RP - SÃO PAULO - PARTE 20

SÃO PAULO

PARTE XX

Cláudio chega à Santa Casa e vai se encontrar com Valter, seu colega de faculdade que também se formou na PUC de Campinas.

Ele havia ligado para o amigo no dia anterior e Valter já o estava esperando. Os dois almoçam juntos num restaurante perto do hospital.

- É muito engraçado. Na formatura, todo mundo faz mil promessas de encontrar todo mundo, parecendo que vão viver frequentando a casa um do outro, mas, depois que a festa acaba, vai cada um pra um lado e nunca mais ninguém se vê. Você continua morando em Casa Branca?

- Até a semana passada estava.

- Ah, então mudou pra cá?

- Mais ou menos.

- Sua mulher veio junto? Tânia é o nome dela, não é? Eu me lembro de ter ido ao seu casamento.

- É, mas... eu me separei dela. Não é a Tânia que está aqui comigo.

- Separou? Que chato.

- Não é tão chato assim. Eu estou bem melhor agora.

- Você está diferente mesmo. Eu sempre achei, como todos os caras da nossa turma, que você tinha se casado cedo demais. É certo que, na sua cabeça, tinha uns cinquenta gramas a mais de massa cinzenta que na nossa, mas casamento é uma barra mesmo pra quem tem crânio como você tinha e devo acreditar que ainda tem.

- Alguma experiência frustrada também? - Cláudio pergunta, sorrindo.

- Não, eu não. Eu sou muito bem casado. Tenho dois garotos lindos. Um com quatro e o outro acabou de fazer dois meses. Qualquer dia te levo lá em casa pra conhecê-los.

- Que bom! Fico feliz por você.

- Você tem filhos?

- Não... ainda. Daqui alguns meses.

- Meus parabéns. Já sabe o que vai ser?

- Menina.

- Estou doido pra ter uma. Daqui uns dois anos a gente vai tentar de novo. Ser pai é muito bom, cara. Eles fazem da nossa vida uma zona, mas vale a pena cada segundo. Mas... não foi pra falar de criança que você veio falar comigo. A que devo a honra de sua visita?

- Valter, eu... estou querendo montar um consultório meu próprio aqui no centro de São Paulo e sei que você tem um. Foi muito difícil começar?

- Bem, fácil não é. Eu tive que trabalhar duro primeiro no Hospital Santa Sofia de Campinas, depois me transferi pras Clinicas também de lá e finalmente, depois de muita ralação aqui na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, acabei dando sorte e pousei de para-quedas no Emílio Ribas por indicação de um professor da faculdade onde eu me especializei em infectologia. Eu tive que dar duro esses anos todos e cheguei quase a passar fome. Economizei e empenhei os olhos da cara pra montar meu consultório e ainda estou pagando por ele. Mas nada se consegue sem sacrifício, não é?

- Com certeza...

- E o pior não é só você montar o consultório, difícil é arranjar clientela depois. Ninguém confia em médico recém-formado ou mesmo que não seja recém-formado, que tenha menos de quarenta anos e não use óculos de grau e bengala. Mas montar um consultório não é difícil pra quem tem dinheiro. E isso é coisa que não te falta, não é?

- A minha situação não está tão melhor que a sua. Eu comecei a clinicar na Santa Casa de Casa Branca e no hospital de um amigo do meu pai... e meu também, lá na cidade mesmo, e não precisei fazer muito esforço pra conseguir isso, além da residência. O hospital é conhecido na região. Hospital Santa Mônica, conhece?

- Já ouvi falar sim. É novo, não é? Coisa de seis, sete anos...

- Isso. Acontece que... esse amigo do meu pai, o dono do hospital, é tio da minha ex-mulher... e pai da atual. Imagine...

- Mama mia! Mas como você conseguiu isso?

- É uma longa história...

- Bom, pelo menos fica tudo em família. Uma pergunta idiota: você e o dono do Santa Mônica não andam se dando muito bem ultimamente, andam?

- Não... No momento, nem um pouco. Eu não posso voltar a clinicar em Casa Branca. Nem na Santa Casa. Aliás, sabe que está clinicando lá? O Miguel.

- O Miguel? Eu pensei que ele já estivesse no Rio trabalhando no Miguel Couto.

- Ainda não, mas não foi porque não quis. Talvez ele ainda vá no ano que vem. Mas, como eu estava te dizendo, eu vou ter que me virar aqui sozinho. Eu tenho capital suficiente pra comprar um apartamento pequeno pra morar, mas é só. Não dá nem pra começar um empreendimento desse porte. Eu queria, se fosse possível, que você me indicasse alguém que me pudesse fazer um empréstimo, só pra começar.

Valter encosta-se à cadeira e pensa um pouco.

RETORNO AO PARAÍSO – SÃO PAULO

PARTE 20

OBRIGADA POR SONHAR COMIGO!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 06/05/2018
Reeditado em 06/05/2018
Código do texto: T6328875
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