P - ANTES DE TUDO... BETE - PARTE 2

PRÓLOGO - ANTES DE TUDO – BETE – PARTE II

Antônio sentou-se de novo.

- Não me entenda mal, é que... não é uma garota com quem eu gostaria que você se casasse.

Marco também pensou um pouco antes de falar.

- Eu... ainda não penso nisso, pai. Eu tenho quinze anos.

Antônio passou a mão na nuca e suspirou sorrindo:

- Eu fico feliz com isso, mas você já está namorando e isso envolve muita coisa diferente de ser... criança.

- Eu não sou mais... criança.

O coração dele disparou quando disse a palavra e baixou os olhos de novo.

- Até hoje de manhã era, disse Antônio, tentando olhar em seus olhos e sondando o filho. – Mudou alguma coisa?

Marco não respondeu. A garganta travou e o coração dele batia ainda mais rápido como se fosse sair do peito. O pai parecia estar lendo tudo que se passava dentro de sua cabeça.

- Você quer me dizer alguma coisa, filho?

Marco achou que, se não podia sair dali correndo, o melhor era enfrentar de vez a situação. Molhou os lábios que estavam secos de nervoso e perguntou com a voz fraquinha saindo da garganta:

- Você não quer... que eu namore mais com a Bete?

- Eu não disse isso. Namorar é bom e... já que sua mãe já se acostumou com a ideia, não tenho porque impedir ou ficar contra. Mas eu só quero te pedir... pra ter cuidado.

- Cuidado... com o quê, pai?

- Você mesmo disse que já não é mais criança e... o Lemos me disse que a Bete teve outro namoradinho quando eles moravam em Campinas e ela deu um certo trabalho pra ele.

- Trabalho? Como assim?

- Isso não vem ao caso. Eu só quero que você se cuide. E sempre que precisar, converse comigo. Ok?

Ele apenas conseguiu ficar olhando para o pai e não conseguiu falar nada. As palavras não saiam.

Antônio ergueu-se e foi para a porta para sair do quarto, mas Marco o chamou:

- Pai!

Antônio se voltou já com a mão na maçaneta da porta e apenas olhou para ele.

- Eu... ia ficar muito encrencado... se... transasse com a Bete?

Os olhos de Antônio se estreitaram e ele reprimiu um sorriso, franzindo os lábios.

- Você fez isso?

Marco baixou os olhos e os fechou, apertando-os.

- Hoje...

Antônio fechou a porta e encostou-se nela muito lentamente, respirou bem fundo, deixando o ar sair pela boca devagar. Tinha que pensar. Esperava ouvir alguma coisa como aquilo do filho, mas não sabia que seria tão cedo e como reagiria. Precisava ser paciente, já que ele tinha tido a coragem de confessar. A relação entre os dois tinha sempre sido aberta e tranquila. Não podia ser diferente agora. Voltou a sentar-se ao lado dele.

Marco abriu os olhos ainda com a cabeça baixa, olhando para as mãos que seguravam uma a outra sobre os joelhos para não tremerem.

- E foi bom?

Marco olhou para ele rapidamente, surpreso com a pergunta.

- Foi... Eu... não sei... Foi estranho... Novo...

- Ela concordou com isso?

- Foi ideia dela.

- Onde foi?

- Na casa dela.

- Não... no quarto dela...?

- Por quê? Não pode?

- Só responde, Marco.

- Não, os pais dela tinham ido almoçar fora e ainda não tinham chegado. A gente tinha voltado do cinema e... quando chegamos lá, não tinha ninguém em casa. Eu queria... vir embora, mas ela deu a ideia de eu entrar e aí... quis me mostrar uma fita K7 nova do Sting que ela tinha comprado e... a gente foi ouvir a fita no rádio do carro da mãe dela.

Antônio passou a mão pela boca e tentou ficar tranquilo. Marco continuou:

- A gente... estava ouvindo a fita e... ela sugeriu que a gente fosse... pro banco de trás, namorar mais um pouco... lá é mais espaçoso. Eu não entendi no início, mas depois... eu percebi a intenção dela... aí... rolou.

Antônio se levantou e deu alguns passos pelo quarto tentando colocar as ideias em ordem para assimilar o que estava acontecendo. Marco o seguia com os olhos intimamente querendo que já fosse o dia seguinte para não ter que estar tendo aquela conversa com ele.

Antônio voltou a sentar-se a seu lado.

- Diz alguma coisa, pai, Marco pediu. – Você está me deixando nervoso.

- Eu nem sei muito bem o que dizer, Marco. Eu... Eu sempre imaginei que um dia eu teria essa conversa com você... Desde que você nasceu... eu...

Antônio estava muito nervoso e a testa suava copiosamente. Então resolveu não prolongar muito o assunto. Ia ser o mais direto possível.

- Eu só quero muito... que você seja feliz, filho. Mas antes de qualquer coisa... quero que você respeite a Bete e não a veja como qualquer uma, mesmo que ela se comporte como uma garota... livre demais, moderna demais pros nossos padrões.

- Eu respeito ela, pai, mas... foi mais forte que eu. Ela... é linda demais e... é muito gata e... me provocou. Eu não sei o que me deu... eu... não sou de ferro, pai...

- Não precisa ficar nervoso, filho. Calma. Está tudo bem.

Antonio colocou a mão sobre o ombro do filho, tranquilizando-o. Marco levantou os olhos para olhar para o pai e respirou fundo, mal acreditando em sua reação tão tranquila.

- E o que eu faço agora, pai?

- Você está legal?

- Eu estou. Só quero... tomar um banho. Estou me sentindo meio... estranho.

- Mas está feliz?

- Diria que eu estou aliviado, por não ter levado uma bronca de você.

- Você é um homem, agora. Procure agir como um e respeite ainda mais a Bete daqui por diante.

- Eu acho que não foi a primeira vez dela.

Antonio ergueu as sobrancelhas e respirou sutilmente.

- Mas foi a sua e, não por ela, mas por você mesmo, só faça isso de novo se você quiser, não se ela pedir ou te provocar. Antes de tudo, respeite a si mesmo. E sempre que decidir fazer isso de novo, proteja-se, por você e por ela, seja lá quem for. Mas... eu gostaria que você pensasse muito bem antes de acontecer de novo. Sexo é muito bom, mas não é brincadeira e tem que ser feito com responsabilidade.

Antônio se levantou e, chegando na porta, voltou-se e perguntou:

- Você gostou?

Marco sorriu timidamente, balançou a cabeça e confirmou.

- Você ama a Bete?

- Eu gosto dela...

- Então você vai gostar muito mais, quando fizer com a mulher que você ama de verdade e... que for casada com você. Por isso... não transforme isso numa diversão sem consequências, filho. Não é. Tenha cuidado.

- Obrigado, pai... Te amo.

- Também te amo. Vá tomar seu banho.

ANTES DE TUDO: BETE

PARTE II

BOM DIA!

Velucy
Enviado por Velucy em 30/08/2018
Código do texto: T6434201
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