25 - Realidade e Sentimento - Filhos da Terra - final

Como ficam as vidas de milhões de jovens sem perspectivas de empregos dignos? Os pobres continuarão pobres e os ricos mais ricos? Até quando as políticas neoliberais se manterão hegemônicas? Quando será que a humanidade se dará conta da escassez dos recursos naturais? Como a periferia irá se organizar ou se desorganizar incontrolavelmente? Enforcaram Sadam e não encontraram as armas de destruição em massa. Arafat morreu, milhões de civis morreram bombardeados e a sede de sangue do vampiro imperialista aumenta. O latifúndio assassinou Chico Mendes, um "cabra marcado para morrer". A morte de Doris Stang chamou a atenção da mídia, comoveu juízes e o mesmo não acontece com inúmeros trabalhadores rurais anônimos que têm o mesmo destino; não merecem sequer nota de rodapé, não sensibilizam os três poderes. Nas favelas amontoam-se barracos: gente entre lixo e bichos. Em seu novo mandado, o presidente dará dois passos à frente?

Em meio às comemorações com a vitória esmagadora de Lula no segundo turno das eleições, Elói se convencera da dependência química da garota que um dia sonhara brilhar nas passarelas. Depois de alguns meses em que se encontravam com regularidade, percebeu o seu lento definhar. O corpo que usava como mercadoria de troca, não servia mais para o consumo. Era patético vê-la prometendo "satisfazer os seus desejos secretos". A certeza de que ela encontrava-se encrencada com traficantes, levou Elói a oferecer-lhe um local seguro, para fazer tratamento, mas ela se recusava sob a alegação de não poder ficar longe da filha, a negar ser usuária de drogas e que o dinheiro era para cobrir despesas com necessidades básicas. Dona Sônia pediu-lhe ajuda, pois Zenaide não ouvia ninguém da família, ficava agressiva. AT & M Construção Civil de Tenório e Marcelo crescia. Edileuza também pediu-lhe apoio, no sentido de conseguir uma clínica de recuperação, que eles arcariam com as despesas. - Seu papel, Elói - disse-lhe Marcelo - é o de convencê-la, pois tem ascensão sobre minha irmã. Elói prometeu, afinal tinha afeições pela família e pela garota. - Mas poderá chegar o momento em que terão de interná-la à revelia - dissera durante um almoço.

Quando Elói a viu pela primeira vez sangrando o nariz, ela estava em seu apartamento, numa noite chuvosa. Constatou, com tristeza, que Zenaide chegara ao fundo do poço. Não era a garota que um dia fora a mais linda do bairro. Não parecia ter a idade que tinha: vinte anos. Caminhava para o molambo. Elói teve piedade. Zenaide estava de dar pena. Cabelos desgrenhados, rosto amarrotado, esquálida e pálida, um zumbi. Declamou um verso:

"Não acabava, quando sua figura

Se nos mostra no ar, robusta e válida,

De disforme e grandíssima estatura,

O rosto carregado

A barba esquálida".

Se perguntava o que o levava em se envolver com pessoas transtornadas. Porque isso o atraía? Levou-a ao chuveiro, tirou-lhe a roupa e se assustou com a magreza. Zenaide era pele e osso. Colocou-a sentada em uma cadeira debaixo do chuveiro. Ensaboou-a dos pés à cabeça. Pela primeira vez a viu inteiramente nua e não gostou do que viu, mas via e pensava de como lidar com seus sentimentos. Pele e seios flácidos, sinais de feridas. Feridas que o fazia sofrer. No momento em que passava o sabão nos seios, Zenaide começou a cantar uma canção com voz fraca "não se apresse não, que nada é pra já, o amor não tem pressa, ele pode esperar..." Elói abraçou-a chorando, e perguntar, sem a ilusão de uma resposta. "Ah meu amorzinho, minha menina, porque tudo isso? Em que caminho nos perdemos?

Após enxugá-la com cuidado, levou-a para a cama. Ela adormeceu inteiramente nua sobre o lençol branco e tudo ele sentiu naquele momento foi um amor verdadeiro. Esse amor que ele carregava pelos transtornados, excluídos, miseráveis, viciados. Pelos desamparados. Deitou-se ao lado dela, cobriu-a com um cobertor macio. Acariciou seus seios, coxas. Dormiu acariciando-lhe os cabelos.

Uma semana depois eles se abraçavam na porta da clínica de recuperação de dependentes químicos e portadores de doença sexualmente transmissíveis.

Finalmente Zenaide aceitara o tratamento, com a promessa de mudar os rumos da vida.

Bem, o que vai acontecer de fato com Zenaide, cada um, cada uma, tire sua conclusão.

Rapidinho:

Filhos da Terra é uma novela dividida em vinte cinco capítulos. Narra a trajetória de Zenaide, uma ninfeta, que se envolve num mundo do sexo, droga e fúria. A história de uma garota da periferia; pobre, sensual, que sonha com o sucesso. Zenaide e sua família, num turbilhão de sentimentos. Um jornalista, como um anjo de guarda, surge em sua vida. Um amigo, um pai; um amor.

Capa: Berzé; Ilustrações do miolo: Eliana; editoração eletrônica: Fernando Estanislau; impressão: Editora O Lutador - 2009, primeira edição

Agradeço pela leitura e peço a quem encontrar algum erro de gramática ou digitação, por favor, me avise.

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#LulaLivre Doravante esta hashtag estará em minhas publicações enquanto não apresentarem as provas contra Lula