[Romance LGBTQ+] AMOR DE PESO - 01X01 - MANAUS, NÓS CHEGAMOS!

Queridos Pai e Mãe.

Mais uma semana se passou, então isso quer dizer que estamos sabendo contornar essa situação. Temos grandes novidade, vamos nos mudar para o Amazonas. Eu não sei o que nos espera lá, mas sei que vocês vão estar conosco.

Sim, costumo escrever cartas para os meus pais mortos. Aprendi essa técnica na minha quarta psicóloga, a Doutora Ivana. Ela diz que isso deixa nossa mente mais tranquila, acho isso uma besteira, mas gosto de ter esse vínculo com eles. Naquela manhã, acordei cedo, mas não queria abrir levantar, o meu quarto estava completamente vazio, aquilo era sinal de mudança. Desci para o café e vi toda minha família reunida, quer dizer, quase toda, né?

Eu consiga ver o sorriso das pessoas, a alegria em seus olhos, sentia os abraços apertados dos meus parentes, mas para mim aquilo era parecido como uma execução. Mais uma vez, a minha tia resolveu se mudar. E eu não podia fazer nada. A não ser acompanhá-la nessa roubada. Tudo bem, eu entendo, eu era um pobre órfão vivendo as custas dela, então lógico para sustentar a mim e meus irmãos era necessário que ela arrumasse empregos que pagassem bem.

Eu já estava familiarizado com os aeroportos. A viagem até o Amazonas levaria pelo menos 10 horas. Quem viaja 10 horas? Provavelmente eu.

Tenho 16 anos. Sou gordinho, se considerar alguém com 100kg, gordinho. Sou branco e sem qualquer tipo de habilidade. Minha tia ficou preocupada comigo, depois da morte dos meus pais tive alguns surtos. Tenho dois irmãos, a Giovanna, 12 anos, e o Richard, 9 anos. Eles puxaram para os meus pais, eles eram lindos.

Prometi aos meus pais que cuidaria deles, então é o que eu faço há dois anos. Como a minha tia trabalha o dia todo, cabe a mim cuidar deles. Faço muitas coisas que os garotos da minha idade não sabem fazer, como lavar roupa, cozinhar, dar remédio para crianças, não que eu esteja reclamando, afinal no futuro que vem estar preparado sou euzinho.

Andamos até a sala de embarque do aeroporto. Richard correu na minha frente e tropeçou, tem algo de errado com esse menino, ele é muito hiperativo. Será que devo me preocupar? Acho que não. A Giovanna por outro lado é bem popular, chorou muito quando soube que iriamos mudar. Acho que não tenho nenhum traço deles em mim.

Olivia: - Vai ficar com essa cara de desânimo? (questionou minha tia me assustando).

Yuri: - O quê?

Olivia: - Qual o motivo para tanto desânimo?

Yuri: - Não estou desanimado tia... é que... pela terceira vez vamos nos mudar e....

Olivia: - Eu sei querido, mas nessa empresa nova vão pagar o triplo do valor que eu ganho aqui. Fora que o teu pai tem aquela propriedade em Manaus. Não vamos pagar aluguel. (pegando na minha cabeça)

Odeio quando ela faz isso. É tão infantil. Na verdade, eu odeio o contato humano como um todo. Isso é culpa da Jéssica Tavares que estudou comigo no maternal. Aquela vacazinha sem coração me beijou no meio da classe toda. Eu lembro disso. Foi a maior vergonha. Vai dizer que não lembra das coisas que fez quando tinha 4 anos? Eu lembro.

Giovanna: - Yuri. Tira uma foto minha aqui na frente do avião.

Yuri: - Quantas fotos você já tirou hoje?

Giovanna: - 394, mas quem tá contando?

Yuri: - Credo.

Olivia: (entregando remédios para Yuri) – Tome agora. Antes de subirmos.

Yuri: - Tia... não é necessário...

Giovanna: - Da última vez você mijou nas calças.

Richard: - Você vai fazer xixi de novo?

Olivia: - Ninguém vai fazer nada... (puxando a orelha de Richard). - Vamos amor, tome logo.

Yuri: (pegando o remédio para ansiedade)

Olivia: - Vamos crianças. (subindo as escadas do avião)

Aviões. Cruzes. Como essas coisas podem voar? Sempre tenho ataque de ansiedade quando viajo em aviões. Da última vez, a minha bexiga não ajudou muito e eu fiz o serviço ali na frente de todo mundo. Viajei o resto do percurso dentro do banheiro e permaneci lá por quatro horas. Fora que para as pessoas com o bumbum mais avantajado como eu, aquelas cadeiras são horríveis, ficamos apertados e o espaço entre as fileiras é mínimo. Malditas empresas capitalistas.

Sentei ao lado da janela e uma forte chuva começou a cair. Olhei para a minha tia, ela se debruçou entre as poltronas e baixou a cortina. 10 horas. 10 horas. Era quase o tempo que eu gastaria para ir aos Estados Unidos. Conhecia muito pouco o Amazonas, claro que não ao ponto de achar que na cidade só havia índios. Sou muito bom em História e Geografia, por sinal.

Havia atualizado meu MP3. Coloquei todas as bandas que eu gostava: Oasis, Coldplay, The Keane, Rediohead, ABBA, entre outros. Meu gosto musical era a única coisa que salvava em mim, pelo menos era o que eu achava. Por causa dos remédios, acabei dormindo e lembrei o dia do acidente.

Minha mãe me acordou de madrugada e pediu para eu tomar conta dos meus irmãos, porque o meu pai estava passando mal. Eles seguiram para o hospital, mas nunca chegaram lá. Era um dia chuvoso e um barranco caiu em cima do carro deles. Eu demorei muito para digerir tudo. E a minha tia mesmo com 24 anos assumiu a responsabilidade de nos criar. Ela era muito ligada com mamãe.

Olivia: - Thiago. Querido... acorde.... Chegamos.

Yuri: - Chegamos? Como assim? É impossível. Eu dormir por 10 horas?

Giovanna: - Dormiu. E babou toda a poltrona. Pelo menos não fez xixi. Tirei umas selfies, depois olha meu face. Hashtag sem noção. (rindo)

Richard: - Pessoal. Vamos. Quero ver os macacos, as araras. O meu amigo Thomas falou que vou morar em cima das árvores.

Olivia: - Querido. Calma. Não vamos morar em cima das árvores.

A aeromoça permitiu que fossemos para a área de desembarque. Estávamos cheios de malas, então fomos obrigados a esperar alguns minutos. Eram 15 no total. Até que o aeroporto era bem refrigerado. "Ahhh... o pessoal tava exagerando com o calor do Norte", pensei comigo mesmo. Pegamos carrinhos para carregar todas as malas e nos dirigimos para a porta do Aeroporto. Quando as portas se abriram senti apenas um leve vento quente que deixou meu rosto vermelho. "Puta merda", pensei em seguida.

Calor. A única coisa que eu pensava era em mergulhar numa piscina cheia de gelo. A minha tia alugou um carro no aeroporto e instalou o GPS. Ao entrarmos, a primeira coisa que fizemos foi ligar o ar-condicionado. Nunca vi tanto verde na minha vida. O caminho parecia uma floresta. Até que vi pela primeira vez o Rio Negro. O nome da praia era Ponta Negra. A minha tia parou um pouco, mas logo fomos embora, o sol estava forte e não estava ventando.

Demoramos para achar a nossa casa, o nome do bairro era Parque 10. Ficava perto de uma grande quadra de areia. No rádio começou a tocar uma das minhas músicas favoritas 'The Blower's Daughter', do Damien Rice.

Olhei para a direita. Eu o vi de reflexo. Ele era alto, cabelo baixo e estava praticando slackline. Haviam outros garotos com ele. Meu coração acelerou e o mundo parou por alguns minutos.

Yuri: - Uma delicia.

Olivia: - Uma delicia?! O que é delicioso?

Yuri: - Oi? Como assim? (assustado)

Olivia: - Você disse delicia.

Yuri: - Disse não.

Giovanna: - Disse sim. Eu ouvi.

Richard: - Eu também escutei.

Yuri: - Estava falando do clima. O clima é delicioso. (nervoso)

Giovanna: - Delicioso? Tem certeza que estamos na mesma cidade? Eu vi um vídeo no YouTube das pessoas fritando um ovo aqui.

Richard: - Todo mundo frita ovo.

Giovanna: - No chão! No asfalto. Tia podemos voltar para o Rio? A Lê, a Fabi, a Mô, estão mandando várias fotos. Quero voltar.

Olivia: - Não. Não podemos.

Giovanna: - Vou me emancipar. Volto para o Rio de Janeiro de qualquer jeito.

Yuri: - Olha. Alguém deu um deslike na tua foto.

Giovanna: - (pegando o celular) – Como assim? Onde?

Yuri: - Perdi de vista. (olhando para Olivia e piscando)

Olivia: - Valeu.

Finalmente chegamos na nossa casa. Era para ser o lugar dos nossos sonhos, mas havia algo errado. Ficamos parados na entrada durante dois minutos.

Yuri: - Tia. A senhora tem certeza?

Olivia: - Eu.... Ela.... É.....

Giovanna: (entrando no carro) – Eu só saio desse carro se for para ir ao Aeroporto. Que humilhação.

O meu pai alugava a casa, mas acho que nunca viu o estado em que a mesma se encontrava. A entrada cheio de mato, as paredes velhas descascadas, as

janelas de ferro totalmente enferrujadas. O lugar estava uma verdadeira bagunça.

Olivia: - Qual é gente. Não tá tão ruim assim....

Eu amava a minha tia, eu realmente amava, mas a positividade dela me dava nos nervos. Ela sempre conseguiu achar algo de positivo em tudo e em todos. Para uma advogada, ela deveria ser mais esperta. Mas essa não foi a pior parte. Do nada, eu disse "do nada". Caiu um temporal. Ficamos presos no carro por duas horas. Quando a chuva passou, a gente teve coragem de entrar na casa.

Yuri: - Isso vai levar um tempão para organizar. (abrindo a porta) – É. Vai levar muito tempo para organizar.

Richard: (entrando na casa todo animado) – Olha tia. Balões.

Olivia: (gritando e batendo na mão de Richard) – Larga isso.

Yuri: - Isso é uma camisinha?

Richard: - Tem várias no quintal.

Giovanna: - Onde vamos dormir?

Olivia: - Acho que hoje podemos dormir num hotel. Amanhã vamos comprar colchões e um ar-condicionado.

Giovanna: - Espero vocês no carro. (saindo da casa)

Yuri: (olhando em volta e respirando forte)

Olivia: - Ei. (pegando no ombro de Yuri) – A gente vai dar um jeito.

Quando sai para entrar no carro encontrei a turma que se divertia na quadra de areia. O meu Deus grego estava entre eles. Eles pareciam felizes juntos, mas como que eu chegaria perto deles? Eles pareciam ser intocáveis. Sabe, os populares dos populares?! São Eles. Acho que nunca chegariam ou ficariam amigos de alguém como eu.

Dormimos em um hotel perto do Teatro Amazonas. Achei aquele lugar lindo. No outro dia, a minha tia levantou cedo e foi às compras. Eu fiquei no hotel e levei meus irmãos para tomarem café. O Amazonas é um lugar muito gordo. Comi um sanduíche com queijo, banana frita e outras coisas. Eu estava em casa. Claro que eu não poderia exagerar, afinal eu já estava fora do meu peso ideal, mas aquilo realmente me chamou a atenção. Comi quatro.

Giovanna: - Estou satisfeita.

Yuri e Richard: - Já?!

Giovanna: - Ah. Espera. Me empresta teu sanduíche?

Yuri: - Você vai comer?

Giovanna: - (Tirando uma foto) – Claro que não, mas meus seguidores do Insta não precisam saber. (devolvendo o sanduíche) – Como é o nome disso mesmo?

Richard: - X-caboquinho. (rindo) – Nome engraçado.

Yuri: (celular tocando) – Alô? Sim. Estamos alimentados. Vamos arrumar as coisas no quarto. (desligando o celular) – A titia chega em 15 minutos. Vamos.

Lá fomos nós. Uma adulta, um adolescente e duas crianças para reformar uma casa gigante. Ela comprou tintas e material para pintar. Foi engraçado no início, mas o sol de Manaus, bem... você precisa vir aqui para saber como ele é forte.

Graças a Deus que assim como a temperatura é quente ao mesmo tempo é instável. E do nada começa a chover, nem preciso dizer que acabou com parte do nosso trabalho, mas aproveitamos a chuva para brincar. No rádio tocava a música do Oasis – Don't Look Back In Anger.

Apesar das nossas diferenças, que eram gritantes, a gente funcionava bem como uma família. Eu sabia que podia contar com eles para qualquer coisa. Até Giovanna que é toda fresca brincou conosco na chuva. Depois de um tempo, alguns móveis chegaram. Era uma TV, colchões e quatro spliters. Aquilo era a nossa mobília até o momento.

Resolvi explorar as redondezas. Mentira, a minha tia me obrigou a comprar lanche para nós. Andar em um lugar desconhecido é desesperador, uma rua errada e eu poderia me perder. De repente recebo uma pancada no rosto e tudo fica preto. Caiu no chão como uma mortadela gigante.

Zedu: - Você está bem? (levantando Yuri do chão com certa dificuldade)

Yuri: - O que aconteceu?

Letícia: - Jesus. Está tudo bem? Desculpa.

Yuri: - Estou bem.

Brutus: - Eu disse para você não chutar forte Letícia.

Letícia: - Já pedi desculpa Brutus.

Yuri: - Gente. Tá tudo bem. (andando)

Zedu: - Tem certeza? Posso te acompanhar. (pegando na mão de Yuri)

Era ele. O meu deus grego. Gente, ele era mais lindo de perto. Se fosse em outro universo e eu tivesse coragem para fazer qualquer coisa, pularia em cima dele e o lamberia como se fosse um picolé. E além de tudo, ele era gentil. Com certeza ele já tinha uma namorada. Que horror. Para de olhar para ele. Yuri. Para. Fala alguma coisa. Fala que está bem.

Yuri: - Estou ótimo. (saindo de perto de Zedu)

Vando: - Eita que uma bola bateu na outra. (rindo alto)

Letícia: (batendo em Vando) – Calaboca, idiota.

Zedu: - Babaca.

Vando: - Falei brincando. Eu hein. Desculpa aí irmão. (batendo no ombro de Yuri)

Yuri: - Relaxa.

Nossa que mico. O que o cara falou sobre mim não é nada comparado as coisas que já ouvi. "Rolha de poço", "baleia", "Bolha Assassina", "Gordão", "Gigante", são apelidos comuns para mim. Graças a Deus que eu podia contar com uma coisa: - Comida. Nossa. A comida me fazia esquecer de todos os problemas. Continuei o meu caminho e achei uma pequena padaria.

Helena: - Boa Tarde. Novo no bairro?

Yuri: - Sim. Mudei hoje.

Helena: - Espero que goste. Nossa panificadora está aqui há quase duas décadas, então precisando de pão.

Yuri: - Claro. Pode deixar.

Helena: - E o que você vai querer?

Yuri: - Sete pães, três salgados de queijo, três sonhos e quatro fatias de pizza.

Helena: - Nossa. Família grande né?

Yuri: - Sim. Demais.

Cheguei em casa e entreguei os pães para a minha tia e comi o resto. Sim. Podem julgar, não ligo, mas a comida me faz esquecer os problemas. É como se fosse uma droga. Uma droga deliciosa. Espero não encontrar o pessoal da rua por um bom tempo. Acho que eu virei motivo de chacota para todos.

A semana seguinte foi de adaptação, mas era impossível enfrentar aquele calor todo. A minha tia começou a trabalhar, então coube a mim cuidar de tudo. Os móveis novos chegaram também, a parte de montar foi a mais difícil, aqueles manuais de instrução são horríveis.

Giovanna: - A gente não deveria montar isso lá dentro? Estou derretendo.

Yuri: - Lá dentro a furadeira deixa tudo sujo. E para de chorar que estamos acabando.

Richard: - Giovanna. Posso colocar fogo no teu cabelo? (segurando um maçarico)

Giovanna: - Mete esse negócio no teu ....

Yuri: - Ei. (pegando o maçarico das mãos de Richard) – Já conversamos sobre você segurar esse tipo de material. (olhando para Giovanna) – Olha essa boca.

Meus irmãos tinham personalidades distintas, eu era o mais velho e tinha que dar o exemplo para eles. Nem sempre foi fácil, na verdade nunca foi fácil. A tia Olivia tenta, mas não é uma boa mãe. Ela não diz nada, mas muitas vezes sei como é estressante para ela. Cuidar de três crianças e ainda ter que trabalhar. Por isso, eu mesmo resolvia os problemas deles.

Zedu: - Oi. (encostado no muro)

Yuri: - Oi.

Giovanna: - Olá.

Richard: (brincando com a furadeira como se fosse arma)

Zedu: - Precisa de ajuda?

Yuri: - Nã...

Giovanna: - Precisamos sim. Por favor, monta a prateleira, ela vai ficar na sala, mas não faz muito barulho.... (entrando na casa)

Yuri: - Não liga para ela. Meio biruta a coitadinha. (levantando e limpando as mãos na bermuda) – E você. (tirando a furadeira das mãos de Richard)

– Você entra e vai tomar um banho.

Richard: - Posso levar o maçarico para o banheiro?

Yuri: - Só sobre o meu cadáver. Vai... agora!

Zedu: - (pulando o muro)

Yuri: - Poderia ter usado a porta, mas...

Zedu: - Ah desculpa. Nem me apresentei. Sou Zedu. (pegando na mão de Yuri)

Yuri: - Sou Yuri. Zedu. Nome diferente. Qual é a origem?

Zedu: - José Eduardo. Os amigos transformaram em Zedu.

Yuri: - Claro.

Giovanna: - (gritando)

Yuri e Zedu: (correndo pra dentro da casa)

Yuri: - O que foi?!

Giovanna: - O banheiro tá pegando fogo.

Yuri: - Richard!!!! (batendo na porta do banheiro)

Zedu: - Sai da frente. (chutando a porta e arrombando)

Yuri: - Porra. (tossindo)

Giovanna: - O Richard tá ai? Não estou vendo nada. (tossindo)

Yuri: - Deus. Richard. Richard. (tossindo e entrando no banheiro) – Droga. Zedu me ajuda aqui. (pegando o irmão desmaiado) – Giovanna pega uma mangueira pra apagar esse fogo.

O meu irmão teve a brilhante ideia de colocar fogo na cortina do banheiro. Precisei ligar para os bombeiros e solicitar uma ambulância. Graças a Deus nada demais aconteceu, o Richard apenas inalou muita fumaça e o banheiro não ficou tão queimado.

Minha tia chegou e ficou uma fera. O Zedu até tentou me ajudar, mas ouviu um belo sermão junto com a gente. Eu, o Zedu, a Giovanna e o Richard, sentados no sofá escutando tudo o que a minha tia tinha para falar. Foi um mico.

Olivia: - Eu deixo vocês sozinhos por cinco horas. E vocês me colocam fogo na casa?! (andando de um lado para o outro)[

Giovanna: - Tecnicamente foi no banheiro. E foi o Richard.

Yuri: - Tia... foi por dois minutos... eu não vi... e....

Olivia: - Você era o responsável Yuri. E se tivesse acontecido algo...

Yuri: - (levantando e gritando) – Não aconteceu tá!!! Eu não deixei nada acontecer!!! Se a gente estivesse no Rio nada disso teria acontecido. (saindo e fechando a porta do quarto com força)

Olivia: - (com a boca aberta e se recompondo) – Meu jovem. (pegando no ombro de Zedu) – Obrigado. Você já pode ir.

Zedu: - Fala pro Yuri que eu mandei um abraço. (saindo)

Richard: - Estou de castigo?

Giovanna: - Claro que está. Quase colocou fogo na casa.

Olivia: - Vai capinar todo o quintal e juntar todo o lixo que tá lá. Começa amanhã cedo.

No meu quarto me voltei mais uma vez para a comida. A minha tia não tinha o direito de me brigar na frente dos outros. Naquela casa eu era tão responsável quanto ela. Eu queria gritar, chorei muito no quarto. A comida era a minha única amiga.

Olivia: (batendo na porta)

Yuri: (escondendo os doces)

Olivia: - Posso entrar querido?

Yuri: - Pode tia. (limpando as migalhas da cama)

Olivia: - (sentando do lado de Yuri) – Desculpa amor. Mas imagina você está no trabalho e receber uma ligação dos bombeiros falando sobre um incêndio na sua casa.

Yuri: - Tudo bem tia. (Não, não estava)

Olivia: - Não, não está. Eu sei como você é cuidadoso com seus irmão, principalmente com o Richard.

Yuri: - Eu sei tia. Eu cuido. Foi um minuto e... (chorando)

Olivia: - Ei. Nada demais aconteceu. (abraçando Yuri)

Não muito longe dali, Zedu se encontrou com seus amigos. Eles se reuniam em um lanche, onde conversavam e matavam o tempo. Cinco pessoas faziam parte do grupo:

Zedu – Ele era a cabeça do grupo. Sempre bolava ideias para a diversão dos amigos. Seus gostos eram música, futebol e judo;

Brutus – Melhor amigo de Zedu. Bruno, também conhecido como Brutus era o musculoso do grupo, não muito inteligente, mas uma pessoa de bom coração.

Letícia – A bela do grupo, mas nem ouse dizer isso para ela. Ela é bonita, ótima em esportes e a moleca.

Ramona: - A zen do grupo. Sempre acompanhava seus amigos, mas não se arriscava em praticar esportes radicais.

Naquela altura do campeonato o incêndio era o motivo da conversa de toda vizinhança. Todos tentavam acertar o que de fato havia acontecido.

Letícia: - Vocês souberam que uma casa pegou fogo hoje?

Ramona: - Onde?

Brutus: - Qual?

Letícia: - De um pessoal novo que se mudou. Você soube Zedu?

Zedu: (tomando um suco e pensando)

Brutus: - Zedu? (estalando os dedos) – O cara tá no mundo da lua hoje. Geralmente esse é o papel da Ramona.

Letícia: - Cala boca. Idiota.

Zedu: - Oi. O que foi?

Romana: - Soube que pegou fogo na casa de uns vizinhos que se mudaram agora?

Zedu: - Foi um incêndio pequeno no banheiro. Nada demais.

Letícia: - Você estava lá?

Zedu: - Lembram do rapaz gordinho que você acertou a bola?

Letícia: - Sim.

Zedu: - É a casa dele.

Ramona: - Mas tá tudo bem?

Zedu: - Sim.

Letícia: (colocando a mão no rosto) – Credo. Lá vem o palhaço do Vando.

Ramona: - Cara chato.

Brutus: - Eu daria um murro nele, mas...

Letícia: - Defende teu amiguinho.

Vando: - Olha se não é o quarteto fantástico.

Letícia: - Se não é o sem noção. Gente, preciso ir. (saindo)

Ramona: - Brutus. Lembra que precisamos ir na casa da tua tia? Vamos.

Brutus: - Tá. (saindo com Ramona)

Zedu: (levantando) – Beleza moleque. (cumprimentando Vando) – Vou vazar também.

Vando: - Até depois.

Zedu: (saindo)

Vando: - Vão me pagar caro. (rindo)

Infelizmente, nem só de pessoas boas é feito o mundo. A minha ida para Manaus seria uma aventura sem precedentes. Descobria amores, amizades e desafetos. A primeira semana em Manaus está chegando ao fim. Depois da confusão no banheiro, a Tia Olívia redobrou o cuidado conosco. Ela cogitou até mesmo contratar uma babá. Claro que relutei e ela concordou.

Yuri: - Tia.

Olívia: - Oi? (olhando uma planilha)

Yuri: - Podemos ir no Centro da cidade? Estamos morfando aqui dentro.

Olívia: - Hoje a tarde.

Yuri: - Tudo bem.

Era um pouco tedioso, pois estávamos sem internet e TV a Cabo. Comecei a ouvir a música 'House of Cards', do Radiohead. Olhei para o lado e vi algumas coisas velhas nos fundos da casa. Decidi aproveitar uns móveis antigos que haviam e reformar para usar no meu quarto. Sempre fui bom com marcenaria e reformar coisas usadas. A minha tia sempre utilizava os meus dons de arrumar coisas. Decidi ir andando atrás de uma loja de material de construção, por um milagre de Deus o sol não estava mortal. No caminho encontrei Letícia.

Letícia: - Desculpa por acertar a bola em você.

Yuri: - Relaxa. Eu estou acostumado. Afinal sou um alvo muito grande para ser ignorado.

Letícia: - (riso abafado) – E você está indo comprar o que?

Yuri: - Pregos, tintas e alguns materiais para reformar uns móveis que o antigo dono da nossa casa deixou.

Letícia: - Ah bacana.

Yuri: - E você?

Letícia: - Vou para uma agência de modelos. Coisa da minha mãe. Ela gosta que eu tenha uma atividade fora jogar futebol com os meninos.

Yuri: - Legal. E você já fez algum trabalho?

Letícia: - Algumas sessões de foto e dois desfiles.

Yuri: - Olha. Parabéns. Espero que consiga muitos outros trabalhos.

Letícia: - Eu fico aqui. Essa é a parada do ônibus.

Yuri: - (rindo)

Letícia: - O que foi?

Yuri: - No Rio de Janeiro chamamos de Ponto. Aqui é parada.

Letícia: - (rindo) – Entendi. Ei. Hoje vamos nos reunir no Fred's.

Yuri: - Fred's?

Letícia: (apontando para o lado) – Aquela lanchonete vermelha.

Yuri: - Claro que horas?

Letícia: - Umas 19h. Vai lá. A galera vai se reunir.

Yuri: - Tudo bem.

Letícia era linda, mas um pouco rústica. Acho que para ela, arrumar um namorado não era tão complicado. Com treino e bastante prática ela se tornaria uma ótima modelo. Será que ela e o Zedu se pegavam? Porquê, eu estava pensando no Zedu? Ele também é um cara bonito e rústico. Uma pele bronzeada que me lembrava a dos garotos do Rio de Janeiro.

Voltei com as compras e para a minha surpresa o Zedu estava me esperando. "Tá, Yuri. Segura a onda". Na verdade, o meu desejo era pular naquele pescoço gostoso e devorá-lo sem piedade. Em seguida, volto para a realidade, porque o meu Deus grego chamava.

Zedu: - Vamos apagar qual incêndio hoje? (escorado no muro da casa de Yuri)

Yuri: - O incêndio no sol dessa cidade. Sério, Manaus deve ter um sol só pra ela. (abrindo a porta)

Zedu: - Na verdade é um sol para cada habitante. (rindo sozinho)

Yuri: (riso abafado)

Zedu: - Qual a missão de hoje?

Yuri: - Transformar essa mesa e esse armário embutido em coisas apresentáveis.

Zedu: - Vamos lá.

Passamos uma tarde agradável. O Zedu era muito prestativo. Um cara do bem e parecia bem diferente dos caras com o estilo dele. No Rio de Janeiro, por exemplo, alguém como o Zedu nunca se aproximaria de mim. A minha tia estava feliz, pois, eu havia conseguido um amigo.

Olívia: - Viu, Giovanna? O teu irmão já está fazendo amigos.

Giovanna: - Titia. Olhe para mim? Olha para as meninas dessa rua? Pelo amor de Deus. Tem uma diferença muito grande. Quando eu começar na escola nova....

Olívia: - Giovanna. Não vá fazer como na outra escola e....

Giovanna: - Titia. Não tenho culpa se a Michelle caiu da escada e quebrou o pé. Alguém tinha que ser a Rainha do Baile de Outono.

A minha irmã era, na verdade, um projeto de Abelha Rainha. Na escola, ela conseguiu desbancar as veteranas no cargo, mas acabou fazendo besteira e quase matou uma colega de classe. A situação ficou tão feia que quase rendeu um processo para a titia. A Giovanna foi a menina mais nova a prestar serviço comunitário no Brasil. Quer dizer....

Rio de Janeiro - Um ano antes

Giovanna: - Eu já disse que não vou pegar nessa sacola suja. Gabriel.... Junta pra mim.

Gabriel: - Eu não....

Giovanna: - Puxa. (se aproximando de Gabriel) – Eu estou tão cansada.

Gabriel: - Tá bom.

MANAUS – Dias atuais

Yuri: - Pronto. Acabamos. (sentando no chão)

Zedu: - (tirando a camisa) – Nossa. Tô imundo. Posso me molhar na mangueira?

Yuri: - Cla... cla....

Ele era perfeito. Filho da puta. Porquê fazer isso perto de mim? Na minha imaginação, eu pulava em cima dele e beijava cada parte perfeita daquele corpo. Chupava o pescoço, os mamilos e todo resto.

Zedu: (espirrando água em Yuri) – Você não vem?

Yuri: - Não... tá quase na hora de tomar banho, então....

Olívia: - Meninos eu trouxe....

Yuri: - (pensando – Não, tia. Lanche não. Deixa ele ir embora. Ele vai ficar perto de mim, sem camisa e todo molhado) - Lanche. Que bom tia. (sorriso forçado)

Olívia: - Não sei como vocês aguentam o calor dessa cidade. (deixando uma bandeja com pães e sucos no chão) – Ei. Vou sair e vou levar seus irmãos. Arrumem essa bagunça. Amanhã vamos no centro tá. Se você quiser José Ed....

Yuri: - Não tia. Ele não pode ir. Deve ter mais coisas para fazer e....

Zedu: - Eu adoraria.

Olívia: - Graças a Deus. Não sei andar aqui ainda e.... só um minutinho..... GIOVANNA!!!! RICHARD!!! ESTOU ATRASADA!!!!!!! Então, pois é.... eu não sei andar em nada.

Giovanna: (saindo de casa com um guarda-chuva) – Credo tia. Não estamos surdos. (entrando no carro e saindo) – Tá impossível de ficar nesse veículo. Essa cidade é um crime contra a chapinha!

Olivia: (entrando no carro e ligando o ar) – Já princesa. RICHARD!!! NÃO VOU CHAMAR DUAS VEZES!!!!

Zedu: (me olhando e rindo) – Ela grita alto hein.

Yuri: (pensando: Escroto. Você poderia ser apenas um pouco mais feio. Que sorriso) – Pois é. Você se acostuma. Nem tímpanos eu tenho mais.

Comemos o lanche e falei que os encontraria mais tarde na lanchonete. No quarto, os móveis ficaram lindos. Era realmente uma forma de desestressar. Colocar energia em alguma coisa. Fiquei imaginando aquele corpo do Zedu e infelizmente lembrei do meu. O meu corpo era ridículo. Mesmo se ele fosse gay, acho que nunca ficaria comigo.

Yuri: (olhando na frente do espelho com um semblante triste) – É. Vamos lá.

Procurei roupas que combinassem com a ocasião, mas pelo visto era difícil me agradar. A galera aparentava ser legal, pelo menos o Zedu e a Letícia eram. Queria causar uma boa impressão. Pela primeira vez eu tinha a chance de ter amigos reais, e não inventar amizades para alegrar a minha tia. Pelo menos algo de bom Manaus trouxe.

Cheguei pontualmente às 19h. Eles já estavam lá. Sentei e fiquei apenas observando, afinal o que mais pode-se fazer em um ambiente completamente novo? Eles eram legais, falaram coisas sobre a cidade, algumas informações úteis como ter cuidado com os motoqueiros. Não consegui uma conexão boa com o Brutus, ele é totalmente diferente de mim, bonito, mas burro.

Brutus: - E as gatinhas cariocas Yuri? Tinha muitas namoradas?

Zedu: - (jogando um papel em Brutus)

Brutus: - Eu quero saber oras.

Ramona: - Credo garoto. Só pensa nisso.

Letícia: - Não liga Yuri. Somos disfuncionais, mas funcionamos bem.

Ramona: - Falando em disfuncional, o meu aniversário é nessa semana agora e tenho uma ótima notícia.

Zedu: - Você ganhou na loteria?

Ramona: - Melhor. O meu pai vai nos levar para Presidente Figueiredo.

De repente aquilo virou uma comemoração coletiva. Fiquei no vácuo, mas depois eles explicaram que era uma cidade conhecida por suas belas cachoeiras.

Ramona: (pegando nas mãos de Yuri) – Vai ser perfeito para você conhecer um pouco mais do Amazonas. Você vai né?

Yuri: (pensando: não!) - Claro... quer dizer.... Vou falar com a minha tia.

Brutus: - Tenho certeza que ela vai deixar grandão.

Yuri: - Espero. Estou tão ansioso para conhecer mais daqui.

Droga. Eu ia para uma cachoeira, ou seja, as pessoas tomam banho na cachoeira com suas sungas e biquínis atraentes. Acho que a última vez que fiquei sem blusa na frente de alguém foi antes do acidente dos meus pais e eram meus primos. Falei com a minha tia com a certeza que ela não deixaria e para a minha surpresa.

Olívia: - Claro que deixo.

Yuri: - (pensando: merda) – Mas tia. Não quero preocupar a senhora. Se eu não puder ir prometo que vou entender.

Olívia: - O pai da tua amiga vai?

Yuri: - Sim.

Olívia: - Vou falar com ele.

Droga. Traidora. Eu ficaria sem camisa na frente do Zedu. E agora? O que eu vou fazer? Não posso. Será que eu consigo emagrecer 30 quilos em quatro dias? Para de viajar Yuri. Droga. Eu posso dizer para eles que sou evangélico e por causa da religião não posso ficar sem blusa.

Os dias passaram voando e em vez de fazer dieta eu comi dobrado. Estava nervoso. Não tive culpa. O dia da viagem chegou, minha tia fez um café reforçado e me levou ao ponto de encontro. A galera parecia muito feliz, eu pelo outro lado, queria morrer. O pai da Romana era legal. Um coroa bonito até, ele era divorciado e tinha o tempo livre para fazer os caprichos da filha.

Olívia: - Seu Walter. Obrigado por cuidar do meu sobrinho esse final de semana. (pegando na mão do pai de Ramona).

Walter: - De nada. Qualquer amigo da minha bebê é bem-vindo. Vamos lá? (batendo na kombi)

Minha primeira viagem no Amazonas. Será que encontraria algum animal selvagem? Ou algum índio? Estava muito nervoso, mas o principal era evitar ficar sem camisa na frente daquelas pessoas. Apesar de legais, todos, eu disse todos eram estranhos para mim. Ainda tinha um tempo para pensar em um plano. Paramos para tomar café em um restaurante muito bonito. Comi tapioca com queijo e banana frita. (Nota mental: lembrar de acrescentar leite condensado. Deve ficar mais gostoso ainda).

Walter: - Está gostando Yuri?

Yuri: - Sim. É um lugar adorável.

Ramona: - Você precisa ver as cachoeiras. Vai amar. São lindas.

Yuri: - Será que não é perigoso? Tipo... aparecer um animal... uma cobra... onça... jacaré?

Todos: (rindo juntos)

Yuri: (pensando: Putz. Falei besteira... ajeita isso... ajeita isso) – Estou brincando né gente.

Seguimos viagem. E finalmente chegamos em Presidente Figueiredo. No roteiro estavam cinco cachoeiras: Iracema, Pedra Furada, Onça, Santuário e Maroaga. Eu não sou o tipo de pessoa que gosta de me aventurar, por isso, depois que desci do carro passei protetor solar e bastante repelente. Fiquei mais branco do que eu já sou.

Senhor... como é quente dentro da floresta. Eu estava derretendo. Tive muitas dificuldades, mas quase solto um Puta que Pariu quando eu vejo um obstáculo. Era uma pedra gigante que alguém teve a ideia de escavar uma escada. Fiquei apreensivo ao passar.

Walter: - Pode vir Yuri. Quer ajuda?

Yuri: (pensando: Porquê eu não fiz mais dieta essa semana?) - Estou bem. (encolhendo a barriga e passando com dificuldade pela pedra) – Consegui.

(soltando um riso abafado)

Zedu: - Muito bem grandão. Só tira essa aranha do seu ombro.

Yuri: - (batendo no próprio ombro) – Credo. Odeio aranhas.

Brutus: - Tá quente pra caramba. (tirando a blusa)

Jesus. Que visão era aquela. Nunca havia reparado em como o Brutus é gostoso. Deve ser por causa da burrice dele que tira todo o charme. Dava para contar cada gominho e músculo daquele corpo. O 'meu' Zedu não ficava para trás, ele era menor que o Brutus, mas não significava que era menos bonito. O Brutus na verdade era gostoso e não bonito.

Letícia: (pegando na costa de Yuri) – Vamos?!

Yuri: (assustado) – Claro. Claro. (prosseguindo caminho)

Zedu e Brutus entraram na água primeiro. Caramba. Se eles secos já eram lindos, imaginem molhadinhos. Eu comeria os dois fácil, fácil, mas eles não davam nenhum sinal gay. Teria que me contentar em assistir tudo aquilo, mas a minha vida era assim. Eu não tinha um super corpo como o Brutus e nem a beleza do Zedu. Peguei meu livro, arrumei uma cadeira e fiquei lendo. As meninas foram em seguida.

Letícia: - Você não vem?

Yuri: - Daqui a pouco. É que meu corpo ainda tá quente.

Ramona: (passando correndo) – Letícia, a última que chegar na água é mulher do Brutus.

Letícia: (correndo atrás de Ramona) – Deus me livre!!!!

O lugar era realmente lindo, mas estava muito quente e a minha camisa estava ensopada de suor. Ainda bem que trouxe umas cinco na mochila. Era divertido ver o meu novo grupo de amigos, na verdade eles eram os primeiros. Nunca fui muito popular na escola, ainda mais quando eu mesmo me fechava para novas amizades. Minha tia se preocupava com esse meu lado que costumava me sabotar.

Zedu: - Ei, Rio de Janeiro? A gente não te trouxe lá de Manaus para você ficar sentado e lendo Paulo Coelho.

Yuri: - Estou indo. (falei deixando o livro na cadeira)

Zedu: - Você não vai tirar a blusa?

Yuri: (respirando fundo)

Zedu: - Você tá com vergonha? (rindo) – Para de ser assim. Olha. (apontando para frente) – Aquele homem deve ter uns 200 quilos e tirou a camisa na

boa. Você não deveria se importar com a opinião das pessoas.

Yuri: (falando baixo) – Você diz isso porque é gostoso.

Zedu: - Você disse algo?

Yuri: - Tá. (tirando a camiseta)

Zedu: (virando rápido e correndo) – Quem chegar por último é mulher do Brutus.

Yuri: (correndo) – Espera. (falando baixo) – Até que não seria uma má ideia.

Fiz algo que me arrependi muito. Pulei dentro da água de uma vez só. Puta que pariu!!!!!!! Pareciam mil facas furando o meu corpo. Como um lugar tão abafado pode ter uma água tão fria? Todos riram da minha reação. Mas em relação ao meu corpo não os vi olhando, só o Zedu, mas acho que foi por causa da nossa conversa, ele se afastou por um tempo de mim. Não entendi o motivo.

Ramona: - O que achou?

Yuri: - Lindo. Passar o aniversário num lugar desses deve ser maravilhoso.

Letícia: - Ano passado, a festa de 15 anos foi melhor. Ver o Brutus dançando com a Ramona foi impagável. Acho que ainda tenho o vídeo. Te mostro depois.

Yuri: - Você deve ficar uma graça de smoking Brutus.

Brutus: - Claro que fico meu senhor! (agradecendo a Yuri como estive em um espetáculo de Teatro)

Ramona: - Tão cortês.

Letícia: - Qual o problema do Zedu?

Brutus: - Cadê ele?

Letícia: - Ali. (apontando para frente)

Yuri: - Então meninas? Como vocês se conheceram?

Ramona: - Acho que sempre moramos no Parque 10... né?

Letícia: - Não. O Brutus chegou há dois anos. Eu a cinco. Só você e o Zedu que se conheciam. A nossa amizade surgiu no bairro mesmo. Eu fiquei primeiro amiga do Zedu e depois da Ramona. O Brutus e eu temos um caso de amor e ódio.

Yuri: - Que legal.

Ramona: - E seus amigos do Rio?

Yuri: - Não tinha muito amigos. Na verdade a gente viaja demais. Por causa do emprego da minha tia. E também por que eu sou praticamente a babá dos meus irmãos.

Letícia: - Deve ter sido difícil perder sua família, né?

Yuri: - É uma dor que não diminui. Mesmo morando longe de casa.

Brutus: - (jogando Zedu dentro d'água) – Trouxe o fugitivo.

Yuri, Letícia e Ramona: (rindo)

Wilson: - CRIANÇAS!!!!! VAMOS!!! AINDA TEMOS QUATRO CACHOEIRAS.

Ramona: - Esperem! (saindo da água e pegando a câmera) – Vamos tirar nossa selfie um. (entrando na água)

Brutus: (mostrando os músculos)

Ramona: (fazendo duque face e piscando)

Letícia: (perfil e arrumando os óculos escuros)

Zedu: (colocando os braços em volta de mim)

Yuri: (vermelho e com uma ereção)

A primeira selfie com amigos que tirei na vida. Não queria esquecer daquele momento, para a galera era apenas uma foto, mas para mim de alguma maneira era uma mudança, uma boa mudança. Seguimos para as outras cachoeiras, todas lindas. O Amazonas era realmente um lugar maravilhoso. Assistimos ao pôr do sol de cima de uma grande rocha. Parecia um sonho.

Ramona: - Yuri quando eu tiver sinal passa o teu facebook e....

Yuri: - Eu não tenho.

Ramona: - Não tem face? Tá bem. Passa o teu insta ou twitter.

Yuri: - Também não uso esses. Na verdade nenhuma rede social.

Brutus: - Nossa um desconectado. Quem diria.

Letícia: - Olha. Parabéns. Eu não conseguiria.

Ramona: - Puxa. Ia te passar as fotos de hoje.

Yuri: - Me passa que depois eu revelo.

Wilson: - Muito bem Yuri. Não deixe que essas tecnologias estraguem sua vida.

Paramos a 300 metros da minha casa. Ajudamos o pai da Ramona a tirar todas as coisas do kombi. Ele pagou uma pizza para todos nós. Ficamos conversando durante alguns minutos.

Ramona: - (entregando um papel e caneta para Yuri) – Passa o teu e-mail. Te encaminho as fotos hoje.

Yuri: - Obrigado. Obrigado a todos vocês o domingo foi incrível. (anotando no papel)

Segui caminho com Zedu, a casa dele era antes da minha. Fomos conversando sobre várias coisas, principalmente sobre minhas primeiras experiências com cachoeiras do Amazonas.

Yuri: - Quero te agradecer pelo conselho de hoje. É que pra mim ainda é difícil.

Zedu: - Não se preocupa. Somos amigos né?

Yuri: - Sim. Somos.

Zedu: (pegando no ombro de Yuri) – Firmeza. A gente se encontra amanhã?

Yuri: - Sim. Quero conhecer mais a cidade.

Zedu: - Vamos te levar no Teatro Amazonas.

Yuri: - Perfeito.

Zedu: - Tchau. (abrindo o portão de sua casa e entrando)

Comecei a caminhar em direção a minha cara. Faltavam poucos metros quando um motoqueiro chega perto de mim e canta pneu. Acelero o passo e o motoqueiro volta. E sobe na calçada e fica acelerando sem sair do lugar. Meu coração começou a palpitar e tive vontade de gritar.

Yuri: - (com as mãos para cima) – Leva o que você quiser, mas não me mate.

Uns garotos saíram de uma parte escura da rua, todos rindo alto. Um deles era Vando, um cara sem noção que morava nas redondezas. Ele estava filmando tudo.

Vando: - Pensei que um cara desse tamanho fosse mais valente. Olha quase fez xixi na calça.

Renato: - Eu pensei que ele fosse desmaiar.

Vando: - Precisa ser mais valente rolha de poço. (rindo alto e mostrando o vídeo para Yuri) – Olha. (rindo)

Yuri: - Idiota. (pegando minha mochila no chão e indo para casa)

Nilton: (chegando na moto) – E aí? O baleia se assustou?

Renato: - Quase mijou nas calças. Vai ser divertido ter mais um para brincar.

Vando: - Esse é meu, hein, já aviso logo. (colocando o vídeo para rodar mais uma vez) – Que imbecil. (rindo junto aos amigos)

Idiota. Babaca. Cara desprezível. Tudo de ruim que existe dentro de mim parecia querer sair. Cheguei em casa e o pessoal não estava. Abri um pacote de biscoito e fiz quatro sanduíches, a comida me confortava de algum jeito.

Era um alívio. Vou para o meu quarto, abro o computador e a Ramona havia mandado algumas fotos no meu e-mail. Selecionei algumas para imprimir. Fiquei admirando o Zedu por algum tempo, ele era realmente lindo. Dormi com o notebook em cima da cama.

Acordei cedo para preparar o café dos meus irmãos, o Richard é intolerante a lactose, então era preciso ter cuidado com a alimentação dele. Geralmente eram coisas mais naturais. A minha tia já se preocupava com tanta coisa, deixei essa responsabilidade para mim. Infelizmente, o Richard não cooperava, sempre que eu achava uma receita nova, ele praticamente cuspia na minha cara.

Richard: - Essa banana tá gostosa.

Yuri: - O que você aprontou?

Richard: - Nada....

Yuri: - O que você fez? (olhando bem nos olhos de Richard) – Quebrou algo? Matou algum animal inocente? Bateu em alguém? Envenenou a água do bairro?

Richard: - Não. Na verdade... eu queria ir lá na quadra do Parque. O Zedu disse que eles vão treinar lá.

Yuri: - Você? Perto de outras crianças? (riso alto) – Nem pensar. (balançando a cabeça negativamente)

Richard: - Qual é! Só hoje!

Giovanna: (entrando com uma toalha na cabeça e um roupão rosa choque) - O que houve?

Yuri: - Teu irmão quer jogar futebol.

Giovanna: - Nem pensar! Lembra o que aconteceu da última vez que a gente deixou ele praticar algum tipo de esporte?

RIO DE JANEIRO – MESES ANTES

Richard: (afogando um outro garoto na água) – Fala... fala de novo....

Treinador: (correndo) – Pelo amor de Deus. Richard... solta o Jorge!!!! Solta o Jorge!!!

MANAUS – ATUALMENTE

Yuri: - Pobre Jorge. Acho que a família dele até mudou de cidade.

Giovanna: - No dia seguinte.

Richard: - Eu vou!!!! (batendo com as duas mãos na mesa)

Yuri e Giovanna: (se olham assustados)

Yuri: - Tá bom. Mas a gente vai com você. E se você pensar em aprontar qualquer coisa... eu faço a titia te colocar 11 anos de castigo.

Giovanna: - E só vamos depois que eu secar meu cabelo e fizer minhas unhas. (saindo da cozinha)

Yuri: (olhando para Richard) – Você é do mal, garoto. (saindo da cozinha) – E não mexa no faqueiro!!!!

Escolhi uma bermuda e uma camiseta mais leve para usar naquela tarde. Pela primeira vez o calor de Manaus deu um tempo e não sofreria por causa da alta temperatura. Chegamos no Parque e a turma já estava lá, para a minha surpresa o Vando também. A Giovanna levou uma cadeira de praia e ficou lendo um livro. O Richard era o mais animado, logo pediu para experimentar o Slackline, um esporte onde se coloca uma fita elástica entre dois pontos e pode fazer manobras, fiquei preocupado, mas descobri que o Brutus e Zedu eram campeões da modalidade.

Zedu: - Quer experimentar, Yuri?

Yuri: - Acho melhor não!

Me imaginei subindo naquela corda e quebrando tudo. Era difícil para mim, com todo aquele peso praticar qualquer tipo de atividade física, na verdade a maior parte era preguiça mesmo.

Brutus: - Vamos lá. (me estendendo a mão) – Levanta daí e vamos experimentar.

Vando: - A corda vai é quebrar com tanto peso. (rindo)

Brutus: - Pirou Vando?

Zedu: - Se não quer ajudar, também não atrapalha. Ok.

Yuri: - Deixa quieto gente. Vou ver como a Giovanna tá. (saindo de perto dos meninos)

Richard: (pulando da corda em cima de Vando)

Vando: (caindo no chão) – Porra.

Richard: - Desculpa. Foi sem querer.

Graças a Deus que apesar de tudo, o meu irmão ficou comportado. Imaginei ele aprontando muitas coisas, mas ele ficou concentrado em aprender mais sobre como manter o equilíbrio. Depois de um tempo chegaram Ramona e Letícia, as duas também eram fera no slackline. Deram um show nos professores.

Zedu: - Elas aprenderam tudo o que a gente sabe. (sentando ao lado de Yuri)

Ramona: - É tão bom quando as alunas superam os mestres.

Letícia: (descendo da corda) - Ah gente. Hoje meus pais não estarão em casa. Vamos assistir a um filme?

Richard: - Eba. Quero assistir o Massacre da Foice Sangrenta parte 4 – Os comedores de tripas.

Todos: (olhando para Richard)

Vando: - Esse menino não é normal. (saindo)

Letícia: - Ainda bem que ele foi embora. (olhando para Richard) – E não. Esse filme não tem muito sangue.

Richard: - Eu desconfiava disso. A segunda parte é melhor. Tem aquela cena que o bebê recém-nascido arranca os olhos da mãe dele.

Letícia: - Adoro esse filme.

Yuri: - Oi?! Gente. Eu preciso levar eles pra casa. A minha tia deve tá chegando em casa.

Fiz a janta dos meus irmãos e avisei a minha tia que assistiria a um filme na casa da Letícia. Antes de sair fiquei preocupado com o Vando, mas a Letícia disse que ele era acostumado a fazer isso, tanto que era proibido de ir na casa dela.

Yuri: (batendo na porta) – Letícia?! Sou eu.

Leonardo: (abrindo a porta) – Olá?

Yuri: (paralisado e pensando: Que Deus grego é esse?!)

Leonardo: - Oi?

Yuri: - A... a .... Letícia está?

Leonardo: - Está sim. Pode entrar.

Leonardo era o irmão da Letícia que estava na faculdade. Ele era lindo. A beleza era de família. Ele era alto, branco, cabelo curto e um tanquinho que dava inveja em qualquer garoto. Ele me levou até o quarto de Letícia e era totalmente diferente dos quartos de meninas que já entrei. As cores eram neutras e haviam fotografias espalhadas em toda parede. A maioria era com a turma.

Yuri: (sentando na cama)

Letícia: (saindo do banheiro apenas de sutiã e calcinha) – Oi, amigo. Chegou cedo! Bom que me ajuda a preparar uns petiscos. Tem pipoca, pão de queijo e acho que farofa de calabresa. (colocando um short e uma blusa bem folgada) – Vamos.

Yuri: (sem graça) – Sim. Vamos.

Essas pessoas magras e bonitas são tão destemidas. Nunca que eu ficaria assim tão à vontade com pouca roupa. E por causa do calor da cidade, os magros podiam andar descamisados a qualquer momento do dia. Eu olhei para um grande espelho que havia na sala da casa de Letícia e me imaginei com muitos quilos a menos. Era um sonho impossível, ainda teria que trabalhar muitos problemas internos. Eu tinha consciência disso, mas não tinha coragem de começar.

Letícia: - Yuri. Coloca os sucos em jarras, por favor. Elas estão na prateleira amarela.

Yuri: - Claro.

- Campainha tocando -

Letícia: - Deixa eu ir atender por que o folgado do Leonardo não vai. (saindo)

Estava com dificuldades para pegar as jarras. De repente sinto alguém me pegando por trás. Era o Leonardo, na hora tenho uma ereção. Ele me ajudou a pegar as jarras, mas ficou um tempo extra se esfregando em mim. Eu não acreditava que aquilo realmente estava acontecendo. Infelizmente durou pouco. O Leonardo se afastou quando o pessoal entrou.

Yuri: (segurando as jarras) – O.... oi. Oi.

Ramona: - O que foi? Parece que viu um fantasma.

Zedu: - Oi?!

Brutos: - E aí gigante!

Ramona: - Trouxe umas bebidinhas que o papai estava guardando. (abrindo a bolsa e tirando várias garrafinhas)

Yuri: - (colocando o suco nas jarras) – Letícia. Coloco na geladeira?!

Letícia: - Sim. Vou ver os DVD's vocês podem fazer a pipoca?

Ramona: - Eu faço. É capaz desse povo queimar tudo.

Brutus: (pegando uma garrafa de wisky) – Vamos começar os trabalhos?

Zedu: - Um copo pequeno e você Yuri?

Yuri: - Ah... o mesmo que você. (saindo da cozinha) – Letícia?!

Letícia: (olhando vários DVDs na sala) – Oi?

Yuri: - Posso ir ao banheiro?!

Letícia: - Claro. É lá em cima. Primeira porta a direita.

Yuri: - Valeu. (subindo as escadas)

Era a primeira vez que eu beberia álcool. Estava nervoso, principalmente pelo que aconteceu antes com o irmão da Letícia. Entrei no banheiro e sentei no vaso. Respirei fundo e fui até a pia para lavar o meu rosto. Olhei no espelho e respirei fundo novamente. Ao sair do banheiro esbarrei com o Leonardo.

Leonardo: - Você é gostoso. Não sabia que minha irmã tinha amigos gordinhos. Eu me amarro em gordinhos. Qual sua idade?

Yuri: - 16... eu... eu tenho 16.

Leonardo: - Tenho 18. Não é muita diferença é? (pegando na minha mão e me levando para o seu quarto)

Ficamos nos beijando por um bom tempo. Eu não queria acreditar naquilo, o Leonardo, aquele Deus Grego, me beijando. Mas como dizem por aí, a alegria de pobre dura pouco.

Letícia: - Yuri!!!! Desce logo!!! Vamos começar.

Leonardo: - Acho melhor você ir. (colocando a bermuda) – Ei. Se você contar pra alguém, eu acabo com você.

E essa foi a minha primeira experiência homossexual. Me peguei com o irmão da minha amiga. E recebi uma ameaça também. Desci e todos já estavam sentados. Fiquei entre a Letícia e o Zedu. Brutus e Ramona ficaram nas almofadas colocadas no chão. Assistimos 'A noite dos mortos vivos', de 1967.

Brutus: - Mulher burra! Corre!!

Ramona: - Você sabe que isso é um filme né? E que ela não tá te ouvindo?

Zedu: (riso abafado)

Brutus: - Ela é burra de qualquer jeito.

Zedu: - Yuri. Quero me esticar. (pegando uma almofada e colocando no meu colo) – Vou deitar um pouco.

Yuri: - (Tendo uma ereção). Tá. Pode encostar sim, mas depois cobro R$ 10.

Zedu: - Valeu. Aceita cartão de crédito?! (rindo)

Letícia: (colocando a cabeça no ombro de Yuri) – Gente. Que horror. A filha comendo a própria mãe.

Brutus: - Quem mandou ser burra. Poderia ter escapado sem ser mordida. Foi abrir a porta.

Ramona: - Santo Deus. Gente é um filme.

Zedu: (olhando para Yuri)

Yuri: (olha para Zedu e sorri)

Zedu: (disfarça e olha para a televisão)

Depois que o filme terminou, Ramona trouxe as bebidas e colocou em copos totalmente errados para a ocasião. A gente bebeu bastante, a primeira vez que ingeri álcool na vida. Fiquei um pouco zonzo e decidi parar. Ficamos conversando e cada um foi para sua casa.

No dia seguinte, acordei com uma forte dor de cabeça e tomei um remédio para aliviar. Fiz o café dos meus irmãos e voltei a dormir. Acordei para fazer o almoço e dormi novamente. Além de dores, a bebida também me deixava mais sonolento. Sonhei que fazia sexo com o Leonardo. Acordei melado.

Yuri: - Que droga. (indo até o banheiro e tirando a cueca) – Vou ter que lavar você agora. Se a titia pegar isso. Estou morto.

A titia estava trabalhando muito. Na empresa, ela precisava lhe dar com pessoas muitos influentes, então sempre estava preocupada com alguma coisa. A firma pagava e bem, mas ela decidiu dar uma notícia nada agradável para nós naquela noite.

Olivia: - Meus amores. Quero conversar com vocês. Sentem aqui

Giovanna:- Vamos voltar para o Rio de Janeiro? (toda alegre)

Olivia: - Infelizmente não. É algo sobre o ano letivo que vai começar em poucas semanas.

Yuri: - A senhora já escolheu a escola? Eu vi alguns panfletos e existem algumas ótimas, como o La Salle, Martha Falcão, Latu Sensu e Santa Doroteia. São bem localizadas e oferecem uma grade de atividades melhor que as das outras escolas.

Giovanna: - Tendo balé e coral podem me colocar em qualquer uma das três.

Richard: - Quero fazer capoeira!!!! (levantando os braços)

Olivia, Giovanna e Yuri: - Não!!!

Richard: - Tá bom. Escolha qualquer uma então.

Olivia: - Então, como vocês sabem... esse é um ano atípico para nós. Novo emprego e uma cidade onde não conhecemos nada. Estou tendo gastos além do esperado, como comprar novos moveis, por exemplo, e também teve o carro... a gente precisa se locomover de alguma forma....

Giovanna: - Titia... onde a senhora quer chegar com esse discurso?

Olivia: - Conversei com os pais dos amiguinhos de vocês... e eles me indicaram a escola onde eles estudam e....

Giovanna: - Tá... qual delas? La Salle? Latu Senso? Martha Falcão?

Olivia: - É uma escola pública.... (fechando os olhos)

Yuri, Giovanna e Richard: (olham).

Olivia: - Então?

Giovanna: - A senhora ficou maluca?! Nunca estudei em uma escola pública. (levantando e andando de um lado para o outro) – A minha vida está arruinada. Escola pública?

Yuri: - Gio. (pegando nos ombros da irmã) – Se acalma.

Giovanna: (chorando) – Me acalmar?! Me acalmar?! O mundo está desabando sobre a minha cabeça e você pede para eu me acalmar?!!! E o dinheiro dos nossos pais? (virando para Olivia)

Olivia: - São para os gastos com a faculdade.

Giovanna: - Vou entrar em uma universidade federal e se eu estudar em escola pública nunca vou conseguir. Quero estudar em uma escola particular. Não sou obrigada a ficar no mesmo lugar que pessoas comuns. Titia, eu fui a melhor da classe em todas as matérias, eu faço balé e canto coral. Eu preciso disso. Eu preciso!!!!! (saindo da cozinha)

Yuri: - Ok. Foi menos pior do que eu imaginei.

Giovanna: (voltando) – Você!!! (empurrando Yuri) – Sabia desde o início né? Concordou com a maluquice dela!

Yuri: - Giovanna chega! Não fale nada que vá se arrepender.

Giovanna: - Quer saber... façam o que vocês quiserem. É apenas o meu futuro que está em jogo. (saindo da cozinha pela segunda vez)

Olivia: - (com as mãos nos ouvidos)

Giovanna: (Bate a porta do quarto com força)

Olivia: - Foi melhor que a reação de quando ela soube da mudança para o Amazonas.

Yuri: (olhando para Richard) – E você? Não vai fazer nada?!

Richard: - (sorriso malandro)

Yuri: - É com esse menino que devemos ficar preocupados. Talvez ele comece uma gangue na escola.

Olivia: - Será que fiz a coisa certa?

Yuri: (abraçando a tia) – Ei. A senhora faz as melhores decisões do mundo. A Giovanna vai esquecer. Ela é uma pré-adolescente. Qual reação a senhora esperava?

Olivia: - Valeu por ficar do meu lado. Sei que isso não te agradou também.

Yuri: - Tia. Não gostei, mas não sou burro. Sei que vivemos em um momento de crise e as coisas não são mais como eram antes. Vou sobreviver.

Encontrei meus amigos, nossa falei amigos? É tão legal fazer parte de uma turma. Ainda estou me localizando e eles contam histórias antigas que eu fico sem entender. Um dia teremos nossas próprias histórias para rir. Eles me levaram para conhecer o Teatro Amazonas. Um lugar completamente encantador, mas para a minha surpresa o único que conhecia o teatro era o Brutus.

Brutus: - Eu também sou cultura.

Letícia: - É realmente encantador. Imagina. (sentando na poltrona que estava localizada na entrada) – Aquelas madames de época. (cruzando as pernas)

Yuri: - Você ia ficar linda em um belo vestido.

Zedu: - E a gente de smoking. Nesse calor dos infernos. (fazendo reverência para Letícia)

Ramona: - Olhem esses detalhes. Quanto trabalho que tudo isso deu? (pegando o celular) – Vamos tirar uma selfie. Venham. (tirando várias fotos)

Depois ficamos em uma praça que integra o espaço do Teatro Amazonas, o Largo de São Sebastião. Pedimos pizza e ficamos conversando sobre vários assuntos paralelos. Eles fizeram perguntas sobre a minha vida e eu questionei eles também. Descobri que a Letícia já quebrou um braço, o Zedu odeia dormir no escuro, a Ramona é fã da turma da Mônica e o Brutus sabe tocar piano.

Yuri: - Gente. E sobre a escola de vocês? Falem um pouco sobre lá.

Zedu: - Ela é bem perto daqui. Você tá a fim de passar pela frente?

Nossa. O nome da escola era Dom Pedro 2 e ficava em frente a uma bela praça. O prédio era imponente lembrava algumas escolas lá do Rio de Janeiro. Havia uma quadra bem ao lado e parecia um pouco velha, mas de acordo com a turma era considerada uma das melhores escolas. Eu consegui uma vaga graças ao pai da Ramona, mas precisei fazer uma avaliação. Claro que passei. Os assuntos já havia revisado na escola antiga.

Cheguei em casa e havia começado a terceira guerra mundial. Minha tia não aguentou a teimosia de Giovanna e elas brigaram.

Olivia: - Eu não sei mais o que fazer....

Yuri: - Tia. Eu estava pensando. Eu estou no segundo ano e a gente sabe que é mais caro. Podemos pesquisar escolas mais baratas para os meus irmãos. Eu faço isso.

Giovanna: (sentada na escada ouvindo a conversa)

Olivia: - Yuri. (abraçando o sobrinho) - Você lembra tanto os seus pais.

Yuri: - Sei que o orçamento vai continuar apertado, mas podemos dar um jeito. Eu ainda tenho um dinheiro guardado. Posso ajudar nas despesas da casa e....

Olivia: – Não amor. Você não precisa se preocupar a esse ponto. Vamos ficar bem. Vou ver uma escola para....

Yuri: - Eu já vi. (entregando um papel para a tia) – Essa escola é muito boa e o valor não é tão caro. Se a senhora quiser mexer na minha parte do dinheiro.

Olivia: - Infelizmente. Vou precisar mexer, mas reponho aos poucos.

Yuri: - Vou marcar uma reunião amanhã e peço pro Zedu me levar lá. Vai dar tudo certo. Vou ver como está a fera indomável.

Giovanna: (subindo as escadas e entrando no quarto)

A Tia Olivia estava tentando, eu percebia, mas, ao mesmo tempo, era visível que ela não parecia bem. Acho que ela precisava de um namorado ou amigos pelo menos. Era apenas do trabalho para casa. Torcia para que ela conquistasse também sorte no amor. O trabalho da minha tia ficava razoavelmente próximo de casa. Ela era advogada de uma grande empresa.

Carlos: - Boa tarde, Olivia? (entregando alguns papéis)

Olivia: - Olá, Carlos?

Carlos: - Então... hoje vamos ter um happy hour após o expediente. Quer ir?

Olivia: - Não sei. Meus sobrinhos estão em casa e....

Carlos: - Eles não podem ficar com a mãe deles?

Olivia: - Ela faleceu. (com cara de poucos amigos)

Carlos: (com cara de idiota) – Er... nossa... eu.... Desculpa. (saindo)

Olivia: (tirando os óculos e rindo) – Ele nunca vai querer nada quando eu contar que sou 'mãe' de três crianças.

Sim. Infelizmente a minha tia estava gostando de alguém, mas nós eramos um empecilho para suas conquistas pessoais. Ela em nenhum momento se questionou sobre suas atitudes. Simplesmente nos abraçou como filhos. Por isso, sempre tentava apaziguar qualquer discussão entre ela e meus irmãos.

Olivia: - (olhando a foto da família de Yuri) – Meu irmão. (chorando) – Estou tentando, eu juro. Eles são tão especiais. Será que eu dou conta? Será?

Dhiego Ramos
Enviado por Dhiego Ramos em 25/07/2019
Reeditado em 25/07/2019
Código do texto: T6703864
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.