A TERRA NÃO ESTÁ SÓ - capítulo 15 - A JORNADA SE INICIA

Ao fim da última declaração, envolvendo o fulcro da criação a interação cessou.

Os seres, a quem chamamos de salamândricos, diluíram seus corpos nas labaredas e magma, deixando-nos naquele recinto infernal. Retiramo-nos em meio a ruído intenso.

Quando, além do portal divisório, retomávamos nossa caminhada, o orientador anunciou que deveríamos experimentar uma oportuna habilidade que possuíamos. Para tanto, pediu que fechássemos os olhos e contraíssemos os músculos do corpo. Durante a concentração, tocou em nossos corpos, emitindo concentração plásmica que provocou ligeiro choque; e isso alterou nossa estrutura atômica (não sei como), de tal modo, que pudemos, sob sua conduta, subir até a superfície do planeta, atravessando camadas quilométricas de solo, como se constituídos de matéria sutil ou fluídica. Quem nos observasse, sem explicação, veria fantasmas esquisitos.

Afloramos em plena manhã ensolarada de um penhasco escocês, onde nosso guia fez sua última preleção, antes de desaparecer, do mesmo modo como surgiu.

- Ainda há outras habilidades que não conhecem, mas devem desenvolver, ao longo dos próximos meses, enquanto travam contato com grupos e forças antagônicas, que se espalham por todos os cantos do orbe. Suas reações, em cada caso, devem ser ditadas apenas por suas consciências, e quando estiverem prontos, Kalewa os contatará, para apresentá-los à Aliança.

Não houve tempo para questionamentos, antes que ficássemos, completamente, sós.

Sentamo-nos na relva, em meio a cabras que pastavam nas proximidades, e sem saber bem o que fazer, silenciamos a voz e focamos nossa mente uns nos outros. Admiravelmente, o distanciamento que ainda existia, por conta da pouca convivência recente, foi sendo removido, conforme lembrávamos de todo nosso histórico juntos, vivido em diversas existências na Terra e em nosso sistema original. Nossas personalidades presentes se tornaram apenas pequena parte do todo que passamos a conhecer, e até mesmo os familiares de alguns foram, também, reconhecidos como companheiros ou agregados de outras épocas e situações.

Enquanto usufruíamos a sensação daquele envolvimento fraterno, André verificou que levitávamos a uma altura de mais de três metros acima do solo. Ao invés de nos assustarmos, rimos muito, e não demorou até que percebêssemos que podíamos voejar pelos céus, como perfeitos personagens de história em quadrinhos. Nossas estripulias chamaram a atenção de pastores, mas a um simples influxo mental compartilhado, pudemos nos tornar invisíveis.

Nossas fantásticas habilidades faziam com que nos sentíssemos seguros em enfrentar qualquer perigo em qualquer lugar, e resolvemos empreender viagem, seguindo nossa intuição ou algo parecido, que nos levou à Antártida. Como em nossa experiência no Ártico, achamos enorme abertura, próxima ao polo sul, porém, camuflada por campos de força, que não foram competentes em ocultá-la de nossos sentidos apurados, nem em nos impedir de penetrarmos por ali, em direção ao subterrâneo. Logo observamos a presença de muitos alienígenas.

Por uma extensão de muitos quilômetros, abaixo da superfície, ao longo do trajeto, havia fortificações, ora alienígenas, ora humanas, ora mistas. Grandes núcleos militarizados, em que todos os personagens (mesmo os extraterrestres) vestiam uniformes e agiam como soldados. Vimos crianças e mulheres, o que indicava residentes, mas também estavam uniformizadas, e pareciam não ter muita liberdade de ação, dentro daqueles complexos, onde também pudemos ver pessoas escravizadas ou lobotomizadas, a julgar pelo tipo de movimentação e aparência.

Tínhamos de entender, plenamente, o que ocorria e seguimos nos aprofundando, até que encontramos uma comunidade subterrânea bastante grande, totalmente dominada pelos invasores e também escravizada. Ali terminava o caminho, e prescrutando o íntimo de alguns habitantes, soubemos que toda a comunicação com outras comunidades subterrâneas fora suprimida, as cavernas obstruídas e aquele espaço isolado, para fins militares e experiências.

Súplicas e preces nasciam no íntimo daquelas pessoas e chegavam às nossas mentes, implorando por ajuda, mas antes que pudéssemos fazer algo, deveríamos entender melhor o que ocorria, para estabelecer um critério adequado de ação. Mesmo nos sentindo capacitados para tal empreita, temíamos por reações desconhecidas ou colaterais.

Ainda refletíamos sobre o que fazer, quando vimos movimentação ruidosa, que resultou em projeção de feixe luminoso intenso, saindo de um canhão desconhecido, atravessando a extensão de subsolo ocupada e seguindo pelos céus, em direção à lua. Teríamos de investigar o aparato, pois ali parecia estar o esclarecimento que pretendíamos, para poder agir.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 04/03/2016
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