RP - EXPEDIÇÃO BANDEIRANTES - PARTE 4

EXPEDIÇÃO BANDEIRANTES

PARTE 4

Wagner não fala mais nada. A voz de Salomão sempre lhe causou arrepios de medo e mesmo agora, já crescido, não pode dizer que esse medo se acabou. Mônica se aproxima dos dois.

- Oi, Salomão...

- Traz as malas dela, o velho pede a ele.

Wagner pega a mochila das mãos dela e a pequena maleta e coloca tudo num canto da cabana. Mônica entra nela e vê que, apesar de pequena, é muito acolhedora e sente, vindo do fogão a lenha, um cheiro muito suave de chá de erva cidreira.

A moça olha para Wagner e ele diz:

- Não saia daqui. Seu pai provavelmente vai te procurar e é melhor não bobear. Eu volto amanhã cedinho.

- Não se preocupe. Obrigada.

Ele olha para o velho, já perto do fogão.

- Tchau, Salomão. Obrigado.

Salomão não responde, nem sequer se volta. Wagner vai para perto da moto e Mônica o acompanha.

- Eu não passaria a noite aqui nem morto.

Ela sorri.

- Você te medo dele?

- Não sei... Mas eu nunca gostei desse lugar. Me gela o sangue. O Cláudio me trazia aqui de vez em quando pra tentar me fazer acostumar, mas... nunca teve sucesso.

- Ele não tinha medo?

- Ele vinha sozinho aqui, às vezes, e ficava horas conversando com o velho. Não sei o que conversavam. Você viu que o papo dele é quase monossilábico.

- É só um velho sozinho.

- É, que bom que você pensa assim. Tchau, até amanhã. Fica bem.

Eles se abraçam e Wagner sobe na moto e se afasta. Mônica volta para dentro da cabana e pega a mochila no chão. Coloca sobre uma cadeira e fica em pé na porta olhando para o velho tirar a chaleira do fogo.

- Pensei que você também tivesse medo de mim... como ele.

Salomão diz isso sem olhar para ela. Mônica sorri.

- Não tenho. Não vejo motivo pra isso.

- Senta, ele pede.

Ela se acomoda numa cadeira de balanço antiga, mas confortável. Salomão coloca um pouco de chá numa caneca de alumínio, adoça e lhe entrega.

- Obrigada...

Ele pega uma caneca para ele também e se senta num pequeno banco perto da porta. Ela prova o chá que está gostoso e suave e parece ser relaxante.

- Que delícia! - ela elogia.

Salomão toma um gole também e fica em silêncio, olhando a fumaça que sobe da caneca. De repente, ele pergunta:

- O que foi no braço?

Mônica coloca a mão na faixa e resolve resumir o máximo possível.

- Eu... me machuquei...

- Posso ver? Eu tenho no quintal umas ervas muito boas pra esse tipo de... machucado. Quer que eu refaça o curativo?

Ela sorri e, apesar de tudo, confia no velho:

- Se você quiser... Não quero incomodar.

- Tire a blusa. Eu vou lá fora apanhar as ervas.

Salomão sai para o quintal e ela começa a desabotoar as alças do macacão e a blusa. Ele volta momentos depois com algumas folhas na mão e começa a trabalhar como alguém que sabe o que está fazendo.

Tudo é feito com muita firmeza. Salomão faz uma pasta, macerando as folhas sobre uma pedra branca de mármore, depois se aproxima dela, retira com cuidado o curativo feito por Miguel e limpa o ferimento com um pano muito branco envolvido em um líquido que, pelo cheiro, parece ser água boricada. Coloca sobre ele a pasta feita com as ervas. Refaz o curativo com o cuidado de um médico e ao terminar pergunta:

- Está doendo?

- Não... Só latejando um pouquinho.

- Estará bom em dois dias. Não foi muito profundo.

- Obrigada...

Ele se levanta e vai jogar fora a água que utilizou para limpar o ferimento e os curativos antigos. Quando ele volta, ela pergunta:

- Com quem você aprendeu a fazer isso?

- Nem me lembro mais... ele diz com um sorriso.

- E... como você consegue viver aqui sozinho, sem falar com ninguém?

Ele continua sorrindo.

- Na minha idade, não faz diferença ter ou não ter alguém pra conversar.

- Você não sente solidão?

- Não... Sentia, logo depois que minha mulher faleceu... depois... acostumei... Minhas flores me fazem companhia.

- Elas são lindas...

Salomão se levanta e vai mexer numa panela sobre o fogão de onde sai uma fumaça muito cheirosa.

- Está cheirando muito bem, ela diz.

- Você já comeu?

- Tomei café de manhã, mas... não me importaria se você me convidasse pra almoçar.

Eles almoçam um arroz com feijão simples, mandioca cozida com picadinho de carne de frango. Quando terminam esse almoço simples, ela o ajuda a lavar a louça.

RETORNO AO PARAÍSO – EXPEDIÇÃO BANDEIRANTES

PARTE 4

OBRIGADA E BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 24/04/2018
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