cinco?

- Há milhares de outros seres humanos sendo capacitados e treinados, mas esses farão trabalhos complementares ou de apoio. Vocês foram escolhidos para comandar toda a ação.

- Volto a perguntar: Por que nós? O que temos de diferente de tantos outros?

- Interesse, despojamento, disponibilidade e postura altruísta.

Poderíamos sentir orgulho do que parecia ser elogio, principalmente vindo de pessoa tão avançada, material e espiritualmente, mas estávamos travados, emocionalmente abalados, em uma introspecção bagunçada, porque não tínhamos referencial confiável para avaliar o que nos dizia Kalewa. Tudo que víamos e ouvíamos parecia uma grande loucura, mas os incidentes de pouco antes não deixavam dúvidas sobre a realidade dos fatos apresentados. Que enrascada!

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 12/02/2016
Código do texto: T5541467
Classificação de conteúdo: seguro