RP - ERA UMA VEZ... EM LONDRES? - PARTE 33

ERA UMA VEZ... EM LONDRES?

PARTE XXXIII

Wagner se ajeita no banco do carro e ia dizer alguma coisa, mas Stanley o interrompe.

- Não fale nada ainda. Você prometeu não me interromper.

O rapaz volta à posição anterior e o avô continua:

- Seu pai, apesar de ter quase vinte e quatro anos na época, era um moleque irresponsável e a única coisa que sabia era gastar o dinheiro que seu avô ganhava com o trabalho na fazenda de gado leiteiro que possuía no Brasil. Toda fortuna que Wagner Valle ganhava, ele consumia. Pra você deve ser duro ouvir isso agora, porque ele mudou muito, desde que você nasceu, mas era assim quando eu o conheci.

- Parece que o senhor está falando de outra pessoa, não do meu pai. Está difícil acreditar.

- Não se importe em acreditar ainda. Deixe-me continuar.

Wagner respira fundo, encosta-se no banco do carro e espera.

- Continue.

- Quando eu descobri que Leonardo estava querendo brincar com a minha neta, eu fiz de tudo para afastar da cabeça dela a ideia de ter alguma coisa a sério com ele. Tentei dissuadi-la a não encontrá-lo mais e esquecê-lo. Ela não me ouviu. Já estava apaixonada e continuava se encontrando com ele sem minha permissão. Isso me deixava furioso...

Mr. Russel se interrompe para falar com Teo.

- Pare, quando passarmos na Torre do Parlamento, Teo.

- Sim, senhor.

- Você já viu o Big Ben, Wagner?

- Só por fotografia e pela televisão.

- Vai vê-lo hoje, ao vivo e a cores.

O carro vai se aproximando da enorme torre e parando. Depois que o carro estaciona no meio fio, Teo desce do veículo e abre a porta. Mr. Russel e Wagner descem. O enorme relógio marca um minuto para as seis horas. Wagner ergue os olhos para ver o topo da torre.

- Bonito, não? - Mr. Russel pergunta.

- Um inglês não deveria chamá-lo só de bonito. É lindo!

De repente, do alto da torre, ecoa um som forte e profundo além de imensamente alto. Seis vezes se repete aquele som que registra as seis horas do início da noite. Quando as badaladas cessam, Wagner respira fundo e coloca a mão no peito.

- Fica um vazio dentro da gente.

- Eu sinto a mesma coisa e olhe que eu moro aqui desde que nasci. Aquele sino pesa treze toneladas e parece cair dentro da gente quando bate.

- São nove horas no Brasil...

- Está com saudades?

- Muita... o sino da matriz de Nossa Senhora das Dores não pesa tanto assim, mas eu daria tudo para ouvi-lo agora.

- Você vai ouvi-lo em breve.

- Quando? - ele pergunta, olhando para o avô.

Mr. Russel sorri e volta a entrar o carro, sem responder. Wagner olha para Teo que permanece de braços cruzados ao lado do carro.

- Você tem um cigarro?

- Tenho, mas é melhor você não fumar aí dentro. Mr. Russel não gosta.

- Quem disse que eu vou fumar dentro do carro?

- Dê o cigarro a ele, Teo, Mr. Russel manda de dentro do carro.

Teo morde o lábio inferior, contendo-se. Wagner sorri sutilmente e abre a mão. Teo retira a carteira do bolso e estende a Wagner que pega um e diz em voz baixa:

- Eu não tive culpa agora, tive?

Teo não responde. Acende o cigarro e entra no carro. Wagner fuma o cigarro todo fora do carro e depois entra. O passeio prossegue.

- Aprendeu a fumar com seu pai? Ele também fumava, quando se encontrava com Christy.

- Não, aprendi na rua. Meu pai parou de fumar, quando minha madrasta ficou grávida da minha primeira irmã. Ela fez ele parar e ele nunca mais fumou. Ninguém fuma lá em casa, nem eu. Só fora de casa mesmo.

- Está nervoso?

- Um pouquinho.

- Onde tínhamos parado?

- Nas escapadas da mamãe com o meu pai. E depois...

- Essa situação durou dois meses. Várias vezes, mandei meus guarda-costas atrás deles e teve até uma vez em que deixei minha neta presa no quarto por uma semana. Mas não teve jeito. Certo dia, eu entrei no quarto e ela não estava mais lá. Havia fugido com ele.

- Pro Brasil?

- Não, inicialmente fiquei sabendo que estavam na França, numa cidade chamada Calais, à beira mar. Seu pai iludiu minha neta de todas as maneiras possíveis e imagináveis, acredite. Eu tenho certeza que se ela soubesse o tipo de homem que ela era, não teria ido com ele.

- Mas que tipo de homem meu pai era? Até agora, eu não vi nada errado. Eu acho que faria a mesma coisa, se gostasse de uma garota e a família dela se opusesse. E se ela me quisesse também, é claro. Eles se amavam, caramba!

Mr. Russel fica pensativo por um momento e olha para o bisneto indeciso.

- Que foi, vovô?

- Eu tenho receio de lhe contar coisas... Coisas que podem lhe fazer mal. Você tem hoje uma imagem muito diferente do seu pai. Pra você, ele é o melhor homem do mundo, não é?

- Ele é o melhor homem do mundo pra mim, sempre foi. É o melhor pai do mundo.

- Então você não está acreditando em nada do que eu digo.

- Pode até ser verdade, mas o senhor não disse nada que me fizesse crer que ele foi um vigarista, um cafajeste. Não o suficiente pra curtir esse ódio todo.

- Eu ainda não contei a história toda.

- Eu estou esperando...

- Se eu lhe contar mais, nosso passeio vai ser estragado completamente. Deixemos pra quando estivermos em casa.

- Mas, vovô...

- Teo, vamos pela margem do Tâmisa.

- Sim, senhor.

- Eu gostaria que o senhor continuasse.

- Em casa. Não se preocupe. Nós temos muito tempo pela frente.

RETORNO AO PARAÍSO – ERA UMA VEZ... EM LONDRES?

PARTE 33

OBRIGADA E BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Velucy
Enviado por Velucy em 21/02/2018
Código do texto: T6259856
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