RP - ORLEANS - PARTE 11

ORLEANS*

PARTE 11

Wagner fica olhando para Gart. Beto grita:

- Ei, Wagner! Só falta você! O Leo se mandou!

Wagner vai se sentar na moto de Guto, coloca o capacete e liga o motor, ainda olhando para Gart. O barulho dos motores é imenso e Dina dá a partida para o início. Aos poucos, o silêncio vai voltando com o afastamento de todos.

O percurso é longo e, como as ruas estão praticamente vazias, não há perigo de acidentes, porque esse percurso já é demarcado por eles fora do centro da cidade. Enquanto isso, as garotas e os rapazes que ficaram, sentam-se na calçada ou nos para choques dos carros para esperar a volta dos corredores.

- Quando tempo demora pra eles chegarem aqui de volta? - Gart pergunta a Guto.

- No mínimo uma meia hora. Eles percorrem os arredores da cidade toda. Toda a volta. E como a cidade não é muito grande e as motos são bem velozes...

- Mas já teve um recorde de vinte minutos, diz Dina.

- Quem bateu?

- O Guto, ela diz, beijando o namorado.

- Foi no dia em que eu quebrei essa perna. Ia tudo bem até passar pela chegada. Na pressa de parar a moto, eu fiquei sem controle e me esborrachei todo. A danada caiu em cima de mim. Meu pai pagou uma nota pra colocar a máquina em forma de novo. E claro que eu não disse nada no hospital que tinha sido corrida, senão o irmão do Wagner e o doutor Alonso terminavam de me matar lá mesmo. Ninguém sabe de nada até hoje. O doutor Cláudio, irmão do Wagner, até percebeu o que tinha sido, mas ficou quieto. Ele é muito gente fina.

- Mas ninguém até agora conseguiu fazer um percurso menor que trinta minutos, diz Dina.

Guto olha no relógio.

- Dois já se foram. Essa o Wagner ganha. Tenho certeza. Com a minha máquina...

- Nunca aconteceu nenhum acidente grave?

- Já... tem uns dois, três anos. Com um carinha que estudava com a gente aí no Francisco Thomaz, no colégio, e fazia parte da gangue. Na época, nós ainda éramos novatos nesse negócio de andar de moto. O Wagner mesmo era menor, ainda nem tinha. O nome do cara é... como mesmo, Dina?

- Alberto...

- Gilberto, corrige Sandra, sentada ali perto, no para-choque da caminhonete, ouvindo toda a conversa.

- É, Gilberto. A gente até achava engraçado chamar o Beto e ele pelo mesmo apelido. Era um tal de Beto Lage e Beto Silva, quando os dois estavam juntos. Ele tinha a minha idade...

- Tinha? Ele morreu?

- Não, graças a Deus, não. Foi só jeito de falar. Ele só teve que sair da cidade... No meio da corrida, a moto se desgovernou e ele foi dar de encontro com um caminhão estacionado perto do supermercado Nossa Senhora Aparecida, do pai do Beto, lá em cima, perto da saída da cidade. Ele ficou uma semana em coma e quebrou todos os dentes da frente, costelas, braço, perna, tudo. Aquele devia ter vida de gato. Depois do acidente, ninguém da turma pôde nem olhar pras motos, por dois motivos: primeiro, porque dava medo só de pensar no acidente e segundo, porque nossos velhos proibiram, com ameaça de morte até, se a gente olhasse pelo menos pra elas. Ficamos uns seis meses com as máquinas encostadas.

- E quem voltou à ativa?

- Adivinha? - Guto pergunta, sorrindo.

- O Wagner?

- O próprio. Ele, que na época não tinha nem moto, quando ganhou no aniversário de dezoito anos do pai da madrasta, meteu na cabeça de todo mundo que tudo aquilo era bobagem. Que acidente de moto acontece até se você está andando de patins, se tiver que acontecer. Palavras dele.

- E o rapaz?

- Se mudou daqui logo depois que saiu do hospital. Ninguém mais soube dele, mas tenho certeza de que ninguém nunca conseguiu se esquecer daquele dia.

- Mas de lá pra cá, todo mundo aqui já foi carimbado, diz Sandra. – Todos já caíram da moto ou bateram com o carro. Ninguém tem juízo.

- E quanto menos juízo nós temos, mais vocês gostam.

- Que jeito? Só sobraram vocês mesmo... diz Dina.

- E já está muito bom. O futuro está nas mãos da juventude. De todos nós.

- Coitado dele, se lamenta Sandra, rindo em seguida.

O barulho de uma moto vem interromper a conversa. Guto olha para o relógio.

- Não pode ser. Cinco minutos ainda!

- Não são eles. É o Leo, diz Janete.

A moto de Leo se aproxima e ele está sozinho. Gart se levanta e fica intrigado.

- Aonde você andou, Leo? - Guto pergunta.

- Por aí. Fui dar uma volta, diz ele, olhando rapidamente para Gart. – E o pessoal?

- Correndo.

- Não diga. Eles foram sem mim? Que pena que eu perdi. Faz muito tempo?

- Não dá nem pra você alcançar a rabeira do último. Já estão quase voltando.

- Droga!

Chateado, ele entra no clube. Gart entra atrás dele. Leo senta-se à mesa e se serve de um copo de refrigerante.

RETORNO AO PARAÍSO – ORLEANS

PARTE 11

OBRIGADA E BOA TARDE!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 26/03/2018
Código do texto: T6291299
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