RP - ERA UMA VEZ... EM LONDRES? - PARTE 28

ERA UMA VEZ... EM LONDRES?

PARTE XXVIII

Tânia se afasta do marido e sorri.

- Você pode ter a sua liberdade agora, mas antes... antes todo mundo vai saber que grande cafajeste você é. Todo mundo vai conhecer o verdadeiro doutor Cláudio Valle. Falso, hipócrita, que se finge de bom filho, bom marido, bom genro, bom médico... sendo que não é coisa nenhuma.

- Do que você está falando? Você não sabe o que está dizendo.

- Não sei? Quem sabe? Quem é que sabe o que está dizendo, quando se trata de você, Cláudio Valle? Na nossa família, ninguém. Todo mundo está se iludindo com você, quero dizer... Nem todo mundo agora...

Ela enxuga o rosto e sorri, com ar maligno.

- Eu contei pra sua madrasta tudo que eu sei de você. Espero que ela cuide de passar pra frente e logo todo mundo vai estar a par. Ela não deve ter segredos com seu pai e ele é o primeiro que eu espero que saiba sobre o filhinho amado.

Cláudio percebe que não há possibilidade de diálogo com a mulher e vai até o telefone. Se é verdade que ela perdeu o bebê, ainda precisa de cuidados, e ele tenta ligar para a Santa Casa, mas antes que ele consiga discar o primeiro número, Tânia coloca a mão sobre o aparelho e o impede.

- Você não vai ligar pra ninguém. O assunto é só entre nós. Ninguém vai interferir agora. Ninguém tem nada com isso... por enquanto. Não tem nada que telefonar.

- Você não está bem, Tânia.

- Eu sabia que você ia dizer isso. Você vai tentar convencer todo mudo de que eu estou ficando maluca, mas eu não vou deixar... Antes disso, eu acabo com a sua vida.

Ele coloca o telefone no gancho novamente.

Há muito tempo imaginava que uma cena desse tipo viesse a acontecer, mas nunca imaginou que fosse sentir tanta pena e tanto medo dela ao mesmo tempo. Ele já tinha percebido que ela já não dava acordo de suas idéias, quando eles brigavam, mas que, mesmo assim, nas sandices que ela dizia sempre havia um quê de verdade e que naquele momento, ela seria capaz de tudo, até mesmo de matá-lo.

Nunca desejou tanto não ter dito tudo que disse na noite anterior e chega à conclusão de que tudo que faz para satisfação própria acaba resultando em tragédia.

A aventura com Mônica, resultante de um amor tardio, mas muito forte, e o único verdadeiro amor que já havia sentido e a vontade de se libertar de vez do casamento com a mulher pela qual apenas sentia muita pena, tinham custado a vida de seu filho.

Nada deu certo e tudo estava prestes a cair num profundo abismo, bastava só uma palavra dela. Os fatos estavam muito visíveis, muito claros. Não seria difícil provar tudo que ela ameaçava contar e ele provavelmente não seria perdoado pelo pai ou por ninguém da família da mulher. Era uma questão de dias, horas talvez para que tudo que estava certo, apesar de estar sob bases falsas, se transformar no caos total.

A gravidez de Mônica caía finalmente sobre sua cabeça como uma realidade gelada. Ele iria pagar bem caro por aquele erro, do qual não teria nem a alegria de tê-la junto dele. Ele ia perder a amizade do pai, do sogro, do amigo, quem sabe até do irmão.

Ele tinha que pensar rápido e escolher entre continuar sendo o bom filho de Leonardo Valle, desistindo assim do amor da primeira mulher que realmente amou em sua vida, para tentar salvar o casamento e a mulher com quem estava casado.

E é nesse debate interior que Cláudio se encontra ali, em frente ao olhar frio de Tânia. Ela não se mostra nem um pouco perturbada, aparentemente, como se tivesse prazer de deixá-lo confuso.

- O que você quer que eu faça? - ele pergunta.

- É você quem escolhe, meu bem... ou eu ou ela... e seu fim...

- Isso não é uma escolha, Tânia. Eu... não tenho direito a essa escolha... e você sabe disso. Não posso escolher entre você e ela. Eu sou casado com você. Não é tão simples assim.

- Eu acabei de dizer que te dou o desquite. Não é isso que você me pede há dois anos? Eu já não faço tanta questão de ser sua mulher agora. Agora você está na minha mão, doutor Cláudio. Faça sua vida com ela, mas não vai ser o mesmo que ficar comigo. Ninguém vai aceitar isso. Você traiu a família inteira... amor.

- E você está muito satisfeita com isso, não é?

- Não, não estou. Eu te amo... e nunca quis te perder... mas, se você gosta dela, vai ter que pagar o preço justo. Vai pagar por ter me feito fazer papel de boba... e por ter matado meu filho.

Ele sente as lágrimas surgirem.

- Isso não é verdade... Eu não pensei que... que isso fosse acontecer. Você sabia onde eu estava. Podia ter telefonado pra mim no hospital... quando...

- Por que eu deveria ter chamado por alguém que nem se importa mais comigo? Os vizinhos se importam mais do que você. Logo que você saiu, hoje de manhã, a dona Clara entrou aqui pra me ver, imaginando que eu estivesse sozinha e me viu passando mal. Foi ela que me ajudou. Se não tivesse sido ela e o filho... eu teria morrido aqui sozinha... e sinceramente... era isso que eu queria. Assim você ficaria com a consciência pesada pro resto da sua vida.

Cláudio enxuga o rosto.

- Eu vou te levar pro hospital...

- Eu não vou, ela diz calmamente. – Não precisa mais.

- Não seja criança. Um aborto não é brincadeira. Você tem que ser examinada. A dona Clara devia ter avisado alguém. Você poderia ter morrido mesmo...

Ele pega a chave do carro e vai segurar seu braço.

- Vem comigo.

Ela se desvencilha dele.

- Não...

- Por favor, Tânia.

Ela se afasta dele de costas e vai se sentar no último degrau da escada, abraçando-se ao corrimão e começando a chorar. Cláudio se aproxima dela novamente e se abaixa, pegando sua mão.

RETORNO AO PARAÍSO – ERA UMA VEZ... EM LONDRES?

PARTE 28

OBRIGADA E BOA TARDE!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 19/02/2018
Código do texto: T6258449
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