MANDY - MUITO BOM PRA SER PRA SEMPRE VII-PARTE 4

IV – MUITO BOM PRA SER PRA SEMPRE

Benê respirou fundo e balançou a cabeça, não concordando.

- Sabe o que eu acho? - perguntou Marco. – Vocês... “gente grande”... ficam tentando proteger a gente de coisas que já fizeram em dobro até. Você tem cara de ter sido uma peste na escola e meu pai, eu tenho certeza de que foi. Ele mesmo conta. Agora, ficam aí cercando a gente de muros de papel por todos os lados.

- Porque você não é uma peste, eis o ponto.

- É, não sou. Sou só um... filhinho da mamãe, como o Otávio diz, que nunca deu uma surra em ninguém e nem sabe se defender direito, quando alguém se mete a fazer isso comigo. Esse braço torcido seria o dele, se eu fosse uma peste como você e meu pai!

- Isso não leva a nada, Marco.

- Eu sei que não, mas ajuda a impor certo respeito. O Otávio deve estar pensando que eu estou tremendo de medo dele agora!

- E não está?

- Não, só estou apavorado!

Benê riu.

- E não ri, não! - ele disse, rindo também.

- Não pense mais nisso.

- Na verdade, eu não penso, tio. Eu só me lembro do Otávio quando o vejo. De resto, meus pensamentos são divididos da seguinte forma: cinquenta por cento dele, gosto de pensar que a Amanda me ama; na outra metade, eu penso que a amo.

Benê divertia-se com a filosofia do sobrinho.

- Queria ter essa sua cabeça fria!

- Você tem. Por que você acha que eu adoro vir pra cá conversar com você? Você é a minha mãe de calças compridas. Meu pai tem um ciúme doido de você, sabia?

Benê balançou a cabeça confirmando.

- Posso te fazer uma pergunta que já fiz mil vezes à minha mãe e ela não me responde, só enrola?

- Por que seu pai não me topa?

- É. Isso é uma coisa tão absurda pra mim que eu não consigo entender. Vocês são cunhados, caramba! São da mesma família e, desde que eu nasci, você e ele não conversam. Você raramente vai lá em casa, ele nunca vem aqui e nunca ninguém me explicou por quê! Eu só perguntei pra ele uma vez, acho que tinha uns... dez anos e ele me deu uma resposta tão fria que eu fiquei com medo de levar uma surra e nunca mais perguntei. Minha mãe enrola e não explica nada, diz que meu pai não tem tempo de vir aqui, que não gosta de barzinho... sei lá. Nenhuma resposta dela me convence. Eu cresci e, com o tempo, começo a achar que tem algo mais sério nessa história. Explica pra mim, vai?

Benê cruzou os braços sobre o balcão.

- Porque eu não gostava dele e fiz de tudo pra ele não casar com sua mãe.

Marco olhou para ele boquiaberto.

- Tá brincando! Por quê?

- Não sei se eles te contaram que sua mãe era noiva de outro cara, antes de se casar com seu pai...

- É, meu pai contou, de um discotecário...

- Isso. Esse cara se chamava Antônio também, Armando Antônio, era muito meu amigo e gostava da sua mãe de verdade. A Laila também gostava dele, mas, quando conheceu seu pai, a cabeça dela virou totalmente e ela se apaixonou. Mas ela já era noiva do meu amigo e ficou com medo de desmanchar tudo, mais por mim até do que pelo rapaz. Bom... pra encurtar a história, o seu pai acabou arrumando a maior confusão com o meu amigo, contou tudo a ele sobre os dois, se engalfinhou com ele, brigaram feio e meu amigo acabou o noivado com a Laila. Saiu da cidade e hoje acho que vive no Rio. Nunca mais deu as caras por São Paulo. Eu fiquei um bom tempo sem falar com seu pai e com ela também. Não fui ao casamento deles e... uma noite, bebi muito aqui, na lanchonete, fiquei muito alto, fui até sua casa e bati nele.

- Não acredito! Você bateu no meu pai?!

Benê sorriu, confirmando.

- Eu já estava com vontade de fazer isso havia muito tempo e tive de beber muito pra criar coragem. É por isso que ele me considera um pervertido, um marginal, não gosta daqui e briga com você, quando vem pra cá. Eu só fiz as pazes com sua mãe, quando você nasceu, dois anos depois do casamento. Ela me chamou lá e me pediu perdão, querendo provar que era feliz com ele, mostrando você, mas ele nunca me perdoou.

- Poxa vida, tio! Não pensei que tivesse sido tão sério!

- Não fale pra sua mãe que eu contei, tá? Muito menos pra ele. Se ela não contou é porque não queria... botar minhocas na sua cabeça. E isso é um passado do qual eu não me orgulho, mas você já é bem crescidinho e tem cabeça boa pra entender isso. Hoje eu sei que valeu a pena tudo que aconteceu. Seu pai é um homem honesto, decente, que ama sua mãe de verdade e ela a ele e você é a maior prova disso. Pena que ele continua não me topando, mas eu já nem ligo também. O filho dele já me basta.

Marco sorriu.

- Obrigado por me contar. Eu também gosto um bocado de você, Benê.

- Eu sei, mas não diga que quer ser “barman” quando crescer, que eu te dou uma surra também!

O rapaz riu, levantou-se do banco e apanhou os cadernos.

- Tenho que ir.

Quando chegou à porta, lembrou-se e falou:

- Não esquece, hein? Nenhuma palavra sobre o Otávio pro papai nem pra mamãe!

- Sob protestos! - Benê gritou.

MUITO BOM PRA SER PRA SEMPRE

PARTE IV

BOM DIA!

PAZ, BÊNÇÃOS E LUZ PARA TODOS

Velucy
Enviado por Velucy em 18/09/2018
Reeditado em 13/10/2018
Código do texto: T6452031
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