LEMBRANÇAS - cap. VIII

Gabriel mexeu com a mente de Vitória. Ela sabia que ele tinha sido a causa principal para não ir passar as férias com sua tia que muito a amava.

Ela lembrou de Mateus, quando tinha sete anos. A mãe deste ligou e pediu para que Vitória viesse passar o domingo com ela. Mateus era filho primogênito e único, como Vitória. A desculpa para passar o domingo era apenas uma escusa para que ambos brincassem.

Brincaram de esconde-esconde, de quem estourasse primeiro o balão e enchesse a maior quantia. Brincaram de pegadinha, de pega-pega, de casinha, de castelo de areia, etc.

Mateus era um menino simples, bonito e inocente. Mas, para surpresa de Vitória, foi surpreendida com um beijo no rosto, na salinha reservada de brinquedos. Ele a beijou e saiu correndo como quem corre do cerne da vergonha.

Ela ficou ali pensativa, quieta, em estado perplexo, sem saber ao certo se tinha gostado ou odiado tal atitude – frenética para um menino como ele. Ela correu para onde ele estava como se nada tivesse acontecido.

– Me desculpe pelo que fiz. Não devia ter feito. Estou com vergonha – disse ele, tão tímido e cabisbaixo, sem coragem de olhar para ela.

– Não, não foi nada, Mateus – disse-lhe ela – Vem aqui e me dá um abraço de desculpa.

Esse abraço lhe revigorou a coragem para continuarem a brincar como se nada estivesse acontecido. Comeram e derramaram pipocas no tapete. Sujaram-se com a terra do jardim e com a sujeira da grama pisoteada. Sujaram a piscina com os ciscos ao redor. Mexeram e pisotearam no teor da arte de brincar as brincadeiras infantis.

Mais tarde foi Vitória quem pediu para que Mateus a beijasse mais as suas lindas bochechas, porque ela gostara. Mas, bem na hora, os pais dela chegaram para lhe buscar.

Vitória, agora relembrava de Mateus com certa raiva, porque não aconteceu nada mais que aquele beijo tímido e um abraço acanhado. Para Vitória, Mateus não tinha atitude para prosseguir em algo mais. E isso, acrescentava a raiva dela. Ela pensava-o com desprezo porque sabia que alguém poderia ser bem melhor – de atitude mais consistente.

Gabriel invadira a sua mente:

“Será que ele perguntou alguma coisa para a sua irmã? Ela insistiu muito sobre seu irmão.”

Isso inquietava-lhe prazerosamente. Ela acordava, almoçava e jantava pensando nele:

“O que os dois conversaram sobre mim? Ah, Vanessa sabe muito sobre mim, deve ter contado um monte de coisas a respeito de mim para ele.”

Esses pensamentos lhe traziam para mais perto dela:

“Ah! ...ele é tão bonito. ...tem uma boca maravilhosa, com certeza ele beija bem melhor que o Mateus.”

Só de pensar em vê-lo, seu meigo coração ficava na mão:

“Preciso inventar alguma desculpa para ir em sua casa só para vê-lo. Ah, vou ligar para Vanessa e pedir para vir aqui e aí ela convence minha maínha para passar um dia inteiro com ela, com ela não, mas com eles... ou, que sabe, só com ele.

Do romance infanto juvenil VITORIANA: o início de tudo, de Hertrh Alessantrus.