EVELINE

Bom dia!

Abaixo segue o primeiro capítulo de uma novela que estou escrevendo. Do que eu posso adiantar a sinopse, é uma jovem de 20 anos, cujo maior sonho é namorar e casar com um rapaz do seu bairro. Como todos seus planos em conquistá-lo dão errado, Eveline apela para um conhecido programa de televisão, o campeão de audiência Namora Comigo.

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– Bom dia, mundo!

Eveline escancarou as venezianas da janela do quarto. Eram sete horas da manhã e as ruas do bairro recém começavam a ter algum movimento de pessoas indo para o trabalho. Lá da cozinha vinham os ruídos da mãe começando seus afazeres. O domingo havia sido longo com uma encomenda grande de bolo para uma festa de 15 anos. Eveline ajudara a mãe e com isto perdera um belo dia de sol. Mas não se importou muito. A mãe precisava daquele dinheirinho para pagar algumas contas pendentes.

Ela desceu as escadas já pronta e maquiada. Cândida, com um lenço na cabeça, analisava os pedidos de encomendas para aquele dia.

– Bom dia, mãe – Eveline deu um beijo na bochecha de Cândida e pegou um pedaço e pão. – Muita coisa para hoje?

– Sim, mas eu vou dar conta – Cândida respondeu sem tirar os olhos do papel onde anotara tudo. – Seria muito melhor se você largasse o emprego na loja para me ajudar. Já pensou o quanto podíamos faturar? Nós duas juntas?

– Ah, mãe... Não venha com este papo de novo – Eveline abriu a geladeira. – Não tem suco de laranja?

– A Oscarina tomou tudo ontem.

Eveline se limitou a sacudir os ombros e terminou por pegar um copo de água. – A tia já saiu?

– Claro – Cândida deu uma risada debochada. – Ela faz tudo por aquele emprego. Até darem um belo chute na sua bunda. Aí eu quero ver – Cândida olhou para a filha. – Você é como ela. Dá a vida pela loja até lhe mandarem embora com uma mão na frente e outra atrás.

Eveline se encostou na bancada da pia ainda mastigando o pedaço de pão.

– Mãe, hoje é recém segunda–feira. Não comece, por favor. Quero uma semana tranquila para nós. Além do mais, o Douglas não teria coragem de fazer isto comigo. Sou a melhor vendedora da loja.

A jovem fez uma pirueta em frente à mãe.

– Como estou?

Cândida, concentrada nas suas tarefas, mal olhou para ela.

– Hein?

– Mãe! – Eveline pôs as mãos na cintura. – Estou bem? A minissaia é nova. Percebeu?

Cândida observou a filha dar uma volta em torno de si mesma.

– Por mim você está como sempre. Ah, legal a minissaia.

– Puxa... mas eu não engordei nenhum pouquinho?

– Não. Embora coma igual a um cavalo você está do mesmo jeito. E se dê por feliz, Eveline, com tanta mulher querendo emagrecer por aí. Posso trabalhar agora?

Eveline fez um muxoxo. Fazia quase um ano que poupava dinheiro para implantar silicone no peito e na bunda. Mas ainda não conseguira juntar nem a metade para realizar o procedimento. Isto explicava o fato de ser a melhor vendedora da loja onde trabalhava. Precisava, desesperadamente, de um corpo novo.

– Queria muito ter o bundão da Soraia – divagou ela.

– Como é?

– A Soraia. Namorada do Alexsander – Eveline não conseguiu disfarçar o despeito ao mencionar o nome da rival. – Eu podia ter aquele corpo.

– Olha aqui, Eveline – Cândida perdeu a paciência de vez. – Se você cursasse uma faculdade não pensaria em tanta inutilidade. Me deixa trabalhar. Olha o mundo de coisa que eu tenho para fazer hoje.

Eveline revirou os olhos. Uma hora depois a jovem pegou a bolsa, borrifou uma dose generosa de perfume no corpo e renovou o batom vermelho. Sabia estar longe de ser a mais mulher mais desejada, mas quando abriu a porta de casa para ir ao trabalho sabia estar pronta para ganhar o mundo.

Maria Caterinna
Enviado por Maria Caterinna em 05/08/2018
Reeditado em 05/08/2018
Código do texto: T6410079
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