RP - ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA - PARTE 1

RETORNO AO PARAÍSO

ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA

PARTE I

Seis horas da manhã. O domingo amanheceu lindo em Casa Branca, uma pequena cidade do nordeste do Estado de São Paulo, há alguns quilômetros de Campinas. O dia convidava para um bom passeio.

Cláudio e Tânia estão de pé desde as cinco da manhã e aprontam-se para sair. Vão passar o dia em Poços de Caldas, cidade bem próxima dali e um dos pontos turísticos mais bonitos do Estado de Minas Gerais.

Tudo estaria muito bem se não fosse a campainha que toca, perturbando a paz do casal.

- Ah, meu Deus! - exclama ela, aborrecida, penteando os cabelos diante do espelho grande pendurado na parede do corredor. – Será que nem se pode pensar em sair para um domingo sossegado, sem que alguém venha atrapalhar? Hoje é domingo, poxa!

- Eu vou atender, ele diz, enquanto coloca o blazer.

Cláudio vai até a porta e, no mesmo instante em que a abre, cai em seus braços, como um fardo, Wagner, seu irmão mais novo, parecendo bêbado e rindo muito.

- Oi, maninho! Bom dia!

Cláudio tem alguma dificuldade em conseguir segurar o irmão e faz um grande esforço para levá-lo para dentro da casa, deitando-o no sofá. O rapaz não consegue ficar em pé, tão bêbado está.

- Que é que você está fazendo aqui a essa hora da manhã, Wagner? - Cláudio pergunta extremamente aborrecido.

- Vim fazer uma visitinha. Não posso ver meu irmãozinho num domingo lindo como esse? - diz ele com voz não muito firme. Aninha-se no sofá extremamente confortável e fecha os olhos. – Hum, que gostoso! - geme ele, agarrando-se a uma almofada.

Cláudio tem vontade de rir e de bater no rapaz ao mesmo tempo, mas também fica muito preocupado. Nunca tinha visto o irmão naquele estado, tão alcoolizado. Aquilo não era prenúncio de boa coisa.

Tânia vem até a sala e ao ver o cunhado jogado em seu sofá aponta para ele, estupefata, e pergunta:

- Que é que ele tem?

- Não dá pra perceber? Está bêbado... e pelo jeito ainda não foi pra casa hoje.

- Bêbado... - diz ela, com um sorriso irônico, balançando levemente a cabeça. – Mal saiu das fraldas...

Cláudio coloca as mãos na cabeça, tentando manter a calma e vai até o telefone.

- Pra quem você vai ligar? - ela pergunta.

- Pra fazenda, tentar falar com a Magda pelo menos.

- Fala logo com teu pai. Pede pra ele vir buscá-lo. Adoraria ver a cena...

Tânia coloca as mãos na cintura e anda em volta de Wagner. Ela não gosta muito do cunhado e esse sentimento é largamente correspondido por ele. Um faz tudo para ver o outro irritado.

Com o telefone ainda na mão, Cláudio desiste, temendo justamente ser atendido pelo pai que não receberia a notícia muito bem. Coloca o telefone no gancho e vai para perto do irmão.

- Desistiu? - ela pergunta.

- Eu mesmo vou levá-lo até a fazenda. Seo Leonardo não vai deixá-lo sair de casa por semanas, se souber que ele bebeu a ponto de ficar desse jeito, ele diz, batendo de leve no rosto do irmão. – Wagner!

- Como assim?! E o nosso passeio? - ela pergunta.

- A gente tem o domingo todo pra isso, Tânia. Eu vou dar um banho frio nele e lhe meter um café amargo garganta adentro e ele fica novo logo, ele diz, colocando o braço do irmão em volta dos ombros para poder levantá-lo.

- Mas isso não é problema seu, Cláudio! Pede pra alguém na fazenda vir buscá-lo.

- Como não é problema meu, Tânia? Ele é meu irmão e se veio até aqui é porque conta comigo.

- É um vagabundo! É isso que ele é!

Cláudio olha para ela querendo dizer mil coisas, mas sua educação e o respeito pela mulher não permitem.

- Ainda assim é meu irmão, diz em voz baixa, erguendo o fardo que mal consegue ajudá-lo a se levantar.

Wagner é carregado para o quarto do casal com bastante dificuldade e Cláudio o coloca debaixo de um chuveiro frio de roupa e tudo, onde ele resmunga e grita gemendo.

- Você está querendo me matar, caramba!?

- Num instante você vai estar ótimo, Cláudio diz, obrigando-o a colocar a cabeça debaixo do chuveiro frio.

Depois de enxuto e vestido com um roupão do irmão, deitado na cama do casal, Wagner é obrigado a tomar três xícaras de um café amargo e quase frio e, entre caretas, diz:

- Eu estava melhor como estava. Ai, minha cabeça! - ele geme.

Sentado diante dele, com o corpo apoiado nos braços sobre as pernas, Cláudio pergunta:

- Onde você passou a noite?

- Não te interessa... - ele diz, meio sem pensar, com a mão na cabeça já sabendo que vai receber o troco por dizer aquilo.

- Como não me interessa? Você bate uma hora dessas na minha porta, completamente bêbado, interrompe meu programa de domingo com a minha mulher e vem me dizer que não me interessa? Que não é da minha conta? Se você não me contar toda a história direitinho, eu vou lhe dar meia dúzia de palmadas que o papai nunca lhe deu, ou melhor, você já é bem grandinho pra levar meia dúzia de murros bem dados! Eu estou muito a fim de fazer isso...

Cláudio fecha as mãos em punho. Wagner vê que o irmão fala sério e erguer as mãos.

- Calma! Eu digo... Só que... eu não me lembro muito bem... Ontem à noite fomos até o clube Orleans no centro da...

- Nós quem? - pergunta Cláudio, já querendo perder a paciência.

- Eu e a turma. O Beto, a Sandra, a Dina, o Guto...

- Sei... Que mais?

- Bom... primeiro foi só refrigerante, depois a gente lembrou que tinha saído pra comemorar meu aniversário e o da Mônica... Aliás, não vai me dar os parabéns, maninho? Eu estou fazendo aninhos hoje, lembra? – ele diz, sorrindo, mas Cláudio não acha graça.

- Que Mônica?

- Essa mesmo que você está pensando. A única que a gente conhece. Mônica Martinelli Telles. Filha do doutor Jairo Telles.

Cláudio gela ao ouvir aquilo. Saber que a filha única do médico mais respeitado da cidade de Casa Branca, dono do hospital em que ele trabalha, estava no meio da farra, o faz quase não querer saber do resto da história.

RETORNO AO PARAÍSO – ERA UM VEZ... CASA BRANCA

PARTE 1

BOM DIA E BOM DOMINGO!

Velucy
Enviado por Velucy em 28/01/2018
Reeditado em 28/01/2018
Código do texto: T6238387
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