RP - ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA - PARTE 39

ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA

PARTE XXXIX

Na fazenda quase ninguém conseguiu dormir. Apenas Magda, sob efeito de sedativos, Diana, Elis e Tânia que, por mais que tentasse mostrar boa vontade e dando a desculpa de querer cuidar de Magda, deitou-se na cama ao lado dela e dormiu também.

Durante a madrugada pouco se conversou. Apenas o tique taque do relógio da sala diz alguma coisa: que o tempo passa e que tudo continua no mesmo ponto.

Jorge e Jairo, que chegou com o irmão à noite para dar apoio ao amigo, fazem companhia a Leonardo na biblioteca. Mônica e Bárbara ficam na cozinha com Matilde que está um pouco mais calma, mas não totalmente refeita. Chora de vez em quando, ao se lembrar do jovem patrão. Cláudio fica na sala, junto do telefone, torcendo para ouvi-lo tocar.

Às quatro da manhã, ele se levanta e abre a grande janela da sala. Os nervos estão em frangalhos. Ele coloca uma cadeira perto dela e se senta, apoiando os braços no parapeito. A noite está bonita e silenciosa. Ele esconde o rosto nos braços e não consegue mais segurar. Começa a chorar, tentando não ser ouvido.

Mônica vem à sala para lhe trazer um café e o vê ali. Coloca a bandeja sobre a mesa de centro e se aproxima dele. Toca seu ombro e segura sua mão. Ele se assusta e levanta a cabeça, mas quando vê que é ela a envolve e se abraça a sua cintura. Chora ainda mais. Ela não diz nada, apenas limita-se a acariciar seus cabelos, com as próprias lágrimas escorrendo pelo rosto também em silêncio.

Quando ele se acalma, se afasta dela devagar e percebe o que está acontecendo, toca sua barriga e ao se sentir tocada, Mônica se afasta.

- Desculpe... - ele diz, levantando-se e enxugando o rosto, afastando-se dela.

- Vim trazer um café.

- Eu não quero café e também não aguento mais esperar. Vinte e quatro horas... Um dia inteiro sem nenhuma novidade, um telefonema, uma maldita notícia, nada! Eu vou apelar para a polícia de Campinas, Ribeirão, até São Paulo, sei lá... Meu pai tem amigos em todo Estado. Meu irmão não está por aqui. Deve ter sido levado para outra cidade ou até pra Minas, porque... eu não quero acreditar que ele esteja...

- Posso te dar um conselho? – Mônica interrompe seu pensamento.

- Qual?

- Suba, tome um banho, troque de roupa, coma alguma coisa, depois vá falar com seu pai. Você está com uma cara horrível... doutor.

Ele se permite sorrir e esfrega o rosto cansado e molhado.

- Acho que vou aceitar o conselho. Eu já passei várias noites em claro sem dormir, mas sempre tinha alguma coisa pra fazer e não dava pra parar e pensar que alguém estava precisando de mim e eu não podia ajudar. Dessa vez... eu não sei o que fazer... e a sensação é... horrível.

- Já parou pra pensar que desta vez pode não ser você que tenha que fazer alguma coisa?

- Acho que você tem razão de novo ou estou muito cansado pra questionar.

- Não questione agora. Eu sei que você vai saber o que fazer quando se refizer.

Cláudio sobe, toma um banho no quarto do irmão, coloca roupas dele e, antes de sair, olha para a fotografia de Christy, primeira mulher de seu pai, num porta-retratos no criado-mudo ao lado da cama de Wagner. Senta-se na cama e o toca de leve.

- Dizem que as pessoas morrem e vão pra um plano que muita gente não entende e não pode explicar... Seja lá onde você estiver... cuida do teu filho... Eu sei que você deve tê-lo amado muito, apesar de tudo, e ainda deve amar... Cuida dele.

Ele se levanta e sai do quarto. Passa no quarto de Magda para vê-la, mas só vê Tânia deitada na cama, dormindo. Elis também dorme no berço, mas Magda não está.

Desce e encontra Mônica ainda na sala.

- Você viu a Magda?

- Ela desceu agorinha. Disse que ia até a capela rezar um pouco. Eu quis ir com ela, mas ela disse que queria ficar sozinha.

Cláudio sai da casa indo até a capela da fazenda que fica no meio de um jardim repleto de primaveras e roseiras. A capela foi construída a pedido da mãe de Leonardo nos anos vinte e Magda passou a cuidar do jardim e de todo o lugar como se fosse dela, depois que se casou com ele. O pequeno santuário tem como padroeira Nossa Senhora do Rosário e foi para lá que Magda foi. Quando Cláudio entra na capela, vê a madrasta ajoelhada no genuflexório de um dos primeiros bancos com as mãos postas e a testa apoiada nelas. Ele faz o sinal da cruz ao entrar e senta-se no mesmo banco em que ela está, mantendo certa distância. Quando termina a oração, Magda se benze e senta no banco. Quando percebe que ele está ali, aproxima-se e o abraça apertado por um longo tempo.

- Você está com o cheiro dele... - ela diz, quase num sussurro.

- Tive que colocar roupas dele, depois que tomei banho... Incomoda você?

- Não! Claro que não! - ela diz se afastando e acariciando a camisa.

- Você está melhor? - ele pergunta.

- Estou. Mônica foi mesmo de grande ajuda vindo pra cá. Ela foi um verdadeiro anjo cuidando da minha Elis e colocando nós duas para dormir... - diz ela sorrindo. - Eu vim pra cá... pedir perdão...

- Perdão? Por quê?

- Por ter sido tão fraca numa hora em que meu marido precisou de mim. Você precisou de mim... e eu só soube chorar e...

- Para com isso! Pelo amor de Deus, para com isso! Qualquer mãe se sentiria do jeito que você se sentiu, se passasse por uma situação igual, Magda.

- Não, Cláudio. A partir do momento que eu me casei com seu pai, eu me comprometi a ficar ao lado dele nos momentos bons e ruins.

- Tenho certeza que meu pai não está cobrando nada disso de você.

- Eu estou cobrando isso de mim. E a partir de agora eu não quero mais chorar, não vou mais chorar. Ele está bem. O Wagner está bem e vai voltar logo pra nós. Minha Senhora do Rosário me prometeu isso agora, ela diz, olhando para a imagem da santa no altar.

- Amém! - ele diz. – Eu vou sugerir pro papai que a gente vá até as cidades mais próximas de Casa Branca. Aguaí, Santa Cruz das Palmeiras, Rio Pardo... Quem sabe até pedir ajuda pra polícia rodoviária... Campinas... O papai tem boas relações com muita gente influente da região. Eu acho que o Wagner não está na cidade.

- É possível. Faça isso. Eu tenho certeza que ele está bem.

Cláudio conversa com o pai e Leonardo concorda com sua sugestão, uma vez que as coisas não se modificam.

- Eu vou com você, Leonardo, diz Jorge. – Antes, a gente passa na redação do jornal em Casa Branca e eu vou pedir pro pessoal colocar uma nota avisando todo mundo sobre o desaparecimento do garoto. Acho que se mais gente souber vamos ter mais gente ajudando a procurar ou pelo menos dando informações que podem ser importantes.

RETORNO AO PARAÍSO – ERA UMA VEZ... CASA BRANCA

FINAL DO PRIMEIRO CAPÍTULO

OBRIGADA E BOA TARDE!

DEUS ABENÇOE A TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 10/02/2018
Código do texto: T6249992
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