A CHEGADA DELE - cap. V

Eram dezesseis horas e trinta minutos quando os dois chegaram e lá estavam as três, hiper felizes, para recebê-los.

Gabriel, o filho, correu para abraçar sua mãe, pois a seis meses estava ausente. Um abraço apertado afagou-lhe as lágrimas e a saudade no coração. Um beijo na face adornada com o amor e o sentido próprio de uma vida em família – família amavelmente aconchegada aos princípios do amor. Sua mãe desmoronou de prazer e apetecida no sentimento, encheu o semblante de regozijo. Era uma mãe coruja que amava até demais os queridos filhos de seu sagrado ventre perfeito.

O patriarca da casa abraçou a sua digníssima esposa e a beijou como quem beija o maior sentido de sua felicidade. Só algumas horinhas ausentes, mas horinhas que se sentem, pelo muito e grandioso amor na vida de um casal que vive em harmonia. Casal abraçado e abrasado no ardor do maior sentimento; sentimental, mas cheio de razão para isso.

Gabriel, enternecido por uma rara beleza que via ao lado de sua preciosa irmã, perguntou antes de abraçá-la:

– Mã, não vai me apresentar sua amiga?

– Ah sim! Essa é a minha grande amiga Vitória. Estudamos juntas e mora não tão longe de casa.

– Não precisa fazer um texto bibliográfico! – replicou seu irmão.

– Desculpe, Man. Seu chato querido – disse sua irmã.

– Tu quiseste dizer: meu chato querido – concertou o irmão.

– Ah, é isso – sorriu.

– Olá, prazer, sou Gabriel.

– Oh, o prazer é todo meu. Tem nome de anjo – respondeu.

– Nome e beleza de anjo – brincou ele.

– Convencido! Não liga não, Vitória; às vezes ele é convencido demais – replicou sua irmã.

– Desculpe-me, mas é só o nome de anjo – seriou ele.

Aquela se fazia uma linda tarde, não simplesmente pela maneira como ela estava dando adeus a mais uma data expressiva à alguém. Não porque gente partia ou vinha nas suas idas e chegadas constantes. Não porque abraços de saudades apertavam o coração ou beijos eclodiam para selar certos sentimentos de prazer.

Mas também porque vidas se conheciam no prazer da alegria, no contentamento de um conhecer e dizer dentro de si: que prazer; como ele é lindo; como ela é bela; nossa, que gata; etc.

***

Vanessa insistiu que Vitória pudesse ficar para o jantar:

– Não, não posso. Mamãe está me esperando, lembra? – replicou esta.

– É, me lembro sim. Mas alguém queria tanto que você ficasse.

– Vamos me deixar em casa, Vanessa. Não quero ir sozinha.

– Vamos. Vou só avisar meus pais.

Deitada em sua cama, Vitória não conseguia dormir, imaginando que aquela tarde não poderia ter sido melhor. Era para ficar guardada com muito carinho como um presente tão precioso de uma vida detalhada desde o início de tudo. No mais íntimo de seu coração tão jovem e cheio de bons sentimentos sentidos.

Era a razão para sorrir e sentir-se tão aconchegada pelo prazer da felicidade entre o amor e a paixão na via da descoberta.

O motivo para toda essa alegria de Vitória era um garoto que ela tinha conhecido na última tarde. Sabe lá porque, mas algo falou forte no íntimo de seus sentimentos. Sem ele saber, esse sentimento bom tomou conta de seu coração e perdurara em sua mente. No maior regozijo de sua alma, ela pegou-se a pensar no apego cabível:

“Ele é lindo, gatinho. Gostei dele antes mesmo de conhecê-lo direito. Ah Gabriel, um anjo, um lindo garoto. Quem me poderá dizer que não gosto dele? Será que algum dia ele terá olhos para mim, poder gostar de mim tão diferente e apaixonadamente? O que o meu pensamento está me falando, será que é o primeiro indício de paixão? Não, não, tenho que dormir e entender que foi simplesmente um dia belo, que por certo, foi excepcional, amável ao meu querer desejoso. Mas um dia maravilhoso e que não posso esquecer.”

Entre os indícios da paixão e o querer reviver aquela tarde, ela adormeceu alheia a que hora seria aquela. Ela dormiu, mas convicta que poderia sonhar com o que acontecera naquela tarde. Bem que quis, mas não sonhou. Simplesmente dormiu como um anjo do amor no sentido de seus sentimentos afluentes.

Do romance infanto juvenil VITORIANA: o início de tudo, de Hertrh Alessantrus.