A TERRA NÃO ESTÁ SÓ - capítulo 19 - OS IRMÃOS SELENITAS

Sem conseguir mover um músculo sequer, meu ângulo de visão era restrito, mas entendi que estávamos deitados em mesas cheias de aparelhamento tecnológico de análise, além de instrumentos cirúrgicos, diferentes mas inconfundíveis. A morte não era problema, pois minha memória ancestral restaurada continha informações detalhadas sobre a organização de dimensões adjacentes à física, onde a existência prosseguia, mesmo que em moldes diferenciados. Mas nossos captores não se importavam em nos fazer sentir dor extrema.

Quando homens, acompanhados de aliens, aproximaram-se, esperei o pior, mas após lentos segundos de silêncio notei todos paralisados. Ao mesmo tempo, espécie de fumaça ou plasma se ergueu do chão. Eram colunas sinuosas, sem forma definida, brancas, em movimento constante. Luz verde, intensa, invadiu o ambiente e nos devolveu os movimentos.

Assim que me levantei e vi que todos estavam bem, uma das colunas veio até mim.

- A paz esteja conosco, irmãos de fora. Estamos aqui para auxiliá-los.

Eram criaturas plasmoidais, inteligentes e avançadas, que, curiosamente, comunicavam-se através de palavras, por intermédio de cordas vocais plasmadas ao longo de seus corpos indefinidos. Descobrimos depois que conheciam, praticamente, toda a conformação, presente e passada, dos povos terráqueos, seus costumes e idiomas. Viviam há muito tempo por aqui.

- Temos uma trajetória semelhante, em alguns aspectos, à de vocês. Nosso povo vem do quadrante gama de nossa galáxia, e evoluímos de forma muito diferenciada, em relação aos humanoides convencionais. Quando se iniciou a experiência de formação genética neste orbe, fomos chamados para habitar este satélite e monitorar ocasionais intervenções alienígenas não alinhadas com o projeto. Como habitamos o subsolo profundo e não temos registros orgânicos facilmente detectáveis, vivemos aqui por milhões de anos, sem que notassem nossa presença.

- Após todo esse tempo, creio que várias gerações de seus iguais nasceram aqui.

- Poucas! Vivemos milhões de anos terrestres, mas já podemos nos considerar selenitas autênticos, de acordo com denominação do astrônomo humano Kepler. Agindo de acordo com a Aliança e os Guardiões, já expulsamos alguns invasores, cerceamos o trabalho de outros, freamos suas incursões no subsolo do planeta e na Lua, mas estamos impedidos de atacá-los ou destruir suas bases, por conta do princípio do livre arbítrio. Quando fomos informados de que vocês se dispuseram a vestir a carcaça humana, para poder agir em defesa do planeta, livremente, passamos a acompanhar seu trabalho, até que vieram parar aqui.

- E, pelo jeito, puderam nos salvar na hora certa. Estávamos nas mãos deles.

- Criamos um lapso temporal, uma pausa que eles não têm como identificar. Queríamos avisá-los que viríamos, mas não pudemos nos comunicar, mentalmente, com vocês. As ondas mentais que vocês emitem nos enlouquecem, por isso vivemos protegidos. Não temos cérebro como os humanoides, e nossas células plásmicas têm estrutura cognitiva plena, que não se coaduna com seu metabolismo, impedindo interação direta. Agora estamos à sua disposição.

- À nossa disposição? Para que, exatamente?

- Agora podemos contar com vocês para expulsar todos os invasores e seus objetivos escusos. Criaremos anomalia ambiental, forçando a evacuação do subsolo da Lua. Humanos, aliens e seus equipamentos, estarão todos na superfície, e seu grupo poderá agir.

- Não conseguimos enfrentar o feixe fotônico que possuem.

- Essas armas são aceleradores, que criam micro singularidades nas pulsações que emitem, mas podemos usar nossa habilidade de manipulação do tempo, para desviar todas as implosões de contato, tornando-as inofensivas. Nessa manobra se encerra nossa limitação.

Não perdemos mais tempo. Com nossas habilidades restauradas, retiramo-nos daquele ambiente, enquanto o tempo ainda estava suspenso. Assim que nos vimos em espaço aberto, os selenitas reativaram a sequência temporal, ao mesmo tempo em que diversos sismos fortes ocorriam, provocando o afloramento de seres e máquinas, conforme prenunciara nosso amigo plasmóide. Ao nos identificarem, tentaram nos atingir, mas agora tudo estava a nosso favor.

Eles não entendiam o insucesso de seu poder bélico, mas nem tiveram tempo de pensar a respeito. Projetamos campo reverso por toda a tênue atmosfera da Lua, inutilizando armas, equipamentos, naves e fazendo todos os seres desfalecerem, enfraquecidos.

Graças aos selenitas, a situação se invertera e tínhamos, agora, controle quase total.

Percebemos, porém, a aproximação de seis naves desconhecidas e hostis. De onde?

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 18/03/2016
Código do texto: T5578000
Classificação de conteúdo: seguro