RP - EXÍLIO - PARTE 2

EXÍLIO

PARTE 2

Cláudio e Lopes apertam-se as mãos e o médico monta em Diamante, que segue na direção do pasto a galope, como se soubesse a intenção dele.

O cavalo dispara pelo pasto a toda velocidade e não para até chegar aos limites entre a fazenda Quatro Estrelas e a fazenda vizinha. Quando Diamante para diante da cerca e fica olhando para a imensidão do campo vizinho, onde ele não pode continuar correndo, porque a cerca o impede, Cláudio abraça o pescoço do animal, sorri cansado e suado e diz:

- Chega, não é, garoto? Você nunca foi além daqui. Já chega por hoje. Vamos voltar? Vamos voltar devagar agora. Eu não tenho mais pressa. Vamos?

Diamante se ergue nas patas traseiras e relincha alto, como se estivesse feliz. E os dois começam a voltar numa cavalgada suave. Cláudio começa a observar cada palmo de terra que conhece tão bem e a emoção toma conta dele. Começa a chorar e agradecer a Deus por ter sido criado num lugar como aquele. Cada árvore, cada pedra no chão, ele tenta guardar na mente para que não esqueça nunca mais, agora que vai ter que deixa tudo aquilo.

Ele vê os peões da fazenda vigiando ao longe o gado e eles o reconhecem. Ele se aproxima e enxuga o rosto, pois na verdade eles não entenderiam, porque ele estaria chorando.

- Bom dia, doutor!

- Bom dia! - ele responde.

- Veio matar a saudade de novo? - pergunta Robério, sorrindo.

- É... Eu não quero esquecer de como isso era bom. Bom trabalho! Deus os abençoe!

- Amém, doutor.

Ele se afasta e volta para a fazenda ainda devagar. Ao passar diante da capela de Nossa Senhora do Rosário, ele desce do cavalo, se aproxima da capela e se ajoelha ali mesmo no primeiro degrau da escada. Abre os braços e reza o Pai Nosso com os olhos fechados, depois pede:

- Perdão, meu pai. Perdão por tudo... E fica comigo... por favor...

Depois se ergue, pega as rédeas de Diamante e vai a pé até a casa grande. Deixa o cavalo livre no terreiro e entra na casa com o coração mais leve, mas ainda muito triste. Ao vê-lo entrar, Magda está na sala com Wagner, já chorando, pois já sabe o que está acontecendo e aproxima-se dele aflita. Cláudio a abraça e olha para Wagner.

- Onde ele está?

- Subiu pra apanhar um casaco. Ele vai até Ribeirão Preto.

Linda vem descendo com Diana que, ao ver o irmão, corre e joga-se em seus braços.

- Que bom que você veio cedo! Já viu o bolo da Elis? Ficou tão bonito.

- Eu vejo depois, Didi...

- Vem ver a charrete que ela ganhou do vovô. Está lá na cocheira.

Ela o puxa pela mão e Cláudio olha para Magda:

- Diz pro papai que eu quero falar com ele e estou lá na cocheira.

Os dois saem. Magda começa a chorar. Wagner a abraça.

- O que vai acontecer com ele, filho?

- Nada... Não fique assim. Só reza pra Nossa Senhora do Rosário. Pede pra ela ficar com ele.

Diana leva o irmão para a cocheira e lhe mostra a charrete em miniatura que Ivan mandou buscar no aeroporto e que chegou logo de manhã.

- Não é linda? Cabe ela direitinho. Quando o potrinho dela estiver maior, ele é quem vai puxar.

- É muito linda sim... ele diz.

- Ele trouxe uma máquina de filmar e uma máquina fotográfica pra mim. Disse que dá futuro tirar fotos das pessoas. Você quer ver?

- Diana, agora, eu preciso falar com você...

- Falar comigo? O quê? Você está esquisito. Você está triste?

Ele vai até um fardo de feno e se senta nele, fazendo-a sentar-se ao seu lado.

- Querida, eu vou embora... Vou viajar.

- Viajar? Pra onde?

- Eu não sei ainda pra onde. Eu vim só pra me despedir de você... e do pessoal...

- Mas justo hoje? Justo no aniversário da Elisinha?

- É que tem quer ser hoje...

- Por quê? Que é que você vai fazer nesse lugar que você vai? É tão importante assim? Você vai pra São Paulo com a Tânia?

- Não, eu não vou com a Tânia, mas é muito importante sim. Você vai entender depois.

- Explica agora. Quando você volta?

- Eu não sei... ele diz, começando a ficar emocionado e olhando para as mãos dela.

- Não sabe? Você está escondendo alguma coisa de mim, Cla?

- Eu vou embora porque... eu briguei com o doutor Jairo, com os pais da Tânia e... talvez brigue com o papai também... ainda hoje.

- Brigar com o papai? Por quê? Você nunca briga com ninguém. O que está acontecendo? Não estou entendendo nada.

- Meu bem, eu não posso te explicar agora.

- Que foi que fizeram pra você?

- Ninguém fez nada pra mim. Fui eu que fiz...

- O quê? O que foi que você fez, Cla? - ela pergunta, começando a chorar, ao vê-lo chorar também. – O Wagner faz as coisas erradas e é você que tem que ir embora?

- O problema é justamente esse... Não foi o Wagner que fez coisa errada... fui eu...

- Que... Que coisa errada você fez?

Cláudio sente, apesar de estar de costas para a porta da cocheira, que o pai está ali e, ainda olhando para Diana, diz:

- Eu me apaixonei por uma outra mulher... que não é a Tânia...

Confusa, Diana começa a perguntar:

- Outra mulher? Que outra mulher? Por quê? Por que você não gosta mais da Tânia? Porque ela não gosta do Wagner? Quem é essa outra mulher?

- A Mônica...

Ela se levanta e olha para o irmão com uma pequena ruga de estranhamento na testa.

RETORNO AO PARAÍSO – EXÍLIO

PARTE 2

OBRIGADA E BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 14/04/2018
Reeditado em 05/11/2020
Código do texto: T6308059
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.