UMA LOURA À JANELA - 29

James deu o copo d’água para Mary beber. A moça bebeu a água avidamente, agradecendo o detetive com o olhar.

– Agora, eu posso falar – disse ela, com voz rouca.

– Conte-me tudo, enquanto eu a liberto – pediu James, reiniciando o trabalho de livrar Mary das cordas.

A jovem lhe contou tudo o que sabia a respeito da maneira como fora trazida para aquela casa.

– Depois que o senhor saiu, aquele rapaz de cabelo de fogo... foi me buscar um copo de bebida. Ouvi, então, um baque, como se ele tivesse caído, e um gemido. Quando fui ver o que tinha acontecido, alguém me atacou. Lutei o quanto pude, mas fui subjugada e puseram-me no nariz um lenço... Ele tinha um cheiro nauseante.

– Era clorofórmio, sem dúvida.

– Dali a pouco, eu senti tudo girando e comecei a perder os sentidos. Recordo vagamente que alguém me estendeu no sofá e começou a remexer em tudo... procurando algo. Não tenho certeza, mas parece que uma voz falou: “Ela deve estar com a maldita coisa!” Em seguida, carregaram-me; e descemos por um elevador. Percebi que o elevador não era o mesmo que havíamos usado para subir.

James concluiu que o sujeito que atacara Tommy Logane tinha usado a entrada de serviço. E, naturalmente, saíra pelo mesmo lugar.

– A partir daí, tudo se apagou – continuou Mary. – E, no momento em que recobrei a consciência, estava nesta cama, amarrada. Um homem estava inclinado sobre mim, massageando-me a nuca.

– Sabe quem é ele? – Indagou James. – Já o tinha visto antes?

– Não sei... Nunca o tinha visto... – Respondeu a moça. – Ele veio até aqui mais três vezes. Veio trazer-me alimento e água.

– Viu o rosto dele?

– Não. Ele usava uma máscara. Embora tenha me amarrado e me amordaçado, tratou-me sem violência. Ele diz que não me faria mal algum...

– Psiu! – Fez James.

Mary se calou. Ela e o detetive puseram-se à escuta, com os nervos tensos.

James foi sorrateiramente até a porta e amaldiçoou-se em pensamento. Julgara ouvir o ranger de uma tábua, mas não havia ninguém no corredor. James voltou a se ocupar com a corda e perguntou:

– Há algo em seu raptor que lhe dê alguma pista de sua identidade?

– Há qualquer coisa vagamente familiar em sua voz, mas... – Respondeu Mary. – Ele disse também que, se eu me casar com meu tio, serei posta em liberdade...

– Ele quer que você se case com seu tio?

– Foi o que deu a entender...

– Poderia ser alguém a mando de seu tio?!

– Eu não sei... Só disse que me libertaria, se eu prometesse me casar com meu tio... Foi o que ele falou textualmente. Mas isso é ridículo. Meu tipo não quer se casar comigo! Ele é meio irmão de minha mãe! E eu sei que ele nunca se refez da morte da única mulher que realmente amou. O próprio sujeito que me raptou disse que meu tio não sabe de nada disso e que ele está agindo por conta própria...

Os olhos da moça abriram-se subitamente.

James pôs-se, de imediato, de pé e voltou-se. Viu uma figura alta, mascarada. Percebeu também a sombra de algo que vinha descendo e pulou instintivamente na direção do mascarado. O seu pulo aumentou ainda mais a força do cassetete. E um relâmpago de luzes explodiu em seu cérebro, no instante que a pancada lhe acertou o crânio. Tentou lutar contra a escuridão que o envolvia.

James tentou conservar a consciência, mas foi caindo, pouco a pouco, num vazio negro.

Muito distante, uma voz, a mesma voz que o ameaçara pelo telefone, disse:

– Eu imaginei que você iria cair facilmente na armadilha...

O último pensamento consciente de James foi: “Agora, eu reconheço essa voz. É a de...” Depois, tudo se tornou escuridão.

continua na próxima sexta-feira

R F Lucchetti
Enviado por R F Lucchetti em 03/06/2016
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