TEACHER - DICIONÁRIO - CAP. 7

DICIONÁRIO – Capítulo 7

Laura entrou na sala de Gerson e perguntou:

- E então?

- Está escrito na cara dele, Laura. Ele está gamado por você!

Ela engoliu em seco e sentou-se numa cadeira, apoiando o rosto na mão.

- Não posso fazer nada. A causa das faltas dele é você. A menos que eu esteja muito enganado.

- E o que eu faço?

- Não é a primeira professora nessa situação.

- E o que as outras fizeram?

- Ou deixaram passar e esqueceram, ou os alunos saíram do campus com a devida empurrada... em última análise... elas se renderam e... perderam o emprego... O Dário pode ser até muito moderno, mas nunca permitiria que uma relação professor/aluno desse tipo fosse adiante aqui. Um dos dois teria que sair. É a norma da faculdade. Nós temos que exigir certo... respeito entre o corpo docente e o discente ou não há disciplina, entende?

- Amor não é desrespeito.

- Pra mim, pra você, pro Rupert... Ah, você sabe do que eu estou falando, Laura. Tem certas cabecinhas que ainda não sabem disso. Os pais dessa garotada nos pagam.

Laura soltou um longo suspiro de desalento e balançou a cabeça concordando.

- Acho que ele também concorda com isso... Mas eu não gostaria que ele perdesse o ano... por minha causa.

- Eu ainda vou tentar falar com ele. Não se envolva mais. Quanto mais distante você ficar dele, melhor pra ele e pra você. Evite-o, se possível. E o Rupert não me parece um doidivanas. Ele tem a cabeça no lugar... apesar de estar apaixonado.

- Eu sei. Ele já está fazendo isso por mim.

- Ótimo! Desse modo os dois sairão ganhando. Deixa o resto comigo… e que o Dário não venha a tomar conhecimento disso, hein?

- Obrigada, Gerson. Você é um grande amigo.

- A gente sai pra jantar qualquer dia desses e você me diz isso de novo.

Ela sorriu e levantou-se, saindo da sala.

Certa tarde, procurando pela professora Denise, da área de Jornalismo, Laura foi encontrá-la na redação do jornal da faculdade, junto com os alunos do Segundo Ano de Comunicação Social.

- Denise, você já usou o Oxford da biblioteca? Os outros dois estão ocupados e eu preciso dele urgente.

- Está ali, com o Rupert. A turma do Terceiro T.I. está trabalhando num artigo sobre cidades inglesas e ele me pediu.

Laura olhou para o outro canto da sala e viu Rupert diante da máquina de escrever. Ele ainda não a tinha visto. O barulho das máquinas não permitia ouvir quase nada ali dentro, a menos que fosse falado bem de perto. Laura gelou e ficou aflita. Precisava do dicionário, mas não estava com coragem de ir pedi-lo a ele.

- Depois eu pego então...

- Vai lá, mulher! Ele já deve ter usado, insistiu Denise. – Ele não é seu aluno?

- É...

- Então... Vá lá e peça a ele!

Laura resolveu não dar bandeira e aproximou-se do grupo. Tereza, Décio e Nelson estavam com Rupert trabalhando no projeto. Laura aproximou-se deles e cumprimentou:

- Bom dia!

Todos responderam, menos Rupert que ouviu a voz dela, mas continuou datilografando como se não tivesse ouvido.

- Bom dia, Rupert, ela insistiu.

Ele parou de bater nas teclas e olhou para ela.

- Oi.

E continuou datilografanfo, indiferente. Tereza, Décio e Nelson estranharam, mas apenas olharam uns para os outros.

- Eu vim só perguntar se você já usou o dicionário de inglês. Eu preciso dele.

Rupert não respondeu e ergueu as sobrancelhas olhando para o livro ali perto dele.

- Já sim, Laura, falou Décio, entregando o livro a ela.

- Obrigada, Décio...

- Só que a gente ainda vai usar daqui a pouco, falou Rupert. – Você poderia deixar com a Denise depois, por favor? Obrigado.

O tom de voz dele deixou até os colegas intrigados.

- Nós não vamos precisar dele, Rupert, falou Tereza baixinho.

- Eu vou, ele disse, tirando a folha de papel da máquina e levantando-se. – Deixa com a Denise, por favor, professora.

Ele falou olhando para ela com ar tão sério e distante que Laura mal pode respirar. Rupert afastou-se e foi entregar as folhas que havia datilografado ao rapaz que trabalhava na máquina impressora.

- Que deu nele? – Décio perguntou, baixinho para os dois colegas. – Isso é jeito de falar com a professora?

- Deixa ele, Décio, Laura disse, pois tinha ouvido o que ele falou. – Ele deve estar muito concentrado no trabalho. Eu deixo o dicionário com a Denise. Até mais...

- Tchau, Laura, falaram os três.

Ela afastou-se.

- O Rupert está tão esquisito, falou Nelson. – Primeiro para de frequentar as aulas dela e agora a trata assim... Que é que ele tem, Teca?

- E eu sei? - ela disse, dando de ombros.

- Ué, você não é a melhor amiga dele?

- Mas eu não sei de nada. Deve ser problemas em casa. E agora calem a boca que ele vem vindo aí.

Rupert aproximou-se de volta e sentou-se novamente.

- Falta bolar a manchete. Você trouxe alguma ideia, Décio?

- Pra que você vai querer o Oxford depois? – o rapaz perguntou.

- Estou traduzindo um livro para um amigo. Por quê?

- Porque do jeito que você falou com a Laura, deu a impressão de que você queria provocá-la. Que foi que houve, hein? Essa estória que você inventou de deixar Inglês pra DP não colou não, compadre.

- Se não colou, usa outra cola. Vamos trabalhar. A gente tem só mais meia hora. Tem a ideia ou não?

- Tenho, enfezadinho. Dormiu de jeans hoje? Arre!

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Welcome to my dreams...

CAPÍTULO 7

Velucy
Enviado por Velucy em 25/10/2017
Reeditado em 05/03/2021
Código do texto: T6152471
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