A TERRA NÃO ESTÁ SÓ - capítulo 13 - A TRANSFORMAÇÃO

Quando nos retirávamos do ambiente, surgiu, repentinamente, uma velhinha, curvada pela idade, aparentemente, bem avançada. Seu corpo, mesmo que carcomido pelo tempo, não apresentava semelhanças com aquela gente, nem conosco, como se fosse originária de algum outro lugar e povo. Olhou-nos com ternura, sorriu com delicadeza e passou, imediatamente, a se comunicar, mentalmente, com todos. Pediu que sentássemos e fechássemos os olhos.

A um gesto de nosso orientador, fizemos como foi pedido.

Não tivemos de aguardar mais do que poucos segundos, até que sentíssemos estranhas vibrações, que nos impediam de esboçar qualquer reação. Não conseguíamos abrir os olhos, mexer um músculo sequer ou pensar com clareza. Ao final de um tempo impreciso, pudemos, finalmente, ver que ela estava bem próxima, ereta, remoçada, olhando-nos com seus olhos cor de água (é o máximo de analogia que consigo fazer) e dizendo, mentalmente:

- Sou Mawa Nedra! Gaia me concedeu o privilégio de libertá-los da roda existencial, para que retornassem ao seu estado original e recuperassem suas habilidades ancestrais. Pouco a pouco, seus corpos e mentes se metamorfosearão, adaptando-se à nova realidade energética que os envolve e anima. Sejam sábios, ao utilizar os dons com que foram agraciados.

Conforme falava, a anciã desaparecia, lentamente, até se desvanecer.

Um sono arrebatador nos fez adormecer, instantaneamente, e quando acordamos, todos ao mesmo tempo, nosso guia pediu que nos despíssemos. Apesar do constrangimento, já que não nos conhecíamos tão intimamente, obedecemos, como que impulsionados por força maior. E por baixo de nossas roupas, ao invés de nos descobrirmos nus, verificamos que havia algo diferente, como se estivéssemos ainda vestidos, mas com fina camada de material biosintético ou algo parecido, perfeitamente agregado ao corpo. Além de nos vestir de um modo esquisito, aquilo equilibrava pressão e temperatura, evitando que sentíssemos incômodos vários.

Interessante notar que a novidade já nos parecia familiar, como se já tivéssemos tido contato anterior com aquela tecnologia. E ao pensar assim, recebemos a informação referente, como se nosso íntimo estivesse recuperando o conhecimento passado, esquecido.

Estávamos diferentes, mais dispostos, com aparência mudada, parecendo ter remoçado dez ou mais anos, e antes de podermos refletir melhor sobre o que ocorria, vimos nosso guia se erguer no ar, flutuando faceiro. Chamou-nos, para que fizéssemos o mesmo, e ainda que não soubéssemos como, fomos puxados para cima e, automaticamente, lembramos de como agir, para dominar a movimentação aérea, em todas as suas nuances.

Voando ainda, nos afastamos daquela comunidade, entrando em região escura, bem mais profunda que a anterior, onde vimos, saindo de várias cavernas irregulares, seres bípedes que se pareciam mais com répteis ou pássaros pré-históricos do que com homens. Vieram até nós em atitude agressiva, brandindo paus e armas primitivas, mas não conseguiam chegar a mais do que uns quinze metros de nosso grupo, Havia uma proteção invisível a impedi-los de nos atingir, que, segundo nosso orientador, ativava-se ao menor sinal de perigo ou agressão, e constituía-se em uma de nossas múltiplas capacidades de ação e defesa.

Descemos ao solo e olhávamos as feições de nossos potenciais agressores. Seguindo nossa intuição, focamos em seu palavreado sibilante, e pudemos entender que, entre muitos xingamentos, gritavam que humanos eram podres e morreriam ao penetrar aquele território.

Instintivamente, avancei até o que parecia liderá-los, e gritei em sua própria linguagem:

- Não somos humanos! Mas se os agredirem, nós voltaremos e os atacaremos.

A voz vibrou e soou em altíssimo brado, amedrontando e afugentando todo o bando.

Continuamos o trajeto, em direção a regiões subterrâneas mais profundas ainda, onde a luz de liquens luminosos e rochas fosforescentes impregnavam os sítios de ar fantasmagórico e assustador. Imaginávamos se toda a profundidade maior encerraria aquele tipo de cenário, mas fomos informados de que havia, em meio àquela desolação, bolsões de vida pulsante e organizada, mesmo que os habitantes fossem muito diferentes dos irmãos da superfície.

Caminhávamos, ao invés de voar, para melhor apreciar o ambiente, e ao olharmos para trás, um enorme grupo de seres escuros e gigantes nos seguia, ameaçadores. Logo, à nossa frente, outro grupo semelhante. Intuitivamente, apenas paramos e os observávamos. Ao invés de nos agredirem, conforme se aproximavam, pareciam enfraquecer e desmaiar. Era nossa melhor habilidade. Enfraquecíamos os agressores, para evitar violência e poder dialogar.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 26/02/2016
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