Benoni , um irmão que não tive

Romance

Capítulo 2

Benoni morava na periferia. Não me surpreendi pelo seu gosto de viver entre os pobres. Quando ele esteve em São Luis me visitando, ele e uma amiga minha fomos comer em um restaurante de classe média na Lagoa da Jansen, e ele se recusou a entrar, apontando para um botequim que havia no outro lado da rua. Foi muito esforço para convencê-lo a entrar conosco na casa de shows dos ricos.

A casa de Benoni era uma antiga construção de alvenaria, localizada atrás de um morro, o qual, segundo ele, fora um vulcão em tempos milenares. Meu amigo tinha construído duas suítes sobre a casa, que serviam de aluguel para turistas e acolher as filhas e uma irmã, nos fins de semana.

Acabou de chegar agora sua amiga Luzia, que trabalhava com ele, como psicóloga do Fórum, e nos levara no Fiat dela até a morada de Benoni. Era uma carioca muito compenetrada das suas origens.

- Bom dia, disse com seu jeito de carioca

- oh minha amiga, saudou Benoni, com sua comunicação peculiar. Vamos dar uma volta hoje à noite pela cidade para Samuel conhecer.

- É mesmo, ficar só na periferia não é bom. Preciso conhecer Rio das Ostras, por dentro e por fora. q

E passamos a conversar sobre várias coisas que não me lembro no momento. Luzia revelava tensão, porque deixava o filho sozinho em casa, olhando televisão.

Outra faceta de Benoni era encher a casa de pessoas carentes. Havia dois homens que o ajudavam a superar a solidão. Eles ficaram muito contentes com a minha chegada e a de Katiane. Um deles, apelidado de Montana, que demonstrava um largo sorriso quando ficava perto de Katiane.

- Cuidado com essa menina cara, alertei para ele, que sorriu e saiu de bicicleta para a rua

- Ele tá querendo ela Samuel, disse brincando Benoni.

Uma coisa que não gostei foi a comida que comprávamos numa casa na periferia que vendia refeição.Não comir,aliás, não passei das primeiras colheres e rejeitei a alimentação. Falei para Benoni do meu desagrado e ele concordou.

Fomos ao passeio num bar em que Benoni frequentava antes de ter um AVC, no lado direito, ficando paralítico, com a perna se arrastando e torta. Nisso,tivemos destino parecido, porque eu já era amputado.

- Esse mar aqui é uma beleza, eu disse quando estávamos sentados na mesa do bar.

- Aqui, Samuel, era onde eu bebia e fumava todos os dias antes do AVC. E essa menina aqui ao lado foi minha namorada, disse apontando para uma moça magrinha, que dançava recitando poemas.

Nessa hora,Benoni pediu pra mim recitar uma das ,minhas poesias que ele gostava. Só que eu recitei outro sobre a cannabis sativa: “Ela Ela Ela|Proibida Proibida Proibida|Liberta Liberta Liberta”

O fumaceiro de cigarro parecia uma nuvem entre nós, e a cerveja corria solta, de vez em quando contemplava as águas ruidosas da Baia de Rio Das Ostras. Ao longe via-se luzes, eu perguntei aonde ficava a iluminação longínqua. E me responderam que as luzes eram de cidades próximas. Fiquei interessado em conhecê-las. Mas, só fui até Macaé, pois viera para passar apenas uma semana.

De volta pra casa,ouvi Luzia dizer para Benoni :

- Rapaz,tu achas que eu vou abrir minhas pernas de graça pra homem?

Olhei para Benoni e observei que ele dera uma cantada indireta na amiga. E o Fiat seguia de regresso para a periferia de Rio das Ostras. Já estávamos calibrados pela cerveja e Katiane, ao meu lado, demonstrava isso também. Em poucos minutos, chegamos à casa.

Benoni era jornalista e trabalhara nos maiores jornais cariocas, dos quais fora demitido por participar de movimentos grevistas. Já pai de três filhas, casado com a jornalista Silvia Tomé, sem conseguir mais emprego em jornais, resolveu ir para Niterói tentar uma nova vida como proprietário de um jornal distrital, intitulado FOLHA OCEÂNICA. Ele é a mulher faziam o jornal semanal e a receita dos anúncios dava para sustentar a família.

Ele gostava de fazer projeto de jornal. No último dia da viagem, discutimos a possibilidade de criar uma revista de circulação nacional. Ele já tinha na cabeça todos os detalhes da ideia. Teria até correspondente internacional. Acertei com ele enviar 7 mil reais para construir a redação e uma suíte para mim morar lá. Só que a distância de estar lá e aqui em São Luís tornava o projeto impraticável. Mas cheguei a mandar o dinheiro e ele fez a construção anexa à casa.

samuel filho
Enviado por samuel filho em 14/07/2018
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