RP - ORLEANS - PARTE 18

ORLEANS*

PARTE 18

Leonardo não responde. A emoção não deixa. Wagner se aproxima dele e coloca a mão cautelosamente em seu ombro.

- Eu não queria dizer isso... desse jeito... Desculpa. Era por isso que eu não queria conversar com você agora. Eu fui pra cidade encontrar com meus amigos pra ver se descarregava um pouco dessa tensão que estava me apertando a garganta. Dançar ajuda um pouco... mas não foi o suficiente... A morte dele me chocou muito. Nem foi tanto a morte, mas... os motivos que o levaram a ela. O que matou aquele velho não foi o enfarto, foi a solidão, a... falta de carinho. Há muitos anos que ele não recebia uma palavra de carinho de alguém do seu sangue. Ele morreu feliz, porque eu provei pra ele que tudo que eu sentia por ele era verdadeiro e não tinha nada a ver com dinheiro. Eu gostava dele de verdade... mesmo tendo passado tão pouco tempo a seu lado. Eu espero que você tenha se arrependido de tudo que o fez passar.

Leonardo volta-se para ele com o rosto molhando, mostrando uma dor muito profunda.

- O que eu quero saber agora é... se você me perdoa.

- Não, não é nada disso, pai. Não sou eu quem tem que perdoar você. Você não fez nada de mal pra mim. Há vinte anos, eu conheço um homem cem por cento pai, cem por cento amigo, cem por cento tudo. Não é pra mim que você tem que pedir desculpas... Mas pro meu irmão e... pra mãe dele.

- Seu irmão?

- Eu sei que ele é filho de outra mulher... que não é minha mãe...

Leonardo se afasta dele novamente e vai se sentar na cadeira.

- Mas seu irmão sabe de tudo e nunca se importou com isso. Eu nunca escondi nada dele... Cláudio já me perdoou.

- Perdoou antes de saber que a mãe estava viva... Você não contou isso pra ele.

- Até isso Stanley Russel te contou...? Meu Deus...

Leonardo coloca a cabeça entre as mãos. Wagner se aproxima do pai e se abaixa perto dele.

- Pai, eu não culpo você por nada. Mas acho que não dá pra aceitar você ter enganado ele por todo esse tempo, sendo ele o filho que é. Quando eu fiquei sabendo que ele sabia da estória toda... poxa, é ser filho a bessa pra perdoar um erro desse. Eu não sei se perdoaria você, se tivesse sabido disso aos quatorze anos. Não depois de ter passado tudo que ele passou sendo criado por uma mulher que não era a mãe dele e que o odiava. Não sei se eu é que sou filho de menos, ou se ele é que é filho demais. Mas agora eu entendi que meu irmão é mais inteligente, mais humano e mais equilibrado do que eu pensava. Eu só tenho que te agradecer por ter me feito irmão dele.

Leonardo olha para o filho pensativo, depois toca sua mão e diz:

- Não há perdão para o que eu fiz, filho. Concordo com você. Seu irmão foi... desculpe a franqueza... foi a melhor coisa que Deus poderia ter me dado, depois de tudo que eu fiz. Eu amo você e suas irmãs demais, do fundo do meu coração. Amo a vocês três de forma igual. Mas Cláudio suportou coisas... que uma criança normal não deve suportar. Sua mãe foi tudo de ruim que uma criança pode ter. Eu me arrependi amargamente de tê-la trazido pra cá. Eu percebi que não a amava em pouco tempo, depois que meu pai morreu, depois que Cláudio veio pra essa casa, trazido por ele. Cláudio passou a ser o centro da minha vida, minha única razão de viver. Também não amei a mãe dele, embora... ela fosse uma moça muito doce, muito simples... Mas eu nunca amei mulher nenhuma antes de conhecer Magda. Lucila foi um erro... e eu saí desse erro pra cair num outro pior. Mesmo assim... acho que Deus deve ter tido muita pena de mim, porque em vez de me castigar, ele me recompensou. Me deu vocês dois, Magda e as meninas. Não posso pedir mais nada... não tenho esse direito. Venho pedindo todos esses anos que Ele me perdoe e ajude vocês dois a não fazerem o que eu fiz. Eu já disse isso ao Cláudio e digo a você agora. Não quero... e não viveria se perdesse a sua amizade.

- Não vai perder. Mas... e se um de nós caísse num deslize e fizesse a mesma coisa que você fez?

Leonardo franze a sobrancelha, pensa um pouco e responde:

- Eu... tentaria entender. Não foi isso que eu ensinei a vocês, mas... tentaria entender.

- Bom saber, ele diz, sorrindo. – Nós somos e vamos continuar sendo amigos, pai, de minha parte, não há porque mudar. Mas ainda vai chegar o dia em que você vai ter que provar o que acabou de dizer.

- Não entendi, filho.

- Quem erra e se conscientiza do erro, tem a capacidade de perdoar o erro de outra pessoa. Você seria capaz disso, se essa pessoa fosse um de nós dois?

- Acabei de dizer que sim.

- Era só isso que eu queria saber.

Ele se levanta e beija a testa do pai.

- Boa noite, pai.

Leonardo o segura pelo braço.

- Wagner, você não...?

- Não, fique tranquilo. Boa noite. Vá dormir. Eu te amo.

RETORNO AO PARAÍSO – ORLEANS

PARTE 18

OBRIGADA E BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

BOA PÁSCOA E LEMBRE-DE DO MOTIVO: JESUS CRISTO!

Velucy
Enviado por Velucy em 29/03/2018
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