RP - LUCILA - PARTE 15

LUCILA

PARTE XV

- Eu também... Wagner canta: “Quem sabe menos das coisas, sabe muito mais que eu...”.

- De quem é essa música?

- Do filósofo Roberto Carlos, conhece? O maior expert brasileiro em amor.

- Já ouvi falar.

Ele fica em silêncio de novo e Linda apoiada em seu peito ouve o coração dele bater agitado. Ela pergunta:

- Posso te ajudar?

- Ajudar?

- Você não saiu da casa grande e veio pra cá na noite de Natal por nada.

- Eu vim pra cá porque... queria que você viesse ser picada pelas muriçocas comigo. Não gosto de fazer isso sozinho. E, como eu te falei... olha lá em cima. Olha quanta estrela e o tamanho indecente daquela lua. Devia ser presa por isso.

Linda sorri.

- Vamos fazer uma aposta? - ele pergunta.

- Qual?

- Quem consegue contar mais estrelas.

- Tem como alguém ganhar essa aposta?

- Ah... Quem chegar primeiro na centésima...

- Você costuma fazer isso?

- O quê?

- Contar estrelas.

- Não combina comigo, não é?

- Nem um pouco.

- Você se engana. Eu também sei ser romântico.

- Você está preocupado com seu pai, não é?

Ele respira fundo.

- Muito... Preocupado, aborrecido, decepcionado, assustado, enciumado, tonto... Fulo da vida. Tudo junto.

Ela ergue a cabeça e o olha nos olhos.

- Então explica um por um pra mim. Quem sabe ajuda. Aborrecido com o quê?

- Comigo mesmo. Por ter provocado tudo isso. Sem querer, eu estou percebendo que estou fazendo tudo que o vovô STAR queria. Fazer meu pai sofrer através de coisas que eu fizesse, pelas coisas que ele me contou. Ele está conseguindo, e se eu continuar com isso, vou acabar matando meu pai de desgosto. Eu não quero mais falar sobre isso, principalmente porque... eu acho que estou ficando um pouco confuso. Estou começando a sentir que meu pai não se importa com o que aconteça comigo. Ele só enxerga meu irmão na vida dele. Só se preocupa com ele. Está sofrendo por causa dele, ficou doente por causa dele e diz coisas que me magoam profundamente... mas ele não percebe isso.

As lágrimas começam a correr pelo rosto dele silenciosas.

- Será que não é só impressão sua? - ela pergunta, enquanto enxuga o rosto dele com delicadeza.

- Não... Eu comecei a me lembrar de coisas que aconteceram no passado... no meu passado... e foi sempre assim. Eu nunca liguei, não levava isso a sério, mas... meu pai sempre teve uma adoração incrível pelo Cláudio. Teve muito cuidado para dizer pra ele como queria ele agisse. Por isso, o Cláudio foi sempre esse cara quieto, sério, ponderado... Sempre pensou duas vezes antes de fazer as coisas. O papai sempre conversava muito com ele. Quando Cláudio era adolescente, às vezes, eles passavam o dia inteiro andando a cavalo pela fazenda. Comigo não. Comigo ele nunca se importou. Ele sempre me deixou fazer o que eu quisesse. Estava pouco ligando se me prejudicaria ou não. Nunca me deu uma bronca mais séria por alguma coisa que eu fizesse de errado. E olha que eu já aprontei poucas e boas... Mas ele nunca me deu nenhuma bronca daquele tipo que te deixa com a cara no chão. Eu até esperava... mas ele nunca se importou comigo. Ele só vê o Cláudio.

- Eu acho que você está criando ideias erradas. Quem sabe o teu pai não se preocupa mais com ele por ser filho de uma união um tanto incerta... e por ter contado isso a ele? Ele deve ter ficado com medo que seu irmão se revoltasse. Não significa que ele goste menos de você.

- E qual a diferença? Eu também fui criado sem minha mãe. E daí?

- É diferente. Você sabe desde sempre que ela existiu e que foi casada com ele.

- Então é a minha cabeça que está girando numa órbita errada?

- Quero crer que sim.

Ele pensa um pouco e finaliza:

- De qualquer forma... eu continuo morrendo de ciúme do meu irmão. Essa é a verdade... Eu gosto demais do meu pai e... queria que ele sentisse por mim pelo menos um terço do amor que ele sente pelo Cláudio.

Linda sorri.

- Então por que você não vai ficar no hospital ao lado dele como sua madrasta?

- O doutor Rubens disse que ele não pode ter emoções fortes e, de qualquer forma, ia dormir a noite toda. E eu acho que a minha cara não ia ajudar em nada, se ele acordasse e me visse lá. Eu tenho medo que ele me faça perguntas. O melhor é esperar o Cláudio chegar e aí ele melhora num minuto. Espero que o Arnaldo entenda a situação e, mesmo com alguma ordem de prisão que eu acho que o Jairo deixou pra ele, não leve tão a risca e libere meu irmão pra visitar o pai na Santa Casa pelo menos. A gente correu tanto pra evitar que ele fosse preso que, se isso acontecer, eu não vou ligar mais pra nada.

- Não acredito que depois de tudo a queixa ainda esteja valendo.

- Deus te ouça.

- Vamos voltar pra casa grande? Eu sei que a Matilde não está tão mais feliz que os outros, mas, pensando nas meninas e no seo Ivan, fez umas coisinhas gostosas pra se comer. Quem sabe você se anima um pouco.

- A velha mania inglesa... Só pensa em comer...

Ela sorri e se levanta, estendendo a mão e ajudando-o a se levantar também. Voltam para a casa grande de mãos dadas.

RETORNO AO PARAÍSO – LUCILA

PARTE 15

OBRIGADA E TENHA UM ÓTIMO DIA!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 15/05/2018
Código do texto: T6336808
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