MI - UMA GAROTA MUITO ESPECIAL (DOZE ANOS DEPOIS) - PARTE 4

MI – UMA GAROTA MUITO ESPECIAL

PARTE IV

- Ah, eu tinha... uns cinco anos, começa Maria Cecília. - Eu lembro de ter contado isso pra você, mas acho que você não acreditou muito.

- Conta de novo, filha?

- Ah, eu nunca me esqueci disso. Eu estava com a vó Magda rezando lá na capela do Rosário e, como eu não sabia muito bem o que ela estava fazendo, fiquei brincando sentada no chão na frente do lugar onde colocam água benta, no fundo da capela. Eu quis subir pra pegar um pouco da água e me pendurei na pia, mas só consegui erguer o corpo e não consegui mais descer. Fiquei pendurada, morrendo de medo de cair. Mas não gritei, com medo da vó brigar comigo. Ela já tinha me avisado pra não fazer isso e você também. Aí... alguém me desceu e quando eu me voltei pra ver quem tinha me ajudado, ele estava sentado no último banco e sorriu pra mim. Era um homem muito bonito, todo vestido de branco que me estendeu a mão, mas eu me lembro de não querer pegar a mão dele, porque a vó Magda, você, meu padrinho e o vô Leonardo sempre diziam pra eu não pegar a mão de estranhos e, como eu não conhecia ele... nem me mexi, dei as costas, sentei no chão de novo e continuei brincando, ele riu e sentou do meu lado, cruzando as pernas como um índio. Começou a conversar comigo. Perguntou meu nome. Eu não disse, nem dei atenção. Mas aí ele mesmo me chamou pelo meu nome e eu comecei a prestar atenção nele. Ele falou que conhecia você, me disse o seu nome, o nome da vó Magda, do vô e disse que gostava muito de todos aqui. Eu comecei a confiar nele e perguntei quem ele era e ele disse... que era meu pai. Eu fiquei feliz porque você tinha me dito que o papai estava no céu e imaginei que ele tinha vindo me visitar... bobona... Quando a vó Magda começou a se benzer, quando terminou de rezar e ia se aproximar de mim, ele se levantou e foi se sentar de novo no banco. A vó Magda pegou minha mão, mas acho que ela não viu ele. Enquanto a gente saía da igreja, ele acenou pra mim e eu pra ele. Ela deve ter pensado que eu estava acenando pra santa no altar e riu. Desse dia em diante, ele nunca mais deixou de vir me ver.

Os olhos de Mônica estão cheios de água, quando ela termina seu relato. Maria Cecília se aproxima dela.

- Você está chorando, mãe. Não faz isso.

Mônica se abraça a ela, emocionada e olha para o quadro.

- Você não acredita em mim, não é? Ele pede sempre pra eu não dizer nada a ninguém porque as pessoas não acreditariam em mim...

- Eu acredito! Eu acredito, sim, meu amor. Eu acredito. Só... gostaria muito de estar no seu lugar... Sinto muita saudade do seu pai. Você nem imagina quanto...

- Ele fala muito de você.

- Fala? O quê?

- Que ainda te ama muito. Eu perguntei por que ele só aparecia pra mim e ele disse que ainda não tem permissão de se mostrar pra você, mas que ele te vigia e te protege, como faz comigo. Não deixa que nada de mal de aconteça.

Mônica chora mais ainda e abraça a filha.

- Ele também diz que não gosta quando você chora. Que ele está bem. Está feliz e que você devia fazer o possível pra ser feliz também.

- Eu não sei como... Não sei ser feliz sem ele.

- Pois devia, mamãe. Ele já não está mais com você há tanto tempo. Ele também precisa que você seja feliz.

- Eu posso até tentar... mas... É complicado.

- Então só pensa que ele está bem. E está feliz, como...

Maria Cecília para de falar como se estivesse confusa sobre o que ia dizer.

- Como o que, amor?

- Ele disse que eu disse que ele seria feliz, pouco tempo antes de ele morrer. Eu não entendi muito isso. Como eu posso ter falado com ele, antes de ele morrer?

Mônica puxa pela memória e se lembra do sonho que Cláudio teve com a filha, meses antes de falecer. Ela sorri entre as lágrimas.

- Ele sonhou com você, quando você ainda estava na minha barriga. E falou mesmo que você disse a ele que ele seria muito feliz. Nós não entendemos bem na época, mas como era um sonho, não demos tanta importância.

- Bizarro! Você acredita nisso?

- Tenho que acreditar. Você está me contando.

Maria Cecília dá de ombros e sorri. Beija o rosto da mãe e pede:

- Eu posso ir na casa da vó Lucila, agora?

- Pode, mas não conte a ela ainda isso que você contou pra mim. Não conte a ninguém.

- Não vou contar. Ele me disse pra não contar pra ninguém por enquanto. As pessoas poderiam interpretar do jeito errado. Isso poderia não ser bom pra ele.

- E por que você me contou?

- Porque você perguntou. Se você perguntou é porque de alguma forma você acredita que ele está vivo e porque você o ama muito também.

- Amo... muito...

- Então não espalha. Com o tempo ele vai me dizendo mais coisas e eu passo pra você. Só põe na cabeça que ele está bem. Ah...

A menina toma um ar sério.

RP – MI - UMA GAROTA MUITO ESPECIAL (DOZE ANOS DEPOIS...)

PARTE 4

OBRIGADA! BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Velucy
Enviado por Velucy em 02/08/2018
Código do texto: T6407187
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