RP - MUDANÇA - 1978 - PARTE 1

RETORNO AO PARAÍSO

MUDANÇA – 1978

PARTE I

SÃO PAULO - SÁBADO - 31/12/77

Karen e Lucila não conseguem nem ficar acordadas para esperar a virada do Ano Novo. Ainda cansadas por todas as emoções vividas no dia anterior, despedem-se de Mônica e Cláudio e se recolhem pouco antes das dez horas da noite, já sabendo que serão acordadas pelos fogos da virada à meia noite, mas como seus quartos ficam no lado dos fundos da casa nem ouvirão tanto.

Cláudio se deita no sofá da sala e espera por Mônica que foi tomar seu banho. Ele fica olhando para a árvore de Natal. Só o pisca-pisca da árvore está aceso e a luz da rua, silenciosa como de costume. Ouve-se ao longe o barulho dos carros que passam na avenida próxima, mas nada que incomode. A sala está na penumbra gostosa e relaxante.

Sua mente viaja para bem longe. Vai de encontro a sua família: ao pai, à madrasta, suas irmãs e Wagner. Repassa mentalmente tudo que aconteceu naqueles últimos dias e não consegue unir as duas realidades.

Ele passou a noite num leito de hospital por causa de uma dor de cabeça que ainda não sabia o que significava. Ele ainda sentia os efeitos dessa experiência e sentia-se fraco diante de tudo pela primeira vez em sua vida. Que mudanças estavam ainda para acontecer?

Fecha os olhos e uma lágrima teimosa escorre pelo canto do olho. Tenta se desligar daqueles pensamentos e chega a adormecer. Acorda minutos depois, sentindo o beijo na boca que Mônica lhe dá. Ele sente o cheiro gostoso do sabonete e do xampu em seus cabelos ainda úmidos. Abre os olhos e vê seu rosto bem perto do dele, sorrindo.

- Está tudo bem? - ela pergunta, carinhosa.

Ele apenas balança a cabeça confirmando e suspira. Ele se senta e a coloca sentada em seus joelhos. Cláudio a beija novamente com paixão, sentindo o gosto do creme dental.

- Você está tão cheirosa... e eu ainda estou com cheiro de hospital. Vou tomar um banho também...

- Não... Eu adoro esse cheiro. É o seu cheiro natural.

- Você está dizendo que eu tenho cheiro de hospital?

- Tinha... e eu adorava esse cheiro. Eu raramente via você na sua casa ou na fazenda. Só via você no hospital. Pra mim você era só o médico que eu amava.

Ele a beija de novo e sussurra.

- Vamos pra cama?

- A gente não vai conseguir dormir. Daqui a pouco é meia noite e os fogos vão acordar a gente.

- Eu não disse que quero dormir.

Ela sorri.

- Eu estou tão cansada...

- Também não disse que quero outra coisa. Só quero deitar na cama e conversar com você. Eu também estou cansado. A gente passou por tanta coisa ontem e hoje. Queria só falar sobre isso. Conversar... Se a gente sentir sono, deixa o outro falando sozinho, dorme e pronto. A ideia não é boa?

- Ótima, vamos.

Eles vão para o quarto. Cláudio vai até o banheiro, lava o rosto, se troca e se deita ao lado dela apoiando as costas num travesseiro e fazendo Mônica recostar-se em seu peito.

- Eu nem acredito que a semana e principalmente o ano estão acabando... - ela diz, aninhada nos braços dele.

- Você já pensou sobre o que aconteceu com a gente ontem? - ele pergunta.

- Pensei... E quero acordar no ano que vem e sentir que a gente... vai poder viver em paz... Que... meu pai está magoado ainda, mas vai acabar entendendo que a gente não pode viver separado um do outro... e que ele ainda pode me perdoar.

- Eu sinto que ele pode. Ele te ama e é capaz disso. Só espero que ele consiga... me perdoar também.

Ela ergue o rosto e olha pra ele.

- E vai... Quando nossa filha nascer, ele vai perdoar nós dois.

Cláudio desliza a mão por seu rosto e a beija.

- E você vai se cuidar também, não é? - Mônica continua.

- Eu não tenho nada.

- Também espero que não, mas esse ano você vai procurar pensar mais em você. Promete?

Ele sorri e coloca a mão sobre a barriga dela.

- Prometo... por ela.

Os fogos da meia noite começam a pipocar por toda a parte e ele diz:

- Feliz Ano Novo, meu amor.

- Feliz Ano Novo. Eu te amo...

Eles se beijam demoradamente. Quando o beijo termina, ele sugere:

- Vamos ver se a Karen e a dona Lucila acordaram com essa barulheira toda? A gente tem que desejar feliz ano novo pras duas.

- É mesmo, afinal, elas são a nossa única família por perto.

- Pois é...

Eles saem da cama, se vestem e vão para a sala.

Karen e dona Lucila estão abraçadas na varanda olhando para o céu coberto das luzes brilhantes dos fogos. Eles se aproximam das duas por trás.

Cláudio abraça Karen e Mônica abraça Lucila, desejando às duas, felicidades na passagem de mais um ano. Quando trocam, Cláudio e Lucila se olham timidamente no início, mas ele quebra a barreira do desconforto e abraça e beija a mãe.

- Feliz Ano Novo...

- Pra você também... meu filho. Eu te amo...

A vontade de chamá-la de mãe fica na garganta, mas não sai por enquanto...

RETORNO AO PARAÍSO – MUDANÇA - 1978

PARTE 1

OBRIGADA POR SONHAR COMIGO!

BOM DIA!

DEUS NOS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Velucy
Enviado por Velucy em 02/06/2018
Código do texto: T6353120
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.